O "Laboratório Sanitas", foi fundado em Abril de 1911 na Travessa do Carmo, 1 - 1º, em Lisboa pelo médico Francisco Cortez Pinto, e o farmacêutico Horácio Pimentel, tendo, para o efeito, constituído a firma "Cortez Pinto & Pimentel, Lda.". A palavra Sanitas é um substantivo latino que significa Saúde ...
Francisco Cortez Pinto (1885-1974) foi um major médico de carreira, que teve consultório no nº 24 da Rua Dom João V, tendo sido, a partir de 1939, o 1º Presidente da Direção do "Grémio Nacional dos Industriais de Especialidades Farmacêuticas".
Francisco Cortez Pinto (1858-1974)
Como industrial, Francisco Cortez Pinto exerceu cargos dirigentes em empresas dos setores metalúrgico, eléctrico, do papel, do mobiliário metálico, da banca e dos seguros tendo também até aos seus 89 anos de vida desempenhado vários funções na direção da "AIP – a Associação Industrial Portuguesa" tendo sido seu Presidente da no período entre 1941 a 1960, tendo logo no exercício do seu primeiro mandato a AIP adquirido uma nova sede na Avenida da Liberdade. Em 1949, recuperou pavilhões da "Exposição do Mundo Português" de 1940 e transformou-os na "FIP – Feira das Indústrias Portuguesas", a antecessora da "Feira Internacional de Lisboa" inaugurada em 26 de Maio de 1957.
O "Laboratório Sanitas", manteve por décadas a sua "Farmácia Sanitas" na Praça Luís de Camões, em Lisboa. Era sua directora técnica, em 1931, a farmacêutica Esperança Castro Ferreira, licenciada pela Faculdade de Farmácia de Lisboa. «Escrevo no antigo laboratório da Farmácia [Sanitas], no tempo em que as mezinhas eram manipuladas aqui nas traseiras. São cerca de 17:00 e os empregados tomam cházinho com bolos. (...) Ah! o cházinho é porque a minha tia Esperança faz... 71» in: blog "Kant o Photomático"
O "Laboratório Sanitas", que adquiriu uma dimensão inédita no cômputo da indústria farmacêutica nacional, como deixou, aliás, bem claro no seu Catálogo Geral de 1934:
«Tal como está actualmente organizado, o Laboratório Sanitas é um dos melhores estabelecimentos do género na Europa, não só pela proficiência como estão montadas todas as suas secções, como ainda pela organização científica que a elas preside. As suas instalações são constantemente visitadas por Médicos, Professores de Medicina e pelos cursos dos últimos anos de medicina das Por toda a parte se admiram os mais modernos maquinismos, tanto nos laboratórios propriamente ditos, com os seus aparelhos de emulsionar, comprimir, encher ampolas, fabrico de pastas, pensos e outros produtos, como nas sa- las de estufa, empacotamentos, galeria de máquinas, instalação de caldeiras, gabinete de consultas e tratamento e oficinas de lavagem de garrafas e frascos. Os serviços são extraordinariamente simplificados pelo emprego mecânico, que lhes assegura o máximo da produção com um mínimo de pessoal. Nos mesmos edifícios encontram-se os depósitos de embalagens. A colagem de rótulos, o encher dos frascos, dos tubos, a rolhagem, tudo tem o seu maquinismo apropriado a assegurar-lhe a perfeição do acabamento. Nos vastos terrenos onde se encontram os laboratórios estão situadas todas as instalações fabris da Sanitas, num conjunto de edifícios. Assim, logo à entrada fica a secção de contabilidade, numa casa própria e os armazéns de drogas num grande pavilhão com anexos, onde se faz a distribuição dos produtos químicos e se recebem os já manufacturados, a fim de serem transportados para as secções de Expedição e Exportação. Há também um serviço especial de bacteriologia, com salas de preparação, salas de estufa, geleiras, etc., sob a direcção de três técnicos especializados, distintos bacteriologistas, ocupando outro edifício, em cujo primeiro andar fica a sala de Conferências. Escolas Médicas, que todos os anos fazem uma visita de instrução ao nosso Laboratório».
