Restos de Colecção: Hospital Júlio de Matos

20 de junho de 2014

Hospital Júlio de Matos

O "Hospital Júlio de Matos", que começou a ser idealizado ainda em 1912, foi projectado pelos arquitectos Leonel Gaia, que concebeu o projecto inicial, e pelo arquitecto Carlos Chambers Ramos que a partir de 1933 assumiu a execução das obras, introduzindo importantes modificações. Quanto ao arranjo paisagista ficou a cargo dos professores Caldeira Cabral e Azevedo Gomes. Nos equipamentos finais participaram o arquitecto Raúl Lino e os engenheiros Jacôme Castro e Raúl Maças Fernandes.

Hospital Júlio de Matos.22

 

A comissão instaladora do futuro "Hospital Júlio de Matos", foi constituída pelos professores António Flores e Henrique Barahona Fernandes e pelo coronel Ricardo Amaral.

Inaugurado em  2 de Abril de 1942 o seu primeiro director foi o professor de neurologia António Flores. Na inauguração estiveram presentes os ministros do Interior e das Obras Públicas Dr. Mário Pais de Sousa e o engº Duarte Pacheco respectivamente, e o sub-secretário da Assistência Social.

«Conta-se que após o assassinato de psiquiatra Miguel Bombarda, a 3/10/1910, foi chamado a Lisboa Júlio de Matos. Este encontrou no Hospital de Rilhafoles (actual Hospital Miguel Bombarda), o empresário António Higino Salgado de Araújo que aí tinha sido forçadamente internado pelos seus sócios.
Esta insólita estadia de Salgado de Araújo acabou por o sensibilizar para as degradantes condições em que viviam os doentes mentais, levando-o a deixar em  testamento ao Estado terrenos para a construção de um novo hospital psiquiátrico.
Se terrenos havia, o que não abundava era dinheiro para realizar a obra. Foi com as escassas verbas do antigo fundo para o tratamento e assistência de alienados, criado em 1875, que se iniciaram os primeiros estudos e em 1913 as obras do então chamado "Novo Manicómio de Lisboa ou do Campo Grande". 
A construção do hospital ficou em grande parte, a dever-se ao entusiasmo e influência do psiquiatra Júlio de Matos ( 26/01/1856 -12/4/1922), que acabou justamente por dar o nome ao hospital (1941). Quando morreu os poucos edifícios já construídos estavam ainda ao tosco. A crónica falta de verbas do país arrastou as obras a longo de três décadas.
Uma das cláusulas do testamento de Salgado obrigava que o Estado construísse o hospital antes de 1940. E o Estado assim fez.
Á pressa como sempre, em 1939, fez o muro e concluiu-se o Pavilhão que ficou conhecido como Clínica de Homens e que ostenta uma lápide, em pedra, com o nome Pavilhão Salgado de Araújo.» in Jornal da Praçeta

“Hospital Júlio de Matos” em construção

 

 

Garantido aquele enorme espaço de 22 hectares, o Estado edificou nele sucessivamente segundo um plano de ocupação os vários serviços e 33 pavilhões, em geral com dois pisos e uma cave. Um lindo enquadramento paisagístico de arvoredo frondoso, jardins e relvados em torno dos edifícios.

Quem olhava para dentro daquele parque a partir da porta na Avenida do Brasil tinha à sua direita os pavilhões de tratamento de homens e à sua esquerda simetricamente os edifícios para mulheres.

Centralmente estavam de sul para norte o edifício da direcção, secretaria e serviços administrativos bem como o Instituto de Assistência Psiquiátrica e o respectivo Dispensário de Higiene Mental, e na cave a Cantina onde o pessoal se podia abastecer a preços módicos, seguido de edifícios singulares como o Bar do Pessoal, Unidades de meios auxiliares de diagnóstico (RX, EEG), tratamento de dentes, consulta de clínico geral, etc; residência do Enfermeiro Geral e do jardineiro; residência dos médicos; cozinha e refeitório; Arquivo; Farmácia; Laboratório de análises clínicas; e finalmente os serviços industriais e lavandarias.

Corredor e futura enfermaria

 

Cozinha em fase de montagem

Junto à Av. do Brasil a partir do lado nascente, vivenda residência do Director Clínico e do Administrador, Pavilhão de Pensionistas Homens, e simetricamente Pavilhão de Pensionistas Mulheres, vivenda residência do Director e de outro médico. Mais tarde foi edificado o Pavilhão de tratamento de Alcoólicos Professor António Flores.

Havia ainda serviços de tratamento de crianças o grande “laboratório” de iniciação do Dr. João dos Santos. Este ilustre psiquiatra, logo após se ter formado em medicina, ingressou no "Hospital Júlio de Matos", em 1945, mas acabou por ser demitido um ano depois pelo regime salazarista. Foi readmitido em 1955, passando a dirigir a secção infantil.

No lado nascente do hospital havia o Pavilhão de Neurocirurgia onde o Professor Almeida Lima e seus colaboradores muito operaram na continuação do prémio Nobel Prof. Egas Moniz e onde por vezes fez algumas lobotomias pré frontais.

De referir as residências de enfermeiros e simetricamente de enfermeiras respectivamente a norte das residências referidas. Havia ainda campos de ténis e de futebol de cinco para uso do pessoal e doentes. 

O "Hospital Júlio de Matos", foi convertido no  “Parque de Saúde de Lisboa” abrange o espaço que pertenceu ao Hospital. Nas últimas décadas nos seus 22 hectares, foram sendo instaladas diversas entidades públicas e associações privadas.

Parque de Saúde de Lisboa”

 

 

 

Em Novembro de 2007, no meio de uma enorme polémica foi criado o “Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa”, integrando o “Hospital Júlio de Matos” e o “Hospital Miguel Bombarda” entretanto encerrado.

Actualmente, com 62 anos de existência tendo passado por várias crises - a mais grave a ameaça da sua demolição nos anos 80 do século XX, o Hospital atende mais de 15 mil doentes por ano (cerca de 40 mil consultas, 1 700 internamentos e mais de 7 mil urgências), serve uma população de mais de um milhão de habitantes. Dispõe de vários serviços quer no Hospital, quer na comunidade: consultas de várias especialidades (psiquiatria, psicologia, neurologia, medicina interna, endocrinologia, sexologia, etc.); área de reabilitação psicossocial, com residências de transição; meios complementares de diagnóstico; grupo de teatro terapêutico e equipas comunitárias multidisciplinares.

Bibliografia: Também foram consultados os sites: Jornal da Praçeta e Tinta Fresca

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo Municipal de Lisboa

5 comentários:

Vespinha disse...

Gostei da reportagem. Mas o que é aquela sala com umas máquinhas redondas no meio?

José Leite disse...

Cozinha do Hospital ainda em fase de montagem.

São panelas industriais

Vespinha disse...

Nunca pensei... obrigada!

Tiago Silva disse...

Bom artigo! Obrigado!

António José. disse...

Excelente documentário ! Grato. pela sua públicação.
António José.