Restos de Colecção: "Chat Noir" - Café Concerto

31 de dezembro de 2023

"Chat Noir" - Café Concerto

O café-concerto, brasserie française, e café-teatro "Chat Noir", abriu no início de 1893, na Rua do Alecrim, 23 em Lisboa. Era seu proprietário um francês de apelido Vuatelet. Foi uma « ... casa francesa onde se fizeram grandes pândegas com mulheres.»

"Chat Noir" com a sua tabuleta, à esquerda na foto (no rectângulo a vermelho)


Na revista "António Maria" de 23 de Fevereiro de 1893


No extremo sul do prédio ao lado do carro branco, onde está a tabuleta era o entrada do "Chat Noir"

Em 18 de Novembro de 1881 era inaugurado o que viria a ser considerado o mais importante de todos os cabarets da história, génese do cabaret moderno: "Le Chat Noir". Fundado por Rodolphe Salis (1851-1897) no bairro boémio de Montmartre, em Paris, era um estabelecimento totalmente intimista e informal, ocupando pouco mais de 150 m2. Comportava aproximadamente cinquenta pessoas, que bebiam, fumavam e conversavam, enquanto assistiam a uma série de apresentações artísticas, apresentadas pelos próprios artistas do local, frequentemente acompanhadas ao piano. Era o que se chamava um "café-concerto".


Rodolphe Salis (1851-1897)


Exterior e interior do "Chat Noir em Montmartre - Paris


«Morto Salis, a cerveja e o espirito da rue Victor Massé nunca mais tiveram o sabor que então tinham. E o Chat Noir começou a decahir. Demoliram-lhe as tradições; agora estão a demolir-lhe a casa. Tout passe!» in: revista "Serões" de 2 de Agosto de 1905.

Seria no "Chat Noir" parisiense que em 9 de Agosto de 1889, teria lugar uma homenagem a Raphael Bordallo Pinheiro (1846-1905), numa em soirée oferecida por Rodolphe Salis, fundador e proprietário deste cabaret.

Na revista "Arte Musical" de 15 de Junho de 1907, a propósito dos "Chat Noir" francês e português pode-se ler:

«Ha em Paris um cabaret, que quasi todos os estrangeiros visitam e que se chama o Chat Noir. Nada tem que vêr com o seu defunto (?) homonymo de Lisboa, a não ser por, n'um e n'outro, correr a cerveja a jorros... ; e mesmo assim pode muito bem dar-se que os taes jorros, na lojeca da rua do Alecrim, não passem d'uma figura rethorica um pouco descabellada. (...)
No theatro do Chat Noir o espectaculo é, como se pode suppôr, leve e despretencioso, mas não descamba nas vergonhas artisticas que por cá temos presenciado em tentativas similares.»


Na revista "António Maria" de 15 de Abril de 1893


6 de Agosto de 1893


Na revista "António Maria" de 26 de Agosto de 1893


17 de Março 1894

«Ha uns trinta annos, pouco mais ou menos, havia dois cafés na rua do Alecrim: o café de Paris, defronte do actual Chat Noir, pertencente ao José Maria, que morreu corretor do hotel Alliance, e o café do Hoffmann, n'um primeiro andar junto ao Arco Pequeno.»

Três referências ao "Chat Noir":

Em 1899, no livro "Lisboa d'Outros Tempos" de Pinto de Carvalho (Tinop):

«Ha uns trinta annos, pouco mais ou menos, havia dois cafés na rua do Alecrim: o café de Paris, defronte do actual Chat Noir, pertencente ao José Maria, que morreu corretor do hotel Alliance, e o café do Hoffmann, n'um primeiro andar junto ao Arco Pequeno.»

Na revista "A Paródia" de 11 de Fevereiro de 1904:

«A sogra do Conselheiro Falhado invectiva seu genro por motivos de privação domestica, que trazem inconsolavel sua pobre filha.
-O senhor é um perfido ! O senhor é um estroina! O senhor, na sua edade e na sua posição, não devia sair de casa á noite!,
- Mas ... ,
- Aqui não ha mas; nem meio mas! Deixe-se de forças ! O senhor gasta tudo quanto tem com as pecoras do Chat noir e depois volta para casa sem trazer sequer com que occorrer aqui ás primeiras e mais sagradas necessidades ... »


Ambos os anúncios num programa do "Theatro Nacional D. Maria II" de 5 de Maio de 1894


«O único meio para aprender françês gratuitamente é ir todas as noites ao Chat Noir».


11 de Abril de 1897

No livro "Almas Femininas" de Maria O'Neill, de 1917 ...

«- São vulgares, mesmo nos homens mais sérios, estas verduras loucas, proprias dos poucos annos. A's vezes acompanham-nos durante toda a vida; mas o mais natural é pôrem-nas ode parte ao encarar a existencia pelo lado sério e pratico.
- E é esse o caso de Jorge?
- Assim o creio. Tinha uma d'essas ligações passageiras com uma hespanhola elegante e graciosa, que encontrou n'um café que ahi ha, chamado o Chat Noir. Ella cançou-se de o aturar e deixou-o.»


1900


Última referência que encontrei ao "Chat Noir", em 1904

O "Chat Noir" encerraria em 1905 e seria substituído, em 1940, pelo "Restaurante e Bar Alemão" e em 1943, já era o "Alecrim Bar".




Janeiro de 1943

Entretanto em 25 de Outubro de 1913, tinha surgido o seguinte artigo na revista "A Construção Moderna e as Artes do Metal":



A seguir imagem de Dezembro de 2020, retirada do Google Maps, do exterior do nº 23 da Rua do Alecrim, onde esteve instalado o "Chat Noir".


Nota: Muito brevemente publicarei outro artigo, já editado, acerca da história do "Caffé-Concerto" inaugurado em 26 de Dezembro de 1857, no Largo da Abegoaria (actual Largo Rafael Bordallo Pinheiro), ao Chiado, em Lisboa. O mesmo artigo incluirá a história do "Casino Lisbonense" que veio substituir o "Caffé-Concerto" em 6 de Novembro de 1864. 

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de Lisboa, Le Chat Noir Restaurant

4 comentários:

Rui Figueiredo disse...

Grato pelo rigor e utilidade habituais. Permito-me apenas acrescentar que aí funcionou posteriormente, durante décadas, um restaurante designado "Cervejaria Alemã" que foi por vários anos a minha cantina em Lisboa

José Leite disse...

Antes do anúncio do Alecrim Bar, está referida, em texto, a existência da "Cervejaria Alemã", como poderá verificar.
Grato pelo seu comentário e lembrança.
Bom ano de 2024
Cumprimentos
José Leite

Anónimo disse...

Obrigado por mais um belíssimo artigo. Penso que haverá um "gato", já que se fala do Chat Noir, quando refere que o estabelecimento parisiense tinha apenas 15m2 para 50 pessoas. A foto mais abaixo terá uma área bem superior.
Tem tido uma grande produção ultimamente e eu, regular leitor do seu blogue, só lhe posso agradcer.
Cumprimentos.
Gonçalo

José Leite disse...

Realmente, havia um "gato"! Faltava um zero à direita. 150 m2.
Grato pela sua chamada de atenção e palavras.
Amanhã publicarei outro. A recentemente (em Dezembro passado) encerrada "Barbearia Campos".
Cumprimentos
José Leite