Em 1945, era constituída a empresa "Sociedade de Empreitadas Moniz da Maia, Duarte & Vaz Guedes, Lda." por dois engenheiros civis, Bernardo Ernesto Moniz da Maia (1900-1988) e José de Queiroz Vaz Guedes (1902-?), para serem autorizados a participar no concurso público para a construção da "Barragem de Castelo do Bode", no rio Zêzere, e que viriam a vencer. As obras tiveram início em Março de 1946.
Instalações da "Construções Metalomecânicas Mague, S.A.R.L.", em Alverca do Ribatejo
Paulatinamente a "Sociedade de Empreitadas Moniz da Maia, Duarte & Vaz Guedes, Lda." adquire uma posição destacada na construção de barragens em Portugal: Alto Ceira (1949), Cabril (1954), Arade (1955) e a barragem do Limpopo (1966), em Moçambique. Desde então, a empresa não parou de crescer, tendo-se tornado um marco fundamental no sector das obras públicas em Portugal - construiu a doca seca "Alfredo da Silva" da "Lisnave", outra na "Setenave", fez as obras do Porto de Aveiro e o terminal de carvão do Porto de Sines.
1956
O volume de obras em carteira e a quantidade de equipamento utilizado, suscitaram nesta empresa o lançamento de instalações bem apetrechadas, capazes de prestar uma assistência eficaz ao seu equipamento mecânico. Com o objectivo de aproveitar o equipamento existente, transformaram o seu estaleiro de reparações numa metalomecânica pesada que fabricava turbinas hidráulicas, turbo-grupos para centrais térmicas e aparelhos de elevação e movimentação, em colaboração com a empresa suíça "Brown, Boweri & Cie". Em poucos anos, a "Mague" impôs-se como uma das maiores empresas de metalomecânica portuguesas, tendo como única concorrente a empresa estatal "Sorefame - Sociedades Reunidas de Fabricações Matálicas, Lda.". Assim surgiu, em 1952, a "Mague - Sociedade de Empreitadas Moniz da Maia & Vaz Guedes, Lda." .
A expansão verificada no sector de obras públicas exigia avultados investimentos no sector de equipamentos, o que constituía uma circunstância favorável ao lançamento de uma actividade metalomecânica.
Em 1957 e depois de ter lançado a produção de aparelhos de elevação. o campo de acção foi alargado aos equipamentos de produção de energia. a começar pela fabricação de turbinas hidráulicas, o que permitiu um melhor aproveitamento dos recursos e a conquista de novos mercados.
Maquinagem de corpo de turbina
Em 1958 é constituída como sociedade independente, com o capital social de 600.000 contos, tendo as comparticipações estrangeiras de 24.000 contos de "A. B. Bofors Nohab" e de 122.338 contos da "Société Anonyme Brown Boveri & Cie".
Como consequência desta expansão, em 1959 a oficina nascida como apoio da "Sociedade de Empreitadas Moniz da Maia & Vaz Guedes, Lda." ganhou estatuto de independência, transformando-se em "Construções Metalo-Mecânicas Mague, Lda.".
Nesse mesmo ano, iniciou-se a produção de caldeiras e de grupos turbo-alternadores e respectivos auxiliares para centrais eléctricas. Foi a partir desta época que os principal sectores de actividade, «Equipamentos de Movimentação» e «Equipamentos de Produção de Energia», orientaram o crescimento da empresa, sempre dirigido por uma política de maior grau de independência. Prepararam-se e organizaram-se sectores comerciais e gabinete de estudo, de forma a garantir a indispensável vitalidade na procura de trabalho e o domínio do cálculo e do projecto, isto é, da realização a partir de ideias próprias.
Alhetagem de tubos
A década de sessenta foi caracterizada por um constante desenvolvimento. Os equipamentos de movimentação começaram a tornar-se conhecidos no estrangeiro e as máquinas produzidas nas oficina da Mague a espalhar-se por vários pontos do mundo. O prestígio internacional começou a ser uma realidade. Os equipamentos de produção de energia. continuaram a ser produzidos para satisfazer necessidades ligadas ao programa nacional e para corresponder às solicitações da exportação, que vinham a consolidar-se ao longo dos anos, através, sobretudo. da associada "Brown, Boveri & CIE.", com equipamentos fornecidos para vários países, mas sobretudo os Estados Unidos da América, com destino a centrais nucleares.
