Em 1933, por ocasião do encerramento do Congresso dos Clubes Desportivos, o Presidente do Conselho Dr. Oliveira Salazar afirmou a importância do desporto na educação dos jovens com vista ao «crescimento de uma raça forte e sã que pudesse vir a defender o seu país». Nesta ocasião o Dr. Oliveira Salazar prometeu aos desportistas portugueses a construção de um “Estádio Nacional”.
Foi em 1934 que foi lançado o concurso para o Estádio Nacional, concurso esse que previa a instalação de um grande complexo desportivo e a valorização do vale do Rio Jamor a par da integração de uma série de estruturas desportivas.
Uma das propostas para o futuro “Estádio Nacional”, foi apresentada pelo arquitecto Cristino da Silva que concorreu associado ao arquitecto Constantino Constantini que tinha realizado o Fórum Mussolini de Roma.
Maquetas e desenhos da proposta do arquitecto Cristino da Silva
Uma outra proposta foi apresentada pelos arquitectos Carlos Ramos e Jan Wills associados à “Sociedade Capenon Bernard” de Paris.
Maqueta e desenhos da proposta do arquitecto Carlos Ramos
Mais uma proposta foi apresentada pelos arquitectos Jorge Segurado e António Varela ambos ligados à empresa “SETH - Sociedade de Empreitadas e Trabalhos Hidráulicos” e à equipa do urbanista Robert Pommier.
Projecto do arquitecto Jorge Segurado
Ficaram apenas duas equipas seleccionadas para uma 2ª fase do concurso, que eram a de Jorge Segurado e António Varela com a SETH e a Mecotra com o arquitecto Carlos Ramos.
Plano inicial para o Complexo Desportivo do Jamor pelo arquitecto Jacobetty Rosa em 1939
Terrenos do Vale do Jamor antes e durante a construção do Estádio Nacional
O “Estádio Nacional”, também chamado “Estádio do Jamor” por estar implantado no Vale do Jamor, foi inaugurado em 10 de Junho 1944. Este Estádio foi uma criação do Estado Novo, que procurava com este novo recinto não só a promoção da prática do desporto, mas também a criação de um espaço para manifestações públicas inspiradas nos princípios políticos vigentes.
Para que o projecto do ministro das Obras Públicas, engenheiro Duarte Pacheco, fosse uma realidade, foi escolhido o arquitecto Miguel Jacobetty Rosa, já depois do afastamento, numa fase final do concurso público, dos projectos dos arquitectos Caldeira Cabral e Konrad Wiesner, de Jorge Segurado e de Carlos Ramos. O projecto da Tribuna de Honra é de Jacobetty Rosa e do engenheiro civil Sena Lino
O projecto de engenharia do estádio é de 1939 e é da autoria dos engenheiros civis Júlio Marques e António Brito.
Influenciado por obras como o Estádio Olímpico de Berlim, a edificação do “Estádio Nacional” levou cinco anos a ser concluída - desde a planificação (1939) até à sua construção -, sendo, mais tarde, inserido no Complexo Desportivo do Jamor, uma ilha verde no seio da Área Metropolitana de Lisboa.
«No dia 10 de Junho de 1944, "Dia da Raça", foi inaugurado em Lisboa, no vale do Jamor o Estádio Nacional. Mais do que um recinto desportivo, o Estádio assumiu, na época, o papel de uma bandeira propagandística. Era um projecto caro ao recentemente falecido ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco. (...) A ideia de construir um "campo de futebol" com capacidade para 55000 pessoas pareceu a muitos megalómana. (...)
A aposta de Duarte Pacheco ia, no entanto, revelar-se acertada. Logo na inauguração o Estádio Nacional acolheu mais de 60000 pessoas, para uma cerimónia que o DN considerou "uma grande afirmação nacional de optimismo, disciplina e beleza". Presidida por Carmona e Salazar - a quem os "desportistas portugueses" dirigiram um fervoroso agradecimento ("Obrigado pelos séculos fora!"), a festa de inauguração culminaria com um Sporting-Benfica, que os leões ganharam por 3-2, após prolongamento.
Mas a partir daí, o Estádio, enchente atrás de enchente, tornou-se a "casa" da selecção nacional, que aí jogou todos os seus jogos em Lisboa, nos doze anos seguintes. E tal foi a sequência de resultados dos dois primeiros anos que se começou a falar em invencibilidade, e o Jamor passou a ser talismã da selecção.»
texto in: Manuel Luís Mendonça em Portugal: A História da "Equipa de Todos nós".
