Restos de Colecção: Ao Ultimo Figurino

30 de junho de 2024

Ao Ultimo Figurino

A loja de modas "Ao Último Figurino", terá aberto as suas portas pela primeira vez entre 1912 e 1914, na Rua Garrett, 20-24, em Lisboa, tendo sido seu fundador António Gonçalves Marques. Nos anos seguintes a loja seria ampliada ao nº 26, tomando as sobrelojas e andares superiores. Vinha substituir a famosa casa "Carlos Augusto Magiolo" que já existia em 1863 ...




«Na esquina de cima foi, durante muito tempo, a Casa Magiolo, que negociava em café, chá, brinquedos, etc. As portas da Calçada do Sacramento e a primeira do Chiado davam para a secção de chá, café e  outros generos. As duas restantes serviam a secção de brinquedos e quinquilharias. As duas tinham communicação interior. A fina roda de Lisboa frequentava a casa d'este estrangeiro, que foi um dos introdutores em Portugal do brinquedo artistico.
Hoje n'essa loja fica O Ultimo Figurino que é uma das mais reputadas casas de modas da capital. Os seus proprietarios escrupulisam em lançar no mercado os melhores modelos que as grandes modistas lá de fóra criam. Por isso fazem sucessivas e repetidas viagens ao estrangeiro, sendo as suas amplas montras aquellas que mais se destacam pela riqueza com que estão sempre armadas e ornamentadas. O Ultimo Figurino conta hoje entre as suas clientes muitas das mais elegantes senhoras da alta roda alfacinha.» in: "A Capital" de 17 de Julho de 1916.


"Magiolo & Magiolo" na esquina da Rua Garrett com a Calçada do Sacramento


1863


No "Almanak Palhares" de 1909


Outra foto da "Magiolo & Magiolo", na esquina da Rua Garrett com a Calçada do Sacramento

"Casa Magiolo" (no canto inferior direito da foto) ainda presente no Carnaval de 1910

O mesmo jornal "A Capital", em 5 de Junho do mesmo ano de 1916, dava conta de uma inovação:

«O "Ultimo Figurino" envia representantes ás cidades do paiz.

Já lá vae longe o tempo em que Lisboa tinha, por assim dizer, o exclusivo das manifestações de progresso social. Presentemente, além do Porto, muitas outras cidades procuram pôr-se ao lado da capital, rodeando a vida das suas populações com o conforto, a belleza e o chic, que, durante annos, eram como que o previlegio da Rainha do Tejo. Hoje, Santarem, Coimbra, Vizeu, Evora, Faro, e tantas outras terras de provincia apresentam uma elite que nada tem que invejar á de Lisboa. (...) O esmero da toilette chega por vezes a ser alli mais refinado do que na propria capital. AS principaes familias d'essas cidades vestem ou directamente de Paris ou conseguidos dos ateliers de Lisboa a execução dos seus vestidos. Está n'estes casos o Ultimo Figurino que, entre a sua elegante clientella, conta bom numero de senhoras das principaes cidades do paiz.
A essas senhoras vae 'A Capital' fornecer uma agradavel informação, recebida agora mesmo do proprietario d'esse acreditado estabelecimento. A'manhã, representantes do Ultimo Figurino partem ao encontro das suas clientes, evitando-lhe suma viagem forçada a Lisboa, para o que levam o mais completo sortimento de vestidos e toilettes da estação e, ao memso tempo, uma collecção espantosa de blusas.
Antonio Marques, que nos dá conta da innovação que o seu estabelecimento introduziu no mercado, annuncia-nos que o seu representante, com o mais perfeito conhecimentos do metier deve depois de ámanhã tocar a sua primeira étape na cidade de Coimbra.»


Duas vistas nocturnas, em épocas diferentes



2 de Março de 1914


30 de Dezembro de 1942


18 de Fevereiro de 1943


"Ao Último Figurino" à direita na foto, podendo-se avistar atrás do sinaleiro a famosa "Casa Pereira"

Tinha como vizinha, a famosa loja "A Pompadour" . Nas primeiras décadas da sua existência ainda teve a loja de cutelarias finas, a "Sheffield House" como vizinha (entre "A Pompadour" e "Ao Último Figurino"), mas  que viria a ser tomada aquando da ampliação das suas instalações de "Ao Último Figurino".


1943


"A Pompadour" e a "Sheffield House"


1947

Mas em 8 de Novembro de 1923 era inaugurada em Coimbra uma loja denominada "Ultimo Figurino", que nada tinha a ver com a "Ao Ultimo Figurino" de Lisboa, e onde «o Sr. Alfredo Coroado e o Sr. Fausto ajudavam a comprar vestuário da moda ou a escolher uma gravata de seda» in: blog "Visto de Dentro". A propósito, o jornal "Gazeta de Coimbra", de 10 de Outubro noticiava:

«Coimbra continua a ser dotada com honrosos e importantes estabelecimentos, sem duvida uma notavel afirmação do seu progresso.
Foi ante-ontem inaugurado que honra de sobremaneira esta cidade, pois no genero pode rivalisar com qualquer casa de Lisboa e Porto.
Denomina-se este novo estabelecimento de modas Ultimo Figurino, o qual se encontar montado com todos os requisitos de luxo e nas condições indespensaveis para estabelecimentos desta natureza. (...)
Ultimo Figurino foi instalado na rua Ferreira Borges, em frente do Arco de Almedina, sendo propriedade da mesma firma.»
Mas o tailleur era de Lisboa ... «(...) é um dos estabelecimentos que faz honra á cidade em disposição e arranjo internos, como, tambem, nos tarbalhos apresentados em publico, executados nos seus ateliers, a cargo do afamado tailleur A. Pinto, de Lisboa ...» (17 de Novembro de 1923)


"Ultimo Figurino", em Coimbra


"Gazeta de Coimbra" de 3 de Novembro de 1923

Ainda antes do incêndio do Chiado de 25 de Agosto de 1988, a "Ao Ultimo Figurino" tinha mudado de donominação para "Galerias Novo Figurino". A Calçada do Sacramento que a separava do quarteirão da "Antiga Casa José Alexandre" salvou-a do incêndio, não tendo sido atingida pelo mesmo. 

Segundo informação gentilmente prestada por Marina Tavares Dias, a "Ao Último Figurino" fechou em definitivo, em 1990.


Nos dias seguintes ao incêndio do Chiado de 25 de Agosto de 1988

1 comentário:

Valdemar Silva disse...

Na esquina do "O Último Figurino", nos anos 1961 a 1964, era paragem diária obrigatória durante algum tempo, até chegar a hora da entrada na Veiga Beirão, no Largo do Carmo.
Obrigado pelas imagens.
Valdemar Silva