O "Grand Hotel Lisbonense" abriu as suas portas pela primeira vez, na Rua do Olival de Cima, 28 (actual Rua General Queirós) na década de 80 do século XIX, nas Caldas da Rainha, promovido pelo galego Vicente Cyriaco Alonzo Paramos. O nome "Lisbonense" deve-se a uma homenagem de Vicente Paramos à sua esposa, Júlia Xavier Paramos, e um tributo à cidade de Lisboa que o acolheu aquando da sua emigração da Galiza para Lisboa. De referir que a família já possuía um hotel na zona de Sintra.
Inicialmente tratava-se de uma pequena unidade hoteleira, tendo inaugurado em 1 de Junho de 1889 (vide anúncio) outra unidade bem maior, no lugar actual, a qual viria a sofrer três grandes ampliações que iriam até à primeira década de 1900.
Este Hotel, com 120 quartos, salão de baile e bilhares era procurado por frequentadores das "Termas das Caldas da Rainha", em funcionamento desde o século XV, visitantes à "Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha" onde muitas vezes se podia encontrar o artista Raphael Bordallo Pinheiro em plena actividade e foi um grande dinamizador das Caldas da Rainha, tendo sido frequentado por artistas, aristocratas e membros da corte que acompanhava a família real portuguesa, que para tal reservavam o 1º piso. Abrindo as suas portas entre Abril e Janeiro recebia muito turista espanhol que ali passavam as suas férias.
Serviço de diligências anunciado em 7 de Junho de 1876
O jornal "Diario Illustrado" de 3 de Julho de 1897 publicitava:
(...) Os restantes aposentos são o que ali ha de melhor, e, com franqueza, os hóspedes do Grande Hotel Lisbonense, depois de ali estarem uma epocha, são certos nas seguintes, tal é a forma porque elles ali são tratados.
(...) Ha, muitas vezes, familias que, habituadas ao seu viver de casa, deixam de procurara os allivios aos seus padecimentos, fazendo uso das thermas que lhes são receitadas, receiosas da falta de conforto, mas essas famílias encontram no Grande Hotel Lisbonense todo o bem estar, e por isso sem receio o podem utilizar.
O grande Hotel Lisbonense tem um Club annexo onde a alegria reina constantemente. Tambem tem um excellente serviço de carruagens, cuja libré bem demonstra o quanto é grandioso em tudo o Hotel Lisbonense, que, repetimos, recommendamos a todos aquelles que veraneam nas praias ou thermas.»
Em em 1 de Julho de 1898, seria aberta uma sucursal deste hotel com o mesmo nome "Grande Hotel Lisbonense", na Figueira da Foz, no Bairro Novo, onde esteve sediado o "Hotel Real do Castela" como atesta o próximo anúncio publicitário publicado na revista "Vida Artística". De referir que esta sucursal é aberta após o encerramento da sucursal de São Martinho do Porto que esteve em actividade entre 1895 e 1898.
Nota: muito agradeço a colaboração do amigo e seguidor deste blog Sr. Vicente Martins nas preciosas informações prestadas para este parágrafo e não só.
No "Guia Oficial dos Caminhos de Ferro de Portugal" de 1913
A seguir publico excerto do livro "Three Pleasent Springs in Portugal" publicado em 1899 por Teignmouth, Henry Noel Shore, Baron, (1847-1926) que fala da sua estadia no "Grand Hotel Lisbonense":
"Three Pleasent Springs in Portugal" em 1899
O Chefe de Estado, General Óscar Carmona esteve no "Grande Hotel Lisbonense" em 1927 e em 1935, aquando da inauguração da estátua da Rainha D. Leonor, tendo almoçado no Hotel, com a companhia da comitiva e o Cardeal D. Gonçalves Cerejeira, Patriarca de Lisboa e Fernando Pessa, jornalista.
1925
«A tradição caldense de receber refugiados - graças à sua capacidade hoteleira termal que permitia alojar centenas de visitantes inesperados - parece ter sido uma constante no primeira metade do século XX. Já eram conhecidas as muitas histórias dos refugiados da II Grande Guerra (de longe a “invasão” mais marcante para a cidade), bem como a dos detidos alemães durante a I Grande Guerra. Mas pouco se sabia dos refugiados boers que perderam a guerra contra os ingleses no território que viria a ser a África do Sul, e que estiveram cerca de dois anos nas Caldas da Rainha alojados no Hospital Termal, nos Pavilhões do Parque e em casas particulares.»
«A razão porque eles assim tanto desejavam viver numa casa era porque homens e mulheres só estavam autorizados a estar juntos e conversar até às dez da noite. Outra razão é que as rendas de casa em Caldas da Rainha eram bastante baixas. A diária era de 30 reis por pessoa acima dos 12 anos e eram também usadas pelas famílias. (...) O descontentamento daqueles que moravam em casas de aluguer era que duas vezes por dia, às 12h e às 20h (...) tinham de se apresentar às autoridades portuguesas, o que produzia um certo mal-estar. No quartel deviam receber o subsídio de alimentação na cozinha central e deviam pagar as rendas em devido tempo. Para poder satisfazer estes requisitos, recebiam subsídios de renda de casa (...) Os membros da comissão para os refugiados, J. S. Marais, P. I. De Kock, A. van der L. de Villiers e W. J. Geerling, ficaram mais tarde no Grand Hotel Lisbonense»
Durante a Segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945), Caldas da Rainha viria a ser residência para muitos refugiados, principalmente judeus, como testemunha um filme da qual retirei dois fotogramas e disponível no seguinte link: "United States Holocaust Museum".
Depois de ter entrado em declínio após os anos 70 do século XX, tendo chegado a receber cidadãos vindos (vulgo "retornados") das ex-colónias portuguesas, e tornar-se-ia devoluto nos anos 80 até ao início do século XXI. Após várias tentativas de recuperação que nunca chegaram a ser efectivadas, o grupo FDO apresentou um projecto para a construção de um centro comercial e a autarquia condicionou a aprovação à recuperação do antigo hotel mantendo-se a fachada original. Tal não se viria a concretizar.
Em 2007, o grupo "Sana Hotels" adquiriu esta unidade hoteleira, tendo mantido a fachada original e deu o antigo nome do Hotel ao restaurante e bar como homenagem. A obra, orçada em cerca de sete milhões de euros, ficou marcada pela derrocada da fachada em Julho de 2008, causando ferimentos em dois operários. Mas o acidente não impediu que a reconstrução mantivesse a traça original do hotel.
Em 2 de Junho de 2011 era inaugurado o novo "Sana Silver Coast Hotel". Classificado de 4 estrelas, com 80 quartos e 7 suites, restaurante, bar, café esplanada e 3 salas de reunião, possui todas as valências que uma moderna unidade hoteleira deve possuir e oferecer aos seus hóspedes e visitantes.
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo Digital, Rainha das (m)águas
2 comentários:
Parabens - Excelente trabalho.
Obrigado
Vitor Pires
Um excelente trabalho para amantes da Hotelaria como eu.
Merece uma visita para rememorar todo o relatado
Walter de Araujo
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