Restos de Colecção: Salão Lisboa

3 de dezembro de 2014

Salão Lisboa

O “Salão Lisboa”, conhecido como «cinema piolho», foi inaugurado em 20 de Novembro de 1915. Foi construído num terreno na Rua da Mouraria, entre as Escadinhas da Saúde, o Antigo Beco do Cascalho e a Rua das Fontainhas a São Lourenço. Este edifício modesto pertencia à "Empreza do Salão de Lisboa, Lda.", de Henrique O’Donnell (funcionário da Companhia dos Tabacos) e Victor Cunha Rosa (empresário da exploração cinematográfica), os mesmos que em 22 de Abril de 1911, tinham inaugurado o Salão “Olympia” na Rua dos Condes.

“Salão Lisboa”, em 1968

 

Fachada do “Salão Lisboa” nos seus primeiros tempos



Os edifícios encostados ao "Arco do Marquês de Alegrete" que seriam substituídos pelo "Salão Lisboa"

De cariz popular, servindo uma zona tão característica como aquela onde se situava, este cinema abriu as suas portas, com sessões às quintas-feiras, sábados e domingos. O seu interior compunha-se de plateia e balcão e tinha a capacidade para acomodar 510 espectadores.

O público era essencialmente jovem, o que fazia com que os filmes de acção fossem o essencial da sua programação. Em finais de 1928, iniciaram-se as obras de reparação e embelezamento, como forma de corresponder às exigências do público e ao aparecimento de novas salas. A “Inspecção Geral dos Espectáculos” autorizou essas obras, mas determinou a inversão das características da sala, nomeadamente com a mudança da cabine de projecção que ficaria situada no lado oposto à saída principal que dava para a Rua da Mouraria, como também foram suprimidas as colunas que suportavam o piso do balcão, o que originou a construção de instalações sanitárias nesse mesmo balcão.

“Circos e Music-Halls”, no jornal “A Capital”, à data da inauguração do “Salão Lisboa” e, no mesmo dia, notícia de futura concorrência na mesma rua, e para breve, no jornal “A Vanguarda”

 

Bilheteira e entrada para a sala de espectáculos do “Salão Lisboa”


gentilmente cedido por Carlos Caria

O “Salão Cosmopolita” abrira as suas portas, na Rua da Mouraria, no mês seguinte a 30 de Dezembro de 1915.

Em 1932, a empresa proprietária do “Salão Lisboa” decide promover novas modificações, principalmente na fachada. Sob o projecto do arquitecto António José Pedroso, este edifício adoptou a fachada que mantém até hoje. De modo a valorizar o imóvel, os donos resolveram substituir a cobertura de madeira existente desde o inicio por uma estrutura de ferro, coberto de chapas de fibrocimento.

Nesta ano a revista “Cinéfilo” escrevia acerca do “Salão Lisboa” :

«O «Salão Lisboa», o popular cinema da Rua da Mouraria, reputado, e com razão, um dos mais típicos e curiosos da capital, constitui a alegria das classes pobres do referido bairro.
Todas as noites se esgota a sua pequena lotação, sobretudo quando nos seus programas figuram filmes de aventuras. Nêsses espectaculos, quási disputados a murro, os seus frequentadores, na sua maioria gente miúda e vivaz, vivem momentos de indiscritivel entusiasmo.
Como nos gloriosos tempos do mudo, o sonoro, para êles, quási analfabetos, um lindo livro de histórias escrito numa linguagem diversa da sua, conquistou, a-pesar-de tudo, a sua simpatia. Eles não sabem lêr ... Mas sabem quem é o Bancroft, o Polo, o Tom Mix ... Isso basta para os deleitar.»

1942

30 de Março de 1947

1966

1970

"Salão Lisboa" a cores em 1967

O “Salão Lisboa” qua a par do “Olympia” era dos mais baratos, mantendo sessões contínuas com dois filmes em cartaz, manteve-se sempre propriedade da família O’Donnell, tendo sido dirigido por um longo período por D. Emília de Figueiredo O'Donnell, até ao momento em que cessa a sua exploração cinematográfica, a 30 de Setembro de 1971 com o filme “100 Armas ao Sol”. Em 1972, o seu edifício foi transformado num armazém de revenda que, no entanto, continuou a manter na frontaria o nome de “Salão Lisboa”.

Edifício do “Salão Lisboa”, actualmente

Fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Cidadania Lx, Citizen Grave, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian

1 comentário:

MHM disse...

Sempre foi até aos dias de hoje da família Telles da Silva, por herança de Eugênia Telles da Silva, condessa de Tarouca e também Marquesa de Alegrete.