A "Companhia de Carruagens Lisbonenses", foi fundada em 1853, com cocheiras (e mais tarde garagem de automóveis de aluguer) no Largo de São Roque, no antigo Palácio dos Marquezes de Niza, e com filiais em Alcântara e Sintra. Tinha como seus directores: Antonio d'Oliveira e Sousa e Julio Gomes Ferreira. Foi a principal concessionária de carruagens de aluguer em Lisboa.
Em 7 de Abril de 1834 é fundada a "Companhia de Carruagens Omnibus" e estabelecem-se carreiras regulares de carruagens, também chamadas de omnibus. sendo as primeiras carruagens exploradas por Luís Francisco Castinel e Aristides Fleury de Barros. Os preços eram baixos o que tornava o transporte acessível à generalidade da população. Foi a "Companhia de Carruagens Omnibus" que iniciou este tipo de serviço em regime de monopólio. A estação central das suas cocheiras situava-se na Rua do Crucifixo, donde durante trinta anos, entre 1835 e 1865, partiriam as pesadas e barulhentas carruagens para Belém, Benfica, Sintra, Lumiar, estendendo-se mais tarde a Cascais, Loures e Carnide. Porém, em 1865 um incêndio nas suas cavalariças dizimou metade dos animais e marcou o início do fim desta empresa, que aliando a uma gestão ruinosa aos altos preços praticados, acelerou o fim da mesma nãotendo sobrevivido a esta catástrofe.
«Na Lisboa dos nossos avós a deslocação por via motorizada era um verdadeiro sonho. Em meados do século XIX começaram a circular os primeiros transportes colectivos de tracção animal.
Por volta de 1835, foram os “omnibus” (em latim, transporte para todos) os primeiros transportes colectivos que começaram a circular dentro da cidade. Eram carros grandes e desajeitados, com janelas de cada lado e porta nas traseiras, com lotação para 15 pessoas sentadas em bancos corridos, puxados por duas parelhas de animais.
Em 17 de Novembro de 1873 foi inaugurada a primeira linha de “Americanos” (comprados a uma firma de Nova Iorque), que ia desde a Estação da Linha Férrea do Norte e Leste (Sta. Apolónia) e o extremo Oeste do aterro da Boa Vista (Santos).»
1853
Por mau serviço prestado, não são renovadas as concessões das companhias de omnibus, e aparecem em Lisboa empresas de transportes baratos, com veículos de menores dimensões, como o Chora (Eduardo Jorge), Salazar, Jacintho, Florindo, Campos Junior, Joaquim Simplício, Lusitana, etc ... aumentando o seu raio de acção por toda a Lisboa e arredores, acessível a toda a população a preços económicos. Na cidade do Porto, surge em 1839 a "Companhia de Transportes União", com o objectivo de fazer transportes nesta cidade, tendo importado, para o efeito, quatro carros denominados omnibus.
Só a partir de 1860, com a prescrição do anacrónico sistema da boleia a cavalo que, até então, dominou em exclusivo para o serviço de trens de praça, é que se abre a possibilidade a outros veículos de se adaptarem a viaturas de aluguer, sendo as carruagens mais comummente empregadas como trens, as sages, a traquitana, o coupé e as caleches, as tipóias de praça, o char-à-bancs, etc.para duas e quatro pessoas e o último podendo levar até dez. A principal concessionária de carros de aluguer era a "Companhia de Carruagens Lisbonenses".
Depois de em 1814 o Palácio dos Marquezes de Niza ter sido adaptado para albergar o "Teatro do Bairro Alto", em Dezembro de 1835 a Câmara Municipal de Lisboa manda a Casa de Niza a proceder à demolição do palácio por ameaçar a segurança pública. Em 17 Maio de 1836, Francisco José Caldas Aulete aforou o Palácio dos Vidigueira e demoliu parte da muralha fernandina. Em 1854 a propriedade de Caldas Aulete é adquirida por António Florêncio dos Santos, que depois a vendeu à "Companhia de Carruagens Lisbonenses", que, em 1864 ocupa também Palácio de Niza. Trinta anos mais tarde, em 1894, esta Companhia toma conta do pátio e restos do "Teatro do Bairro Alto" que ali existiu.