Fruto do desenvolvimento comercial que alcançara em menos de 20 anos, em Junho de 1930, o "Laboratório Sanitas" inaugurou novas instalações, concentrando perto das Amoreiras, na então Rua Silva Carvalho, (futuro quarteirão formado pelas Ruas D. João V, Custódio Carvalho e Silva Carvalho) toda a componente fabril. Num conjunto edificado que ocupava mais de 7.000 metros quadrados, os laboratórios em si encontravam-se instalados em seis edifícios com 40 metros de comprimento e 8 de largura
O jornalista da revista "Indústria Portuguesa" que cobriu a inauguração afirmou que «por toda a parte se admiram os mais modernos maquinismos, tanto nos laboratórios propriamente ditos, com os seus aparelhos de emulsionar, comprimir, encher ampolas, fabrico de pastas, pensos e outros produtos, como nas salas de estufa, empacotamento, galeria de máquinas, instalação de caldeiras, gabinete de consultas e tratamento e oficinas de lavagem de garrafas e frascos». O repórter ficou particularmente impressionado com a mecanização das diferentes secções «que lhes assegura o máximo de produção com um mínimo de pessoal».
Em 1930, fruto do sucesso dos seus produtos no mercado brasileiro, e por intermédio de Thomaz Pimentel, foi instalado um laboratório na cidade de São Paulo, denominado "Laboratório Sanitas do Brasil".
Em 1945 inauguraria um novo e grandioso edifício implantado no mesmo local, e cujo projecto foi da autoria do arquitecto Raúl Rodrigues Lima (1909-1980), o mesmo que projectou o "Cinema-Teatro Monumental", o "Cinema Cinearte" e o "Cinema Europa".
Entrada do novo edifício
Foto nos anos 60 do século XX
Salão de exposição
«Como refere Bispo (2015), Luís Dourdil e Fernando Carvalho Seixas (administrador e sócio do laboratório Sanitas) partilhavam amizade e gosto pelas artes. Carvalho Seixas era tido como um inovador no que diz respeito às embalagens farmacêuticas, decidindo convidar Luís Dourdil para responsável do gabinete de publicidade e artes gráficas do Laboratório Sanitas. Ficou ainda encarregue de executar murais, por forma a ilustrar melhor a função e a atividade do laboratório, garantindo desta forma maior respeitabilidade ao Laboratório. Em 1996, devido a alterações no edifício os murais foram destacados e após conservação e restauro (colocação das pinturas em suporte artificial) pela empresa Mural da História, vieram a integrar a atual exposição do Museu da Farmácia anos.» (MCG - 1973.10.31)
Este complexo viria ser demolido nos anos 90 do século XX, para dar lugar a conjunto de edifícios de escritórios e habitação. Quanto ao "Laboratório Sanitas" mantém um escritório em Miraflores - Algés.
Espaço onde esteve implantado o "Laboratório Sanitas" (via Google Maps)
Nota: Foi consultado o livro: "A Indústria Farmacêutica em Portugal - 75 Anos" - Edição APIFARMA - Dez.2014.
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Kant o Photomático
3 comentários:
Meu caro José Leite
Tal como o saudoso Teatro Monumental, também este edifício de Rodrigues Lima foi destruído e no seu lugar fizeram um edifício banal e piroso!
E assim se vai perdendo o nosso património!
Um abraço
Álvaro Pereira
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Abraço
José Leite
Caro José Leite,
recordo que ali à volta, nos idos de 1951/52 os terrenos davam para ir jogar à bola. E lá íamos nós da Machado de Castro, até à SANITAS que eu e outros achávamos um piadão e dizíamos que íamos às sanitas!
Tempos!
Cumprimentos,
João Celorico
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