Tudo começou com o primeiro “Pavilhão de Cinema” da Câmara Municipal de Lisboa, instalado em 1949 na primeira “Feira Popular de Lisboa” - inaugurada a 10 de Junho de 1943 - localizada no “Parque José Maria Eugénio” na Palhavã, onde, actualmente, se encontra a sede da “Fundação Calouste Gulbenkian”.
Cerimónia da inauguração do Pavilhão de Cinema em 1952
Na “Revista Municipal de Lisboa” do 4º trimestre de 1951 pode-se ler:
«(...) Finalmente ligado a este Pavilhão de Exposições, o Pavilhão de Cinema que funcionou durante a feira com duas sessões nocturnas de cinema gratuito e às quais assistiram para cima de 95.000 espectadores.
O cinema municipal uma das mais interessantes iniciativas culturais da Câmara Municipal de Lisboa é hoje um êxito incontestável, a despeito da ignorância deste facto nalguns sectores. A sua fácil mobilidade, no formato de 16 m/m, hoje universalmente adoptado, pela sua rápida deslocação, conservação e economia, permite-nos realizar semanalmente 22 espectáculos de cinema gratuitos em quase todos os bairros pobres de Lisboa e ainda 3 sessões para crianças, ao domingo, no Pavilhão dos Desportos.
Estas sessões são constituídas pela apresentação de filmes municipais realizados pelo seu Serviço de Cinema e com a colaboração das embaixadas e legações acreditadas no nosso país: inglesa, americana, francesa, canadiana e suíça.
Estas entidades, a quem aqui se deve justa homenagem pelo seu apoio e tantas facilidades concedidas, têm auxiliado a iniciativa municipal e permitiu que, gratuitamente, no ano de 1951, a Câmara desse espectáculos de cinema a 160.000 habitantes de Lisboa.»
Fila para a entrada no cinema
Assistência na sala de cinema
Na “Revista Municipal de Lisboa” do 4º trimestre de 1952 pode-se ler:
«(...) no sector do cinema, o êxito desta iniciativa camarária excedeu tudo que seria possível prever-se.
Os serviços de cinematografia já realizaram no salão do cinema da Feira, 970 sessões gratuitas como total de 341.523 espectadores, prevendo-se para o próximo ano uma maior afluência em virtude do aumento da capacidade que vai receber.»
Depois de encerrada definitivamente esta Feira em 1957, foi construída a nova “Feira Popular de Lisboa” em Entrecampos, no local antes ocupado pelo “Mercado Geral de Gados”, tendo sido inaugurada em 24 de Junho de 1961. Também aqui foi instalado um cinema municipal, no Pavilhão Municipal que também oferecia uma sala de exposições. Mais tarde esta sala de exposições acabaria e a sala de cinema seria aumentada e renovada, passando a ocupar o pavilhão inteiro, mas contando apenas com plateia. Como cinema, só funcionaria até 1971.
Cinema no Pavilhão da Câmara Municipal de Lisboa na Feira Popular de Lisboa em Entrecampos em 1961
Notícia da inauguração do Pavilhão Municipal em Junho de 1961 e a sala de cinema depois da primeira remodelação
Entretanto, já se iam exibindo peças teatrais nesta espaço, pela companhia “Teatro Estúdio de Lisboa”, desde 16 de Dezembro de 1964, dia em que Luzia Maria Martins e Helena Félix apresentaram o primeiro espectáculo da companhia, “Joana de Lorena”, de Maxwell Anderson. Em 1972, o cinema converteu-se, definitivamente, no “Teatro Vasco Santana”, em homenagem a um dos maiores actores de sempre do teatro e cinema portugueses, depois de grandes obras de restauro e melhoramentos. Ali passou a funcionar com carácter permanente a companhia “Teatro Estúdio de Lisboa”, depois de concretizadas as negociações com a proprietária do edifício a Câmara Municipal de Lisboa.
Vasco Santana (1898-1958)
“Teatro Vasco Santana” em 1972
Interior do “Teatro Vasco Santana” já em 1979 numa reunião de uma central sindical
1966 1967 1985
Bilhete
gentilmente cedido por Carlos Caria
Em consequência deste acontecimento, Luzia Maria Martins foi entrevistada duas vezes nos três primeiros meses de 1972 pela revista “Rádio & Televisão”. A responsável da companhia “Teatro Estúdio de Lisboa” reforçaria o seu sonho de possuir uma biblioteca, uma galeria, um bar-restaurante, como expressara na entrevista de 8 de Janeiro de 1972, ela que julgava que o teatro do futuro seria o centro de convívio das várias artes.
Entrevista a 8 de Janeiro de 1972 na revista “Rádio & Televisão”
Lista das peças que estiveram em cena no “Teatro Vasco Santana”
Programa da peça “Quando a Banda Tocar” estreada em 5 de Julho de 1979
O “Teatro Vasco Santana” manter-se-ia activo até á última peça posta em cena pela companhia “Teatro Estúdio de Lisboa” estreada em 12 de Janeiro de 1989, “Habeas Corpus”.
Anúncio no jornal “Diario de Lisbôa” em 12 de Janeiro de 1989
Tudo mudaria de figura quando em 2003 “Feira Popular de Lisboa” fechou, envolta em grande polémica. Todas as diversões, como também o “Teatro Vasco Santana”, fecharam com excepção dos restaurantes que se foram mantendo abertos até 2006, ano em que tudo encerrou definitivamente.
O edifício do outrora “Teatro Vasco Santana” actualmente
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital, Instituto dos Museus e da Conservação, Indústrias Culturais
2 comentários:
É incrível, é o respeito que atualmente a sociedade e principalmente os n/ governantes dão a todo o legado das n/ grandes figuras.
Infelizmente não só das artes mas um pouco transversal à tudo que um dia nos encheu de alegria.
Hoje, só dão importância à bola, à aparência e há ganância sem escrúpulos.
Mais uma vez, um bem haja por todo este fabuloso trabalho.
Caro Manuel Ferreira
Muito grato pelo seu comentário
Os meus cumprimentos
José Leite
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