Restos de Colecção: Teatro Lethes

9 de junho de 2021

Teatro Lethes

O "Theatro Lethes" foi inaugurado, na cidade de Faro, a 4 de Abril de 1845, com o drama da autoria de  Serpa Pimentel "Almançor" e a farsa traduzida do francês "O Urso e o Pachá". Este espectáculo foi desempenhado por amadores, «um grupo bastante distincto», que mais tarde ali representou a Grã-Duqueza, Barba Azul, Sinos de  Corneville, etc.


"Theatro Lethes" no jornal "O Algarve Illustrado" de 1 de Outubro de 1880

 

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O edifício do "Teatro Lethes" remonta ao século XVII e mantém, com poucas alterações no exterior, ao antigo "Colégio dos Jesuítas" que se instalam na cidade em 1599. Lá se mantiveram até 1769: 10 anos decorridos, o edifício retomou a sua vocação religiosa, abrigando a "Ordem dos Carmelitas", até 1834. 

Em 1843, o edifício foi adquirido por um médico italiano, Dr. Lázaro Doglioni, nascido em Veneza em 1778. Em 1804, embarcou a caminho de Inglaterra, Lázaro e naufragou ao largo do Cabo de São Vicente. Sobreviveu e fixou-se no Algarve. E nesse ano de 1843 adquire o Convento devoluto e inicia trabalhos de transformação e adaptação a Teatro. Para isso, contou com o apoio de um sobrinho também médico, Justino Comano, chegado a Faro em 1840.



Localização do "Theatro Lethes" na cidade de Faro (edifício grande ligeiramente à esquerda)

Souza Bastos (1844-1911) no seu "Diccionario do Theatro Portuguez", editado em 1908, escreveu acerca da história deste Teatro:

«Este theatro, ainda hoje bom, era, na epocha em que foi construído, dos melhores que existiam em Portugal. Foi mandado construir pelo afamado medico dr. Lazaro Poglione e sua esposa D. Maria Crespim, tios do dr. Cumano, que depois o conservou com todo o esmero.
O velho edifício, em que o theatro foi construído, foi comprado á fazenda nacional. O theatro tem bellas accommodações e admitte 500 espectadores. Tem duas ordens de camarotes e uma espaçosa varanda em roda. 
As primeiras pinturas do theatro e scenario foram feitas pelo dr. Cumano e pelo cónego Rasquinho. O dr. Doglione deu ao seu theatro o nome de Theatro Lethes, por ser esta a denominação do rio do esquecimento e por desejar que dentro da sua casa de espectaculos se esquecessem todas as divergências politicas. É original esta lembrança. (...)


Na revista "Illustração Portugueza" de 22 de Fevereiro de 1909

A actual proprietária é D. Maria Victoria de Mattos Cumano. Foram feitas ultimamente importantes obras. Tem 15 camarotes de 1ª ordem, 15 de 2ª, 13 de 3ª e 12 frizas, 120 fauteuils e uma espaçosa varanda. A qualquer companhia pôde deixar 100$000 réis líquidos por espectaculo. Tem muito scenario em bom estado. Tem todas as prevenções para um caso de sinistro. 
Muito boas companhias de Lisboa e muitos dos nossos primeiros artistas ali teem representado, assim como companhias de zarzuela, tunas, etc. O theatro é cedido gratuitamente; mas as companhias cedem 10% da receita a favor do Albergue dos Inválidos de Faro. 
Depois das obras foi inaugurado em maio de 1908 pela companhia do theatro do Gymnasio, de Lisboa, dirigida pelo actor Valle, que ali deu quatro espectaculos.»


Artigo no jornal "O Algarve" de 21 de Outubro de 1928

O "Teatro Lethes" fica na família até 1951, tendo começado a funcionar também como cinema no início do século. Naquele ano, entretanto, é vendido à "Cruz Vermelha Portuguesa". Manteve, não obstante o ciclo de transformações, o caráter arquitetónico exterior do Convento e a estrutura interior de sala de espetáculos dos séculos XVIII e XIX, com a rede de camarotes adequada à dimensão da sala.






Fotos da autoria de Rui Serra Ribeiro, do interior da sala de espectáculos (in: Teatro Lethes)

«o aspeto continua a ser algo insólito, com a velha e poderosa fachada jesuíta encimada pela divisa Monet Obletanto e com a sala de traça romântica, frisa, três ordens de camarotes e uma belíssima alegoria à música no teto e na boca de cena» in: “Teatros de Portugal”, ed. Inapa, 2005.



A 5 de Outubro de 2012, por protocolo entre o Município de Faro e a "Cruz Vermelha Portuguesa", o "Teatro Lethes" recuperou o seu inicial desígnio. Nele foi instalada "A Companhia de Teatro do Algarve" - ACTA como estrutura residente. A ACTA, além de apresentar espectáculos de sua criação promove no "Teatro Lethes" também acolhimentos, cabendo-lhe ainda a gestão do equipamento.


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