Restos de Colecção: Casa Senna

12 de julho de 2016

Casa Senna

O "Salão de Jogos", nome por que era conhecido  o estabelecimento propriedade da firma “Senna, Lda.”, abriu as portas ao público em 1834, na Rua Nova do Almada em Lisboa. O seu fundador, Alexandre José de Senna, era um comerciante estimado que, em cerca de meio século, conseguiu conquistar o bom nome de que hoje esta casa usufrui.


Em 1880, por falecimento do seu fundador, o estabelecimento passou à posse de seu filho José Alexandre de Senna, que, em 1897, confiou a gerência ao sobrinho, Frederico Carlos de Senna Cardoso. No exercício dessas funções, deu provas de competência e saber administrativo, continuando desde então a manter e desenvolver as tradições granjeadas pelos antecessores. Depois de José Alexandre de Senna falecer, tomou conta da sociedade a viúva Leopoldina Pereira de Senna, e a razão social passou a "Viúva de José Alexandre de Senna", prosseguindo Frederico Carlos de Senna Cardoso no cargo de gerente, até 1918. Nesta ano tendo falecido D. Leopoldina de Senna, este vira a assumir a propriedade total, passando a designar-se "F. C. de Senna Cardoso".

Noutra perspectiva com a vizinha “Casa de Modas A. Serra” na esquina da Rua de São Nicolau

É em 1903, e sob a nova razão social de “Viúva de José Alexandre de Senna” que este estabelecimento teve a honra de ser nomeada fornecedora da “Casa Real”, pelo Rei D.Carlos, cuja ordem, por ordem se transcreve:

«Eu El Rei faço saber a vós António Maria José de Mello Silva Cezar e Meneses, Conde de Sabugosa, Par do Reino, Gra Cruz da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo e de outras estrangeiras, Gentil Homem da Minha Real Camara e Meu Mordomo Mór: que attentas as circunstancias que concorrem na Viúva de José Alexandre de Senna, com estabelecimento nesta cidade de Lisboa, de bilhares e jogos diversos, Hei por bem e Me Praz Fazer-lhe mercê de a Nomear Fornecedora da Minha Real Casa, dos artigos do seu comércio sem vencimento algum pela Fazenda Real, gosando porém de todas as honras e prerrogativas que lhe competirem e podendo com este titulo collocar as Armas Reaes Portuguezas no frontispicio do seu estabelecimento. Mando-vos a façais assentar no Livro da Matricula dos Moradores da Minha Casa em seu titulo como dito fica.»
Paço em nove de Julho de mil novecentos e três.

Durante a sua gerência fundou uma revista quinzenal ilustrada de educação física e actualidades com o nome "Tiro e Sport", que era vendida por 150 réis, em que abordava as principais notícias desportivas da época. Todos exemplares, entre 1904 e 1910 podem ser consultados online no seguinte link: Hemeroteca Digital”.

1904

 

1909

 

1910

A "Casa Senna" , que sempre esteve instalada na rua Nova do Almada 48 a 52, iniciou os seus negócios com uma fábrica de pentes de marfim, de bolas de bilhar, diversos artigos em marfim e jogos, artigos em que transaccionou em larga escala durante bastantes anos. 

Depois, foi sucessivamente deixando esses artigos e passou a fabricar bilhares e outros jogos, artigos a que deu grande impulso e desenvolvimento, assim como também se dedicou à venda de toda a variedade de jogos, tendo sido por muitos anos o único estabelecimento do País nesse ramo especializado.

 

 

Escovas de dentes “Senna”, em 1915

Em 1923, Frederico de Senna Cardos associou o seu primeiro empregado, Agostinho Félix de Andrade, constituindo-se para tal efeito a firma “Senna, Lda”., que dura até ao presente.

Em 1962, com 92 anos, morre Frederico Carlos de Senna Cardoso. A firma foi herdada pela viúva, e por morte desta, cinco meses depois, pelas suas sobrinhas em 1963, data em que a gerência foi assumida por Carlos Gonçalves Querido, marido de uma das sobrinhas e actualmente sócia gerente, Maria Manuela Aguiar Neves Querido. Nesse período conheceu a “Casa Senna” uma evolução considerável, tendo aberto mais uma loja que se dedicava à comercialização de artigos de campismo.


Com a revolução de 25 de Abril de 1974, a empresa passou por algumas dificuldades. Em 30 de Dezembro de 1982, associou os seus dois empregados Manuel António Dias e José Manuel Mendes Pinto. Os dois, juntamente com Maria Manuela Aguiar Neves Querido iniciaram uma brilhante recuperação da empresa.

Apesar de, no terrível incêndio do Chiado de 25 de Agosto de 1988, esta empresa ter perdido o seu escritório e um dos armazéns que servia de apoio às duas lojas, a “Casa Senna” tem mantido uma política de continuidade e firmeza nos seus negócios. Em 27 de Dezembro de 1994 foi distinguida em cerimónia pública pelo Ministro do Comércio e Turismo com a atribuição da Insígnia «Lojas de Tradição», sendo uma das vinte e seis contempladas.

«Longe vão, contudo, os tempos em que a Casa Senna tinha um feroz concorrente mesmo ao alcance dos olhos. A Socidel, na esquina em frente e da qual a antiga glória verde e branca Fernando Peyroteo chegou a ser sócio, era uma empresa igualmente requisitada no comércio lisboeta. E esteve à beira de absorver a Casa Senna. Sem sucesso. Até que, já com o século XX dobrado, e através de duas operações distintas, foi a “Casa Senna” a tomar controlo da sua velha e falida rival, de cujas quotas viria a abdicar quatro anos mais tarde. Desde então a Socidel fechou as portas, deu lugar a um outlet de moda e o espaço encontra-se em restauração». in “Diário de Notícias”

Actualmente possui quatro estabelecimentos de venda ao público e dois armazéns, sendo distribuidor das principais marcas de desporto e representante de algumas das mais conceituadas. Participa desde 1996 numa sociedade de artigos de desporto em Cabo Verde, com o nome “Senna Sport C. Verde, Lda.”, com dois estabelecimentos: um na cidade da Praia e outro no Mindelo.

Bibliografia: Historial publicado no site da “Casa Senna”

fotos in: Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa

1 comentário:

O BAÚ disse...

Olá! Não é verdade que a Casa senna tenha tomado o controlo da Socidel. Na verdade, Mendes Pinto adquiriu uma parte da socidel que era uma sociedade por quotas, mas nunca chegou a ter a totalidade da empresa, a maioria das quotas pertenciam aos meus avós, João Luís de Carvalho e Maria Helena.