Em Setembro de 1932 , Salvador Sá Nogueira, Administrador Geral do Porto de Lisboa, expunha a Duarte Pacheco, Ministro das Obras Públicas e Comunicações, a necessidade e urgência de se dotar o porto de Lisboa, de instalações condignas ao serviço de passageiros e, em Novembro do mesmo ano a AGPL - "Administração Geral do Porto de Lisboa" apresentava ao ministro os ante-projectos de duas gares a construir em Alcântara e na Rocha do Conde de Óbidos. A estimativa para o custo total, compreendendo cerca de 750 contos (3.750 € x coef. de actualização 174,44) para a construção de uma pequena estação ferroviária, rondaria cerca de 5.000 contos (25.000 € x coef. de actualização 174,44).
Cais da Rocha do Conde de Óbidos em 1904
Um posto de desinfecção foi aqui criado nos finais do século XIX, tendo assim terminado a situação de navios fundeados a meio do rio Tejo, impedidos de atracar sempre que havia suspeita de epidemia a bordo.
Primeira ponte de acesso ao cais da Rocha em 1906
O voto unânime do "CSOP - Conselho Superior de Obras Públicas" reprovou este ante-projecto das duas gares lançado pela AGPL ainda em 1932. A urgência inadiável ia para a construção de uma gare marítima central, a implantar nos terrenos situados entre Santos e o Terreiro do Paço e próximos à já existente Estação do Cais do Sodré (inaugurada em 1928). Em Fevereiro de 1933, Duarte Pacheco reconhecendo a necessidade da existência da gare central n no Cais do Sodré considera imprescindível a construção da gare de Alcântara, e até ao final desse mesmo ano concorda com a proposta de Salvador Sá Nogueira para a construção da terceira gare na Rocha do Conde de Óbidos.
Cais do Sodré em 1867 com o "Grand Hotel Central" Cais do Sodré em 1877
Depois de abandonado o projecto para a gare central no Cais do Sodré por motivos geotécnicos (terrenos movediços) e de complexidade de engenharia e custos, os projectos para as duas gares encomendados ao arquitecto Porfírio Pardal Monteiro em 1934, só seriam finalizados em 1936 . Estes projectos ficariam «na gaveta» até Março de 1938 altura em que o Presidente do Conselho Dr. Oliveira Salazar, traçaria como linha prioritária a construção de pelo menos uma gare a estar concluída para as celebrações do duplo centenário em 1940.
Local da implantação futura da Gare. Posto de desinfecção e cais acostável
A primeira a ser concluída foi a "Gare Marítima de Alcântara" a 7 de Julho de 1943. Em 19 de Junho de 1948 seria inaugurada no extremo oposto (nascente) do cais, a "Gare Marítima da Rocha Conde de Óbidos", como atrás referido, também projecto do arquitecto Porfírio Pardal Monteiro e com pinturas, também, de José de Almada Negreiros no seu interior.
Relembro que o projecto comtemplava também uma galeria colocada à altura do primeiro piso, com a largura de 11 metros e numa extensão de 1 quilómetro, que uniria a "Gare Marítima de Alcântara" à "Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos". Deste modo conseguir-se-ia «uma grande estação constituída por dois postos de embarque e desembarque» que foi abandonado por questões orçamentais.
Interior da Gare
A "Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos" passou a ser a gare exclusiva da "CCN - Companhia Colonial de Navegação", como se pode observar na foto seguinte de 4 de Julho de 1952 na qual se identificam os paquetes "Pátria", "Vera Cruz", e no interior da doca o paquete "Serpa Pinto".
Como a gare de Alcântara, também a gare da Rocha do Conde de Óbidos, dispõe de dois pisos, sendo a distribuição de funções e serviços idênticas à sua congénere, e a decoração e disposição interiores em tudo idênticas. Contudo nesta gare, além de um bar, a gare foi contemplada com um restaurante com capacidade para 100 pessoas. O edifício apresentava um comprimento total de 130 metros com uma área de 2.300 metros quadrados, ocupando uma área portuária de 8.000 metros quadrados.
Esta Gare foi muito utilizada para o embarque de tropas portuguesas para o Ultramar durante a guerra colonial, como a foto a seguir documenta.
Embarque de tropas no paquete "Império" da CCN em 1970
Tal como a "Gare Marítima de Alcântara" os interiores desta foram, também, enriquecidos como pinturas de Almada Negreiros. Os painéis encontram-se no segundo piso, com temáticas sobre trabalhos marítimos e portuários, homens e mulheres fortes, quer na faina, quer no lazer: varinas, burguesia, emigração e povo comum, todos estão ali representados; o desenho é cubista à moda de Picasso.
Fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca Digital, Blogue dos Navios e do Mar
Sem comentários:
Enviar um comentário