A "Casa Chineza" terá tido a sua origem no 1º andar da Rua dos Retrozeiros, 125, em Lisboa, onde Joaquim Pereira da Conceição terá iniciado o negócio de objectos chinezes como louças, chailes, leques, chás, sedas etc. de origem chinesa.
Poucos anos depois, em 1880 já se tinha mudado para os números 234 e 236 da mesma Rua do Ouro, para um prédio propriedade do "Banco do Minho", que tinha sido fundado em 14 de Abril de 1864 em Braga. Ficava defronte do edifício do "Monte-Pio Geral". Entretanto o nº 172 viria ser ocupado por uma loja de modas e fazendas da firma "Aranha, Martins & C.ª".
"Casa Chineza" no excerto do "Almanach Commercial de Lisboa" para 1880
Em 30 de Janeiro de 1896, e por escritura pública, Joaquim Pereira da Conceição faz sociedade com Sebastião May Figueira e formam a firma "J. Pereira da Conceição e Commandita". Em 10 de Dezembro de 1898 dava entrada na "Repartição de Propriedade Industrial", da "Direcção Geral de Commercio e Industria" o pedido do registo da marca "Casa Chineza".
1899
24 de Maio de 1902
No "Almanach da Casa Chineza" para 1903, na publicidade podia-se ler:
Especialidade de café torrado e moido. Café de Cabo Verde, Moka, S. Thomé. Angola, etc.
Objectos da China, India e dapão, Lenços de sêda da India. Leques, Cofres, Bules, Jarras, Vinhos, Licôres, Vidros, Apparelhos de porcellana e muitos outros objectos de finissimo gosto.
Esta casa, uma das mais antigas no seu genero, bem conhecida em Lisboa e em todo o Paiz pela excellente qualidade dos generos oue expoe a venda por preços excessivamente modicos, distribue annualmente a todos os Exm.os freguezes um bonito e util Almanach assim como Brindes permanentes pelo numero de senhas que respectivamente se designam:
50 Senhas, uma chavena e pires de porcellana, ou um copo, on um prato de porcellana.
100 Senhas, uma chavena e pires de porcellana de limoges ou um copo de crystal ou um Frasco de essencia.
500 Senhas, um Bonito prato da China ou uma linda caixa de "Charao" ou uma linda chavena de porcellana da China "Mandarim".
1:000 Senhas, um serviço para chá.
5 000 Senhas, um serviço para chá, porcellana de "Limoges".
10:000 Senhas, um servico completo de jantar.
20:000 Senhas. um magnitico serviço completo para jantar, porcellana de "Limoges".
Cada importancia de 200 réis tem direito a uma senha.
Especial café de Família, Kilo 400 réis.»
A "Casa Chineza" entre 1915 e 1916 mudaria, de novo de instalações dos nos 234-236 para os nos 274-278 (1º quarteirão da Rua do Ouro e do mesmo lado), onde ficaria até ao seu encerramento definitivo em 2023. Neste nº tinha funcionado anteriormente uma casa de chás e cafés pertença de Isidoro Soares Ferreira.
Tal mudança deveu-se ao facto do prédio onde estava instalada ter sido desocupado na sua totalidade e sido vendido á casa comercial "Barros & Santos". «Fruto da sua expansão, o proprietário da "Barros & Santos", pede ao jovem arquitecto Carlos Chambers Ramos (1897-1969) que elabore um projecto para modificação exterior e interior dum edifício na Rua do Ouro 234-242, ex-propriedade do "Banco do Minho" e que se encontrava desabitado. O projecto, consistia na transformação dum edifício de 6 andares sendo os dois primeiros destinados ao comércio e os restantes a serviços administrativos, propunha alterações substanciais, quer no seu interior quer exteriormente, introduzindo uma nova fachada com motivos "art-déco". As obras tiveram início em 1921 (...) » neste blog no artigo: "Barros & Santos".
Num artigo do jornal "A Capital" de 29 de Junho de 1916, acerca de estabelecimentos na Rua do Ouro:
A Casa Chineza é, portanto, a continuadorara da tradicção d'aquella porção de rua onde se encontra installada ha muitos annos.» in: "A Capital" de 29 de Junho de 1916.
Em 1943 a empresa "A Caféeira, Lda." adquire a "Casa Chineza".
«A origem da Caféeira remonta ao século XIX, tendo como ponto de referência a Casa Chineza, casa de cafés e chás na Baixa Pombalina. A Caféeira começou por torrar café nas caves da Casa Chineza, mais tarde no Largo da Fontainhas e, a partir de 1964, em Sta. Iria de Azoia». in: NewCoffee Company
Em 1974 esta empresa já era proprietária da "Casa Chineza", do "Café Ribatejano" na Avenida Almirante Reis e do "Café Monte Carlo" na Avenida Fontes Pereira de Melo, todos em Lisboa. Todos já desaparecidos.
1943
Com o passar dos anos o negócio da "Casa Chineza" foi-se alterando e mais recentemente, o negócio virou-se definitivamente para a pastelaria e restauração. Na montra, entre os tradicionais doces portugueses, podia-se ver o anúncio da grande especialidade da casa, difícil de encontrar longe de Trás-os-Montes: o "Folar de Chaves". Tradicional na época da Páscoa, é um pão feito com (muitos ovos), salgado, e recheado com muitos e bons enchidos.
Como, infelizmente, vai acontecendo já com muita regularidade a "Casa Chineza" encerrou definitivamente em Dezembro de 2023, ao fim de 157 anos (!) de existência ... Já em Abril do mesmo ano de 2023 tinha encerrado outra loja ainda mais antiga, a mui conhecida "Casa Senna" fundada na Rua Nova do Almada em 1834, com 189 anos (!!) ...
"Restos mortais" da "Casa Chineza" em Setembro de 2024 (via Google Maps)
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa,, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Estação Cronographica
Sem comentários:
Enviar um comentário