Restos de Colecção: Fábrica Brandão, Gomes & Cª

6 de fevereiro de 2012

Fábrica Brandão, Gomes & Cª

A indústria conserveira em 1917 é dominada pelas duas maiores empresas conserveiras do país: a "João António Júdice Fialho" de Portimão com oito fábricas no Algarve, em Peniche e na ilha da Madeira, e a "Brandão, Gomes & Cª".

A "Brandão, Gomes & Cª, foi fundada em 1894 por  Alexandre e Henrique Brandão, e Augusto José Gomes, todos regressados do Brasil . A 20 de Julho de 1895 o rei D. Carlos assina um alvará nomeando a “Fábrica Brandão Gomes & C.ª” fornecedora da sua casa Real e dando-lhe o título de «Real Fábrica de Conservas Alimentícias». Nas décadas seguintes esta sociedade, à semelhança da outra grande empresa conserveira a “João António Júdice Fialho” de Portimão, criou outras novas unidades produtivas situadas em localidades com porto de pesca.

 Fábrica de conservas “Brandão, Gomes & Cª”

No início da I Guerra Mundial o universo da "Brandão, Gomes & Cª”, contava com as seguintes unidades fabris:

  Fábrica de Espinho, em Espinho fundada em 1894
  Fábrica de Matosinhos, em Matosinhos fundada em 1903
  Fábrica de S. Jacinto, em Aveiro fundada em 1910
  Fábrica de Setúbal, em Setúbal fundada em 1913

A "Brandão, Gomes & Cª”, também dispunha do seu próprio fabrico de latas e embalagens, integrado numa secção da fábrica de Espinho, a qual fornecia as outras unidades fabris da empresa. A sua produção diária rondava ao 30 mil latas, a tecnologia era importada da França e da Alemanha, os mercados do Brasil e de África constituíam o destino principal, empregava mais de 300 pessoas e dava-se ao luxo de manter em laboração filiais noutros pontos do litoral (Matosinhos, S. Jacinto e Setúbal).

                                             Escritórios                                                         Central termoeléctrica a vapor

 

Primeiras latas de conserva

Com o aparecimento da folha-de-flandres, passaram a fabricar-se embalagens nesse material, muito mais leve e versátil do que aqueles até aí utilizados. Na fábrica, as operárias procediam às operações de descabeçar e esviscerar o peixe que seguia depois para os pios da salmoira onde ficava o tempo necessário. Seguidamente o peixe era frito em azeite ou óleo, enxugado, e embalado em latas cujo tampo era soldado.

                                           Latoaria                                                          Soldagem das latas com sardinha

 

Uma evolução importante na indústria das conservas consistiu na alteração do processo de fritura para o da cozedura em que o peixe passou a ser literalmente cozido no vapor. Depois de amanhado seguia em grelhas para os cozedores ou cofres onde era submetido ao vapor. No fim da linha de produção, após o enlatamento, as conservas eram esterilizadas a uma temperatura superior a 100ºC, em autoclaves de vapor alimentados por enormes caldeiras com fornalha de lenha.

                                    Lavagem do peixe                                                                         Cozinha

 

A introdução da máquina de cravar tampas nas latas, a cravadeira, veio aumentar a capacidade produtiva embora tenha gerado grande perturbação e o desaparecimento dos soldadores, até então a profissão melhor remunerada desta indústria.

Nas épocas de maior movimento trabalhavam na fábrica de Espinho cerca de 400 operários, com particular saliência para raparigas menores e sem qualquer escolaridade. Em 1910, apenas 25 dos seus trabalhadores sabia ler. Tinham na sua maioria uma origem piscatória e, no caso das mulheres e raparigas, a retribuição monetária era destinada a complementar os rendimentos dos respectivos agregados familiares

O processo de fabricação da conserva cumpre as seguintes fases: recepção do peixe; descabeço/evisceração; lavagem, salmoura; engrelhamento; secagem; cozedura; enlatamento; azeitamento; cravação; lavagem; verificação; embalagem; armazenamento.

                                         Enlatamento                                                               Embalagem e expedição

 

                                 Armazém de conservas                                    Estação de caminho de ferro privativa da fábrica

 

Esta empresa apresentava uma gama de produtos mais diversificada, não se cingindo, como acontecia com o  empresário algarvio, à produção de conservas de peixe. A sua actividade produtiva estendia-se a uma grande variedade de peixes, mariscos, carnes, aves, caça, legumes, frutas em calda, geleias, marmelada e queijo da serra. A ampliação das primitivas instalações permitiu a produção de legumes em mostarda ou vinagre e do molho d’Espinho. Em 1908 surgia o azeite enlatado e comercializado sob a marca Brandão Gomes.

Esta oferta diversificada não era comum no sector conserveiro português. Um inquérito realizado em 1917 recenseou 188 fábricas que só enlatavam peixe, enquanto só dez fábricas conservavam também outros alimentos.

                            Pickles, molhos e presuntos                                                       Depósitos de azeitona

 

fotos in: d’Espinho Viva, Prof 2000

A antiga fábrica de conservas "Brandão, Gomes & Cª." deu lugar ao Fórum de Arte e Cultura de Espinho, onde em parte das antigas instalações da fábrica está alojado o Museu Municipal de Espinho.

5 comentários:

Luciano Canelas disse...

Magnifico documento.
Parabéns.

José Leite disse...

Caro Luciano Canelas

Grato pelas suas palavras

Cumprimentos

Alessandro America disse...

Muito interessante.

Unknown disse...

Esta fábrica pertencia aos meus antepassados. Penso que um dos irmãos era avó do meu Pai.

Ana Rita Pereira disse...

Filipe Brandão, um dos irmãos era avô do meu pai :)