Merecem aqui referencia especial os conjuntos de porta-alhetas e mantos das turbinas de baixa pressão fornecidos para as centrais de Amos III. AEP grupos III a VI, e Tenessee Valley Authority grupos X 14 e 15, e X17 a 22, todos de 1300 MW.
Manto externo para turbinas de baixa pressão
Entretanto, em Março de 1964, a empresa "Construções Metalo-Mecânicas Mague, Lda.". transforma-se numa sociedade anónima de responsabilidade, passando a designar-se: "Construções Metalomecânicas Mague, S.A.R.L."
De tal forma o crescimento se fez sentir que, no fim dos anos sessenta, já se constatava a saturação da área das instalações de Alverca, decidindo-se nos primeiros anos da década de setenta a expansão da Mague para Setúbal, novo polo de desenvolvimento industrial do país. Optou-se pela construção da nova unidade fabril à beira de água e decidiu-se dotá-la de meios de fabricação e movimentação poderosos e instalações de expedição por via fluvial e marítima. A primeira fase do projecto começou a tornar corpo em 1974 e em 1976 as novas instalações entraram em laboração.
Montagem de turbina "Francis" de 80.000 cv.
De seguida, publico três imagens, de 1968 e referentes ao mesmo tipo de guindaste de 100 toneladas, fabricado pela "Mague", retiradas do interessantíssimo blog "O Grupo CUF - Elementos para a sua História", de Ricardo Ferreira.
1968
Em 1982, a fábrica da Mague de Alverca ocupava, um terreno de 130.000 m2, sendo 44.000 m2 de área coberta e 11.000 m2 de parques ao ar livre, com meios próprios de movimentação. Dispunha de vários pavilhões, destacando-se um de 3.800 m2 reequipado com todos os meios de preparação, maquinagem, soldadura e movimentação de tubos para produção de painéis tubulares dos geradores de vapor; outro de cerca de 2.000 m2 reservados à produção de serpentinas para geradores de vapor, dispondo de meios específicos de tratamento e dobragem de tubos e de instalações de montagem, soldaduras e controlo dos conjuntos tubulares; e ainda outro pavilhão com cerca de 1.100 m2, preparado e equipado para montagem em fábrica de turbinas a vapor.
Em Outubro de 1982, o conselho de administração da "Mague", era presidido pelo Eng." Bernardo Ernesto Moniz da Maia, tendo como executivos o engº Guedes da Silva e o Dr. Nunes de Almeida, além da participação do eng.º João de Queiroz Vaz Guedes, eng.º Silva Pinto, João Manuel Saturnino Moniz da Maia e engº A. J. Kellersberger em representação da BBC (Brown Boveri Company).
Nesta época a actividade da Mague concentrava-se basicamente nos domínios dos "Equipamentos de Produção de Energia" e dos "Equipamentos de Movimentação". Relativamente aos primeiros, a actividade da empresa continuaria a ser dominada pela realização de equipamentos termoeléctricos decorrentes do Acordo de Energia. Relativamente aos "Equipamentos de Movimentação", a crise de construção naval, na altura, e a extensão insuficiente do mercado interno, tornaram indispensável a selecção de um domínio de reconversão dentro das tecnologias e vocação da empresa, e que apresentasse boas perspectivas na exportação. Reúne essas condições condições o campo das movimentações contínuas de materiais, que se esperava vir a ganhar expressão significativa na actividade da empresa.
Grua flutuante e respectivo anúncio publicitário de Julho de 1970
Em 1983, a Mague empregava cerca de 2700 pessoas, das quais 180 tinham cursos de Engenharia ou eram licenciados e diplomados com idêntico nível.
