Restos de Colecção: "Casa Chineza"

10 de setembro de 2025

"Casa Chineza"

A "Casa Chineza" terá tido a sua origem no 1º andar da Rua dos Retrozeiros, 125, em Lisboa, onde Joaquim Pereira da Conceição terá iniciado o negócio de objectos chinezes como louças, chailes, leques, chás, sedas etc. de origem chinesa. 


24 de Novembro de 1866

Cinco anos depois, em 1871 mudar-se-ia para a Rua do Ouro, 172 - terceiro quarteirão à esquerda, na direcção da Praça do Comércio, mesmo defronte do prédio onde viria a instalar-se a "Papelaria Vieira(a partir de 7 de Março de 1915), futura "Papelaria da Moda"


4 de Setembro de 1971


8 de Agosto de 1874


2 de Novembro de 1874

Poucos anos depois, em 1880 já se tinha mudado para os números 234 e 236 da mesma Rua do Ouro, para um prédio propriedade do "Banco do Minho", que tinha sido fundado em 14 de Abril de 1864 em Braga. Ficava defronte do edifício do "Monte-Pio Geral". Entretanto o nº 172 viria ser ocupado por uma loja de modas e fazendas da firma "Aranha, Martins & C.ª".

"Casa Chineza" no excerto do "Almanach Commercial de Lisboa" para 1880

"Casa Chineza" mantinha uma outra loja , o "Armazém Chinez" que em 1885 já se tinha mudado do Largo do Calhariz, 31 e 32, para a Rua do Loreto, 47.


Ambos de 23 de Agosto de 1885



30 de Setembro de 1885


15 de Março de 1894

Em 30 de Janeiro de 1896, e por escritura pública, Joaquim Pereira da Conceição faz sociedade com Sebastião May Figueira e formam a firma "J. Pereira da Conceição e Commandita". Em 10 de Dezembro de 1898 dava entrada na "Repartição de Propriedade Industrial", da "Direcção Geral de Commercio e Industria" o pedido do registo da marca "Casa Chineza".




1899

24 de Maio de 1902

No "Almanach da Casa Chineza" para 1903, na publicidade podia-se ler:

«Chá Olong, Chá Peloiro, Chá Pouchong, Chá Ponta Branca, Chá Pouchong e Chá Perola.
Especialidade de café torrado e moido. Café de Cabo Verde, Moka, S. Thomé. Angola, etc. 
Objectos da China, India e dapão, Lenços de sêda da India. Leques, Cofres, Bules, Jarras, Vinhos, Licôres, Vidros, Apparelhos de porcellana e muitos outros objectos de finissimo gosto.

Esta casa, uma das mais antigas no seu genero, bem conhecida em Lisboa e em todo o Paiz pela excellente qualidade dos generos oue expoe a venda por preços excessivamente modicos, distribue annualmente a todos os Exm.os freguezes um bonito e util Almanach assim como Brindes permanentes pelo numero de senhas que respectivamente se designam:

25 Senhas,        uma chavena e pirees de faianca on um bom sabonete "Electra".
50 Senhas,        uma chavena e pires de porcellana, ou um copo, on um prato de porcellana.
100 Senhas,     uma chavena e pires de porcellana de limoges ou um copo de crystal ou um Frasco de essencia.
500 Senhas,     um Bonito prato da China ou uma linda caixa de "Charao" ou uma linda chavena de porcellana da China "Mandarim".
1:000 Senhas,   um serviço para chá.
5 000 Senhas,   um serviço para chá, porcellana de "Limoges".
10:000 Senhas, um servico completo de jantar.
20:000 Senhas. um magnitico serviço completo para jantar, porcellana de "Limoges".

Cada importancia de 200 réis tem direito a uma senha.

O lote mais especial das melhores marcas de café, Kilo 720 réis.
Especial café de Família, Kilo 400 réis.»


Setembro de 1905


1913


1915

A "Casa Chineza" entre 1915 e 1916 mudaria, de novo de instalações dos nos 234-236 para os nos 274-278 (1º quarteirão da Rua do Ouro e do mesmo lado), onde ficaria até ao seu encerramento definitivo em 2023. Neste nº tinha funcionado anteriormente uma casa de chás e cafés pertença de Isidoro Soares Ferreira.