Despacho de licenciamento de 19 de Dezembro de 1864
Em 1873, surge um novo meio de transporte movido a força animal mas deslocando-se sobre carris de ferro, chamado de "Americano" e introduzido pela "Companhia Carris de Ferro de Lisboa", que tinha sido fundada no Rio de Janeiro em 1872 e reconhecida como S.A.R.L. portuguesa em 1876. A primeira linha de carros deste género tinha sido inaugurada no Porto um ano antes, em 1872, entre a Foz e Matosinhos, sendo a primeira do país.
"Americano" a entrar na Largo de S. Paulo
Em 1880 os "Rippert", começam a fazer concorrência ao "Americano", chegando a utilizar os seus carris, uma vez que tinham rodas e comprimento de eixos semelhante, dando origem a conflitos de vária ordem. Para tal foi constituída a "Companhia de Carruagens Rippert", cujos seus directores eram: Antonio Maria dos Santos Viegas, Firmino Augusto Lopes Brothas Cardozo e o Visconde da Azarujinha. A seguir notícia na revista "Occidente" da constituição da empresa.
Outro grande concorrente da "Companhia de Carruagens Lisbonenses" abria as suas portas, em 1891: o "Deposito de Carruagens de Anastacio Fernandes & C.ª", propriedade de Anastacio Fernandes e Guilherme Augusto d'Almeida, instalado no Palácio do Conde de Burnay (ex-Palacio do Conde de Povolide), na Rua de Santo Antão, em Lisboa.
1897
«De Anastacio Fernandes é muito o que temos a dizer. Este incansavel industrial que apenas conta hoje 40 annos de edade tem a sua vida juncada de virtudes. Como trabalhador, poucos, tanto como elle, teem comprehendido a sua dificil missão. (...)
Depois, Anastacio Fernandes uniu-se logo de principio a um cavalheiro tambem um extremo trabalhador e emprehendedor, o sr. Guilherme Augusto d'Almeida.(...)
Assim é que o deposito de carruagens de Anastacio Fernandes e C.ª deve o credito de que hoje gosa á sua boa administração, o que tem conseguido augmentar nélle a procura de todos os que desejam ser bem servidos.» in: jornal “Folha de Lisboa” de 14 de Outubro de 1894. Consultar a sua história no seguinte link neste blog: Deposito de Carruagens de Anastacio Fernandes & C.ª
Contudo a "Companhia Carris de Ferro de Lisboa" sobrepõe-se à concorrência das outras concessionárias de transportes públicos de Lisboa como a "Rippert", a "Companhia de Ascensores Mechanicos de Lisboa" e a "Empreza de Viação Urbana a Vapor". Pouco a pouco as velhas companhias de omnibus são absorvidas, carruagens e concessões, à excepção do "Chora" (Eduardo Jorge) que resistiria até 1917.
11 de Novembro de 1874
Em 1912, a "Companhia de Carruagens Lisbonenses", tinha adquirido «automóveis exclusivamente reservados ao serviço de remise» - remise palavra francesa equivalia a aluguer - e criava tarifas especiais para os mesmos. Os «automóveis de luxo» ofereciam, por um «preço reduzido», «todas as comodidades e o prazer de um carro próprio (...) fazendo o serviço por hora ou por kilometro». Já nesta época eram apontadas críticas aos táxis, na altura apelidados de "automóveis de praça": «nem sempre estão disponíveis e offerecem os encantos e comodidade de um carro particular ou de remise.» A forma de os pedir era simples: bastava ligar para o telefone com o nº 35e solicitar um. Mas ... se fosse aos domingos ou feriados, o pedido teria de ser feito «com a necessária antecedência».
Por volta de 1922 a "Companhia de Carruagens Lisbonenses" viria a ser liquidada, e as suas instalações em São Roque foram adquiridas pelo capitalista Deniz M. de Almeida, que assumiu o activo e passivo da Companhia. Em 12 de Setembro de 1923, vende-as à firma "C. S. Dias de Figueiredo & C.ª", que aqui possuía as cocheiras, cavalariças, celeiros, palheiros e oficinas. Em 1926 esta venderia à "Santa Casa da Misericórdia de Lisboa" o que restava, do antigo Palácio dos Marquezes de Niza, desfigurado em absoluto.
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais)
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