As oficinas da Mague encontravam-se ampla e modernamente equipadas, tendo em vista garantir uma produção eficiente e de alto nível de qualidade. Alguns equipamentos com que estavam apetrechadas tinham porte gigantesco, o que se relacionava quer com a dimensão de algumas obras executadas, quer com previsões futuras próximas. Era o caso de uma mandriladora com 16 metros de curso horizontal e 6,5 metros de curso vertical, e de um torno paralelo para maquinagem de veios com 20 metros entre pontos e capacidade até 200 toneladas.
1973
A fábrica de Setúbal, situada na Mitrena, ocupa um terreno com a área de 330.000 m2 no estuário do rio Sado, tendo a área útil ocupada na primeira fase de 160.000 m2, com uma área coberta de 10.000 m2 e um parque de montagens com 23.000 m2. Em 1982 entrou ao serviço o pavilhão de caldeiraria e mecânica pesadas, com 3.000 m2 de área coberta e 24 m de altura de elevação, especialmente destinado à produção de caldeiraria maquinada pesada das centrais termoeléctricas e à montagem em fábrica de aparelhos de elevação.
As oficinas de Setúbal dispunham de poderoso equipamento, do qual se destacava: uma área de fabrico de grandes dimensões munida de meios de movimentação poderosos, na altura 250 toneladas, prevendo-se a sua elevação para 500 toneladas; um cais de embarque permitindo a expedição por via marítima ou fluvial de equipamento muito pesado e de dimensões anormais; uma instalação para montagem e ensaio de alternadores de grande potência, permitindo a produção de máquinas até 1300 MW.
Soldadura de tubos a placas tubulares em pré-aquecedores de alta pressão
No campo da centrais térmicas, a participação da Mague teve início no princípio da década de 60 do século XX, com o fornecimento de alguns componentes para as centrais de Lourenço Marques II da Sonefe, e Tapada do Outeiro I I. Seguiu-se a Central Termoeléctrica do Carregado, com o fornecimento das caldeiras e dos grupos turbo-alternadores para os dois primeiros escalões de 125MW, em que a parcela nacional dos fabricos já tinha ultrapassado os 50%.
Guindastes "Mague" na "Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos", em 1973
Em 1983 a Mague dentre as várias obras em curso de execução, merece uma referência especial a da Central Térmica de Sines, - primeira central a carvão do país - cuja realização envolveu, relativamente a obras anteriores, requisitos tecnológicos qualitativa e quantitativamente muito superiores, que obrigaram a mobilizar meio humanos e materiais que constituiram importante e inestimável capital tecnológico do país. O contrato cobria o equipamento principal da central, constituído pelas caldeiras e grupos turbo-alternadores de 300 MW cada um, com os respectivos auxiliares. A participação nacional, feita através da Mague e dos seus sub-fornecedores, ultrapassaria 70% do valor do contrato, estando a cargo da Mague o projecto integral e fabricação das caldeiras com uma capacidade de 950 t/h de produçao de vapor, o projecto parcial do posto de condensação e pré-aquecimento a fabricação quase integral do lote dos turbo-grupos, sob licença "Brown Boveri", e a montagem no local, de todo o equipamento. Por se tratar da primeira central a carvão este trabalho levou a Mague a dominar novas tecnologias específicas deste tipo de combustível.
Pórtico para 300 toneladas na "Doca Alfredo da Silva" e Guindastes, ambos fabrico "Mague", em 1973
Em pleno "Verão quente" de 1975 (Agosto)
A "Mague" controlava, em 1983, um grupo de firmas que empregava cerca de 4.200 trabalhadores, ocupando uma área total de 470.000 m2, sendo 100.000 m2 de área coberta: "SEPSA - Sociedade de Construções Electromecânicas, S.A.R.L." com a divisão de máquinas eléctricas (alternadores térmicos e hidráulicos e motores eléctricos de grande potência) e a divisão de metalomecânicas para indústrias de base (cimentos, químicas, petroquímicas, siderúrgicas, etc.); "SERMAGUE" para estruturas metálicas industriais (postes metálicos para transporte de energia eléctrica e tubagens e reservatórios sob pressão); "INDUPLANO" para projectos de arquitectura, construção civil, estruturas, electrotécnica e mecânica.
