Foi em plena II Guerra Mundial que em Portugal se lançou, finalmente, passadas longas décadas de impasse e debate atávico, reflectidos numa inércia persistentemente inibidora do desenvolvimento do País, um programa de electrificação nacional.
Com a promulgação da Lei n.º 2002, da Electrificação do País, de Dezembro de 1944, estabeleceram-se os princípios da produção, transporte e distribuição de energia eléctrica, consagrando a centralização da produção e a preferência pela «hidro-electricidade», assumindo o projecto da electrificação como um empreendimento da responsabilidade do Estado. Em breve o processo de electrificação do País foi efectivamente posto em marcha.
A concessão à “Companhia Hidro-Eléctrica do Zêzere” foi outorgada em Dezembro de 1945. O projecto da barragem é do mesmo ano e o início da sua construção é em 1946, na sequência da ordem do, então, primeiro-ministro Dr. Oliveira Salazar em construir na bacia do rio Zêzere 3 barragens, Castelo do Bode, Cabril (1954) e Bouçã (1955). A sua construção fica entregue à recém-criada empresa "Sociedade de Empreitadas Moniz da Maia, Duarte & Vaz Guedes, Lda.", que tinha vencido o respectivo concurso público.
Projectos
Maquetas
O nome de Castelo do Bode surgiu, pelo que dizem, quando alguns engenheiros que estavam a realizar o estudo da bacia, se chegaram a uma pedra que tinha um castelo e uma cabeça de um bode desenhada, e começaram a pedir opiniões sobre a denominação da barragem, tendo ficado o que a pedra sugeriu. Duzentas mil oliveiras para não ficarem submergidas na grande albufeira foram transplantadas e três povoações foram expropriadas.
Várias fases de construção da barragem
Considerada a obra do século XX em Portugal, na altura, a Barragem de Castelo do Bode, no concelho de Tomar, distrito de Santarém, foi inaugurada no dia 21 de Janeiro de 1951,com a presença do primeiro-ministro Dr. Oliveira Salazar, o Presidente da República Marechal Óscar Carmona o Cardeal Patriarca de Lisboa D. Gonçalves Cerejeira, e membros do governo após uma viagem de comboio desde a estação de Entre-Campos, em Lisboa.
Barragem de Castelo do Bode, em 1951
Sala de comandos da central de Castelo do Bode, em 1951
Comportas do descarregador da barragem
«Dizem que Portugal é um país de milagres, quando quer e quando pode. Esta obra colossal tinha o prazo, fixado pelo Governo no contrato de oito anos. Pois concluiu-se em cinco anos e um mês! Dela disse os chefes dos peritos da OECE, organização na Europa do Plano Marshall, o engenheiro Samuel Noville, que a visitou há meses:
- Considero esta obra admirável pela sua grandeza e perfeita realização e merece o respeito de toda a Europa e da própria América. Sobre os processos de construção ela só é comparável ao que de melhor se tem feito nos Estados Unidos.» in: Diário de Lisboa
1951
No ano de 1949, inicia-se o transporte da roda polar do primeiro gerador destinada à Barragem do Castelo de Bode. Pesando 70 toneladas e com nove metros de diâmetro, este transporte exigiu a encomenda de uma viatura de oito eixos e 20 metros de comprimento.
O camion atravessando a ponte de Santa Clara, em Coimbra
Após a inauguração desta barragem, a Central Tejo foi substituída pela Barragem de Castelo do Bode na produção de energia para a cidade de Lisboa, retirando assim uma central muito poluente, com o combustível utilizado a ser o carvão, do panorama nacional. O abastecimento de água à grande Lisboa só viria a ser realizado posteriormente.
Tomada de água para abastecimento de Lisboa
Nesta altura já Castelo do Bode estava equipada com um bairro residencial, um bairro operário, um hotel para os técnicos, uma pousada, uma capela, escola, posto telefónico, jardins, socalcos de horto, estradas novas, novas pontes e passagens.
Bairro operário
Com uma bacia de 3.950 quilómetros quadrados de área e uma capacidade de albufeira de 1.070 milhões de metros cúbicos no seu comprimentos de 59 quilómetros, tem uma potência instalada de 159.000 kW, produzindo 396,5 GWh, mais do que produziam todas as centrais eléctricas de Portugal na altura. As turbinas dos três grupos de geradores da central têm uma potência de 63.000 cv. e eram até à data das maiores que se tinham construído em Inglaterra.
Turbinas tipo Francis Central eléctrica
A central hidroeléctrica localiza-se no pé da barragem
A Barragem de Castelo do Bode é utilizada para abastecimento de água, designadamente a Lisboa, produção de energia eléctrica, defesa contras as cheia e actividades recreativas. É utilizada pelos adeptos de desportos como o windsurf, vela, remo, motonáutica e jet ski, bem como da pesca desportiva (truta, achigã, enguias e lagostim vermelho).
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Barragem de Castelo do Bode, Ordem dos Engenheiros
9 comentários:
Caro José,
Será possivel arranjar fotos da Barragem do Cabril (pedrógrão Grande) construída em 1954?
Caro Polittikus
Eu não tenho, mas se fizer uma pesquisa paciente na Internet decerto encontrará.
Com tanto pormenor como esta não certamente, pois já fiz uma pesquisa rápida, mas qualquer coisita arranja.
Cumprimentos
Caro Polittikus
Consulte tambem este link:
http://cnpgb.inag.pt/gr_barragens/gbportugal/Lista.htm
Obrigado pela dica.
Este post fez-me recuar 50 anos, tanto que eu ouvi falar do Camião gigante, das árvores que tinham de ser cortadas, dos postes que tinham de ser retirados, para permitir a sua passagem.
Obrigado, José Leite.
Caro Luciano Canelas
Grato pelo seu comentário
Cumprimentos
Atenção - na barragem do Castelo do Bode o transporte da roda polar do primeiro deverá ter sido em 1949 e não em 1959.
Caro anónimo
Já procedi á correcção e tratou-se simplesmente dum erro de escrita.
Muito agardecido pela sua chamada de atenção.
Os meus cumprimentos
J.Leite
O Lugar dos meus avós ficou submerso quando a Barragem de Castelo de Bode ficou pronta. Estou muito interessada em conseguir fotos do local e arredores antes da Barragem. O lugar chamava-se Foz da Ribeira, na freguesia de Pampilhosa da Serra e localizava-se entre o Vale Serrão e Lomba do Barco (junto ao rio, claro!).
Alguém me consegue ajudar?
Obrigada
Isabel Domingues
Enviar um comentário