Tal mudança deveu-se ao facto do prédio onde estava instalada ter sido desocupado na sua totalidade e sido vendido á casa comercial "Barros & Santos". «Fruto da sua expansão, o proprietário da "Barros & Santos", pede ao jovem arquitecto Carlos Chambers Ramos (1897-1969) que elabore um projecto para modificação exterior e interior dum edifício na Rua do Ouro 234-242, ex-propriedade do "Banco do Minho" e que se encontrava desabitado. O projecto, consistia na transformação dum edifício de 6 andares sendo os dois primeiros destinados ao comércio e os restantes a serviços administrativos, propunha alterações substanciais, quer no seu interior quer exteriormente, introduzindo uma nova fachada com motivos "art-déco". As obras tiveram início em 1921 (...) » neste blog no artigo: "Barros & Santos". 


"Casa Chineza" na Rua do Ouro, 274-278

Num artigo do jornal "A Capital" de 29 de Junho de 1916, acerca de estabelecimentos na Rua do Ouro:

«Ainda la em cima, no primeiro quarteirao do Iado direito, fica a Casa Chineza. Essa parte da rua do Oiro foi sempre a regiao classica das lojas de cha. Algumas d'ellas, que tiveram longa e proficua existencia, ainda hoje existem. Mas a mais importante de todas é a Casa Chineza, cujo fornecimento de chas, cafes e outros generos de mercearia e dos melhores e dos maiores. Além d'isso, as collecções de artigos e de preciosidades orientaes, como loiças da India, China e Japao, leques, charoes, lenços, artigos de seda, etc., são riquissimos, como facilmente verifica quem defronte da montra d'este magnifico estabelecimento se detiver, ainda que por poucos momentos.
A Casa Chineza é, portanto, a continuadorara da tradicção d'aquella porção de rua onde se encontra installada ha muitos annos.»  in: "A Capital" de 29 de Junho de 1916.


Em 1928 a "Casa Chineza" participou no "I Salão de Outono da Elegância Feminina & Artes Decorativas «Voga» ", que abriu as suas portas a 3 de Novembro de 1928, no Palácio da "Sociedade Nacional de  Belas Artes", na Rua Barata Salgueiro em Lisboa, e promovido pela famosa revista feminina "Voga", editada pela Casa Aillaud & Bertrand”.



Publicação na revista "Ilustração" 


Stand da "Casa Chineza"

«Não precisava a Casa Chinesa de reclamar os seus produtos. Mas, apesar disso não quiseram os donos da afamada casa listoeta deixar de concorrer no Salão de Outono apresentando um stand verdadeiramente sensacional e formosíssimo onde se admiravam artísticas loiças e curiosidades chinesas requintadamente artisticas. E para completar a Casa Chinesa criou o Chá "Voga" que obteve um extraordinaáio êxito de venda.» in: revista "Ilustração".


Stand da "Casa Chineza"

Em 1943 a empresa "A Caféeira, Lda." adquire a "Casa Chineza". 

«A origem da Caféeira remonta ao século XIX, tendo como ponto de referência a Casa Chineza, casa de cafés e chás na Baixa Pombalina. A Caféeira começou por torrar café nas caves da Casa Chineza, mais tarde no Largo da Fontainhas e, a partir de 1964, em Sta. Iria de Azoia». in: NewCoffee Company

Em 1974 esta empresa já era proprietária da "Casa Chineza", do "Café Ribatejano" na Avenida Almirante Reis e do "Café Monte Carlo" na Avenida Fontes Pereira de Melo, todos em Lisboa. Todos já desaparecidos.

1943

23 de Dezembro de 1974

Com o passar dos anos o negócio da "Casa Chineza" foi-se alterando e mais recentemente, o negócio virou-se definitivamente para a pastelaria e restauração. Na montra, entre os tradicionais doces portugueses, podia-se ver o anúncio da grande especialidade da casa, difícil de encontrar longe de Trás-os-Montes: o "Folar de Chaves". Tradicional na época da  Páscoa, é um pão feito com (muitos ovos), salgado, e recheado com muitos e bons enchidos.




Como, infelizmente, vai acontecendo já com muita regularidade a "Casa Chineza" encerrou definitivamente em Dezembro de 2023, ao fim de 157 anos (!) de existência ... Já em Abril do mesmo ano de 2023 tinha encerrado outra loja ainda mais antiga, a mui conhecida "Casa Senna" fundada na Rua Nova do Almada em 1834, com 189 anos (!!) ...

"Restos mortais" da "Casa Chineza" em Setembro de 2024 (via Google Maps)

fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa,Arquivo Municipal de Lisboa Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Estação Cronographica

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