O “Mercado Occidental”, conhecido por “Mercado de S. Bento”, construído pela "Companhia dos Mercados e Edificações Urbanas", foi inaugurado na Rua de S. Bento, junto ao “Palácio das Côrtes”, a 1 de Janeiro de 1881. O contrato de exploração e concessão, seria de 50 anos, findos os quais seria entregue à Câmara Municipal de Lisboa, sucedendo o mesmo com o “Mercado Oriental”, conhecido por “Mercado de Santa Clara”, situado no Campo de Santa Clara, que pertencia à mesma empresa, e em exploração desde Outubro de 1887.
«Realisou-se hontem a inauguração do novo mercado de S. Bento.
Logo de manhã começaram estourando os morteiros, achando-se o mercado vistosamente embandeirado desde a vespera.
Tocou uma philarmonica.
A maior parte dos logares já hontem fizeram bom negocio.
É sem duvida alguma o mercado de S. Bento altamente vantajoso para a população d'aquelles lados da cidade, que tinha de sujeitar-se aos vendedores ambulantes, nem sempre conscenciosos nos preços e nas qualidades da fazenda, e auguramos-lhe por isso melhor sorte que ao de Santa Clara.» in jornal “Diario Illustrado”
O projecto e a respectiva construção deste mercado, ficaram a cargo de E.A. de Bettencourt, que já tinha projectado e construído o "Mercado de Santa Clara", tendo o seu custo ascendido a 53.000$000 réis.
Na foto anterior pode-se avistar o “Arco das Portas de São Bento”. Este Arco, do século XVIII, foi construído para fornecer água, que vinha do “Aqueduto das Águas Livres”, ao “Chafariz da Esperança”, chafariz este inaugurado em 1768. Depois de desmontado em 1938, de depois de décadas as suas pedras numeradas abandonadas, seria, finalmente, montado na Praça de Espanha, em Lisboa, nos anos 80 do século XX.
“Arco das Portas de São Bento” “Chafariz da Esperança”
Aguadeiros no “Chafariz da Esperança”
A maioria dos aguadeiros eram galegos reconhecidos pela sua típica indumetária e característicos pregões, vendendo a água em barris cujo preço fora estabelecido desde 1780. Para puderem exercer esse ofício, inscreviam-se na Câmara Municipal e usavam uma insígnia municipal. O recurso aos aguadeiros vai ser indispensável até ao século XX, pois continuava a haver problemas e carências de abastecimento, principalmente durante os meses de Verão.
O “Mercado de S. Bento”, ocupando uma área de 2.300 m2, tinha 29 lojas com portas para o interior do mercado e para a Rua de S. Bento, todas com sobreloja. 22 «lugares» com divisória e balcão, contíguos aos muros que limitavam o mercado pelos lados noroeste e sudoeste. Nos extremos do mercado encontravam-se instalados marcos fontenários à disposição do público.
«Todas as lojas e logares permanentes se acham alugados, encontrando-se ali frutas, hortaliças, aves, carne, peixe, bebidas e toada a espécie de víveres; tabaco, louça objectos de vestuário, e muitos outros artigos.
No terrado ha tambem mezas volantes hortaliças e outros géneros.
Se os moradores do bairro occidental souberem comprehender o seu proprio interesse, não tardará que o novo estabelecimento produza á companhia que o explora, consideraveis lucros.» in revista “Occidente”.
Ao fim de 57 anos de «penosa» existência, encerraria e seria demolido em 1938, pela Câmara Municipal de Lisboa, e quanto às causas do seu encerramento a revista “Ilustração” no seu número de 1 de Fevereiro de 1938, escrevia:
«O Mercado de S. Bento vai ser demolido, e - francamente - não nos deixa saüdades.
No dia da sua inauguração mereceu as honras de ser retratado em corpo inteiro pelo pintor António Ramalho, tudo levando a crer que se faria dali alguma coisa.
Triste desilusão!
Pouco tempo depois estava transformado num mercado de ferro-velho que até metia pena! Atribui-se êste rápido declínio à falta de concorrência tanto da falta de fazendeiros como do público em geral.»
E rematava …
«Mas porque teria sido tão malfadado o Mercado de S. Bento?
Falta de concorrência?
É curioso porque foi precisamente a concorrência que o desgraçou.
Expliquemo-nos melhor: Segundo se diz - e acreditamos piamente - a vizinhança do Palácio das Côrtes foi funesta ao pobre mercado. Todos conhecem a linguagem do Mercado da Ribeira Nova, da Praça da Figueira e do Matadouro. Pode ouvir-se por gosto, visto que, em harmonia com um velho rifão, «o saber não ocupa lugar». Pois quem transpuzesse os humbrais do Mercado de S. Bento, não era capaz de ouvir uma palavra destoante ou corrosiva. Nada. Aquilo era uma perfeita academia de boas maneiras, polidez e delicadeza. Ora, como o povinho gostava, apesar de tudo, dêsses palavrões escandalosos que sempre aliviam a bilis de quem os profere, saía desiludido, e ia buscar a compensação no Palácio visinho assistindo a uma sessão da Câmara dos Deputados.
Foi êste talvez o motivo do declínio do Mercado de S. Bento.»
Espaço depois da demolição do “Mercado de S. Bento”
Actual “Mercado de S. Bento”
O actual “Mercado de S. Bento”, localizado na Rua Nova da Piedade, esquina com a Rua de São Bento, segundo o site da Câmara Municipal de Lisboa, oferece no ramo alimentar: peixe congelado, carne, legumes, fruta, pão e vinhos; e no não alimentar: flores, plantas e artigos de jardinagem.
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital
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