Folheto promocional de 1971
Em 1983 a Mague dentre as várias obras em curso de execução, merece uma referência especial a da Central Térmica de Sines, - primeira central a carvão do país - cuja realização envolveu, relativamente a obras anteriores, requisitos tecnológicos qualitativa e quantitativamente muito superiores, que obrigaram a mobilizar meio humanos e materiais que constituíram importante e inestimável capital tecnológico do país. O contrato cobria o equipamento principal da central, constituído pelas caldeiras e grupos turbo-alternadores de 300 MW cada um, com os respectivos auxiliares. A participação nacional, feita através da Mague e dos seus sub-fornecedores, ultrapassaria 70% do valor do contrato, estando a cargo da Mague o projecto integral e fabricação das caldeiras com uma capacidade de 950 t/h de produçao de vapor, o projecto parcial do posto de condensação e pré-aquecimento a fabricação quase integral do lote dos turbo-grupos, sob licença "Brown Boveri", e a montagem no local, de todo o equipamento. Por se tratar da primeira central a carvão este trabalho levou a Mague a dominar novas tecnologias específicas deste tipo de combustível.
No final da década de 80 do século XX, foi adquirida pelo Grupo ABB AG, - resultante da fusão, em 1988, da sueca "Asea" e a suíça "Brown, Boveri & Cie.", mas acabaria por encerrar definitivamente, já em 1994, depois da Mague, no ano anterior, se ter integrado no "Grupo Senete S.A." (Sistemas de Energia, Transporte e Equipamentos), juntamente com a "Sorefame" e a "ABB AG", como empresa de equipamento de movimentação. Depois dos seus terrenos terem sido comprados pela construtora "Obriverca - Construções e Projectos, S.A." em 1998, no ano seguinte foi construída a "Urbanização da Malvarosa".
Em 14 de Abril de 2018, foi inaugurado um memorial que assinala o papel da indústria metalomecânica "Construções Metalomecânicas Mague, S.A.R.L." na vida social e económica da região, por iniciativa e sugestão de antigos funcionários da empresa que a Câmara de Vila Franca de Xira concretizou num ponto central da "Urbanização da Malvarosa".
4 comentários:
Mais uma vez, muito parabéns pelo artigo, que está fantástico!
Parabéns, também, pelo blogue, um dos mais interessantes que sigo e do qual gosto muito.
Neste artigo julgo que existe um erro logo no início, repetido duas vezes.
Quando escreve sobre um dos fundadores, José de Queiroz Vaz Guedes, faz referência às suas datas de nascimento e de falecimento (1902-2016). Penso que uma destas datas deve estar mal, a não ser que o senhor tenha falecido com 114 anos.
Os meus cumprimentos e desejos de que continue por muito tempo com este blogue magnífico!
Muito grato pelas suas palavras e pela chamada de atenção.
Realmente não sei como aconteceu esse erro, mas é um facto.
O que eu andei para descobrir os anos de falecimento dos dois fundadores, e enganei-me a digitar num deles.
Foi a data de nascimento que errei! Não 1902 mas sim 1938.
Muito grato e os meus cumprimentos
Olá amigo José Leite, é mesmo disto que eu gosto, é (foi) a minha área. Saudades da metalomecânica e da arte de trabalhar o aço.
Ao ler o comentário anterior observo que continua com um erro na data de nascimento do sr. Vaz Guedes, sendo assim o sr. fundou a Mague com 7 anos.
Parabéns, saúde.
Caro Luciano Canelas
Grande confusão, com as pressas ...
O problema foi ao pai e o filho terem quase o mesmo nome. José de Queiroz Vaz Guedes. Mas o pai tinha mais o "Maria do Carmo", ou seja José Maria do Carmo de Queiroz Vaz Guedes nas cido em 1902 e data de falecimento desconhecida.
Eu tinha inicialmente colocado (1902-?) correctamente quando fiz o artigo, mas ao fazer uma busca pela data de falecimento , fi-la só pelo nome do filho e não do pai. Alterei ambos os anos de nascimento e morte ... Daí a confusão.
A verdade, finalmente está reposta.
Os meus cumprimentos
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