A cerimónia de inauguração foi uma das maiores manifestações populares do Estado Novo, evidenciada nos documentários filmados da época. A “Mocidade Portuguesa” com 3.600 filiados na classe de ginástica, a “FNAT - Federação Nacional para a Alegria no Trabalho” (hoje INATEL) com 4.000 elementos, e os clubes desportivos com cerca de 3.000 desportistas, participaram nesta festa de inauguração. 60.000 pessoas estiveram presentes nesta festa.
Neste dia de inauguração, teve lugar um jogo Sporting-Benfica em que o Sporting venceu por 3-2. Peyroteo marcou 2 golos e Eliseu 1, para o Sporting. Espírito Santo e Júlio marcaram pelo Benfica . As equipes eram assim constituídas:
- Sporting: Azevedo; Cardos e Manuel Marques; Canário, Barrosa e Eliseu; Mourão, João da Cruz, Peyroteo, António Marques e Albano
- Benfica: Martins; César e Carvalho; Jacinto , Albino e F. Ferreira; Espírito Santo, Arsénio , Júlio, Teixeira e Rogério
Por despacho do subscretário de Estado das Corporações, foi determinado o encerramento dos estabelecimentos industriais e comerciais da cidade de Lisboa a partir das 13 horas de Sábado dia 10 de Junho. O “ACP - Automóvel Club de Portugal” fez a venda dos bilhetes, na sua sede, de entrada dos automóveis para os parques de estacionamento do Estádio.
Um dos parques de estacionamento automóvel
Bilhetes
Bilhetes gentilmente cedidos por Carlos Caria
Por força dos racionamentos impostos pela II Guerra Mundial, a circulação dos automóveis particulares era condicionada às segundas, sextas e sábados, pelo que foi solicitada uma excepção, a título extraordinário, para que no Domingo seguinte à inauguração a proibição fosse suspensa, a fim das pessoas que tinham vindo de outros pontos do país, pudessem regressar ás suas casas.
Em 1967, o “Estádio Nacional” foi escolhido como anfitrião para a prestigiada final da Taça dos Campeões Europeus. O jogo foi disputado entre o “Celtic Football Club” e “Inter Milão”. Os escoceses venceram por 2-1.
Cronologia:
1934, 1 Março - Data da publicação por portaria do concurso para a elaboração do Estádio Nacional.
1935, Janeiro - A Comissão do Estádio Nacional anuncia os resultados da 1ª fase do concurso para o Estádio Nacional.
1936 - Jogos Olímpicos de Berlim.
1937, Setembro - Caldeira Cabral é abordado por carta por José Belard da Fonseca, Engenheiro e professor do Instituto Superior Técnico, e director da “Sociedade de Empreitadas e Trabalhos Hidráulicos, Lda.” (SETH) solicitando a sua colaboração no projecto do Estádio Nacional.
1938, 16 Março - "Memória Descritiva e Justificativa do Projecto do Novo Estádio de Lisboa" assinada por Caldeira Cabral.
1938, Setembro - Adjudicação do projecto do Estádio a Caldeira Cabral e Konrad Wiesner.
1938, Outubro - Prazo de entrega do ante-projecto. A entrega do projecto definitivo foi realizada 1 mês e meio após a data de aprovação do ante-projecto.
1938 e 1939 - Elaboração do Projecto de Execução do Estádio.
1939 - Início da Construção do Estádio Nacional.
1939, Abril - Projecto dos engenheiros civis Júlio Marques e António Brito que assenta num rebaixamento da cota do Estádio assegurando «por um lado, uma implantação dos degraus com largura e alturas constantes mas variando o gradiente da altura e, por outro, um posicionamento adequado das alvenarias ao terreno, o que favorecia o esquema de cargas actuantes» .
1939/40 - Caldeira Cabral e Konrad Wiesner são afastados do projecto.
1939/40 - Entrada de Miguel Jacobetty Rosa no processo do Estádio Nacional.
1940, 14 Setembro - O jornal "O Século" trás na 1ª página uma foto com o Estádio em fase de acabamento de obra embora sem a Tribuna de Honra, cujas obras se deviam iniciar na semana seguinte, onde noticia a sua inauguração para Maio do ano seguinte.
1940 - Miguel Jacobetty Rosa concretiza a Tribuna de Honra do Estádio.
1940 - Ano das Celebrações dos Centenários: 800 anos de nacionalidade e 300 de independência, previsto para a inauguração do Estádio.
1944, 10 de Junho - Inauguração do Estádio Nacional e a Ideologia – O Estádio é inaugurado em 10 de Junho de 1944. António Ferro, director do Secretariado da Propaganda Nacional e Presidente da Comissão Organizadora da Festa do Estádio Nacional, profere aos microfones da Emissora Nacional, no mesmo dia da inauguração, as seguintes palavras:
«O que lá fora, em países de maiores recursos do que o nosso, leva seis meses, quando não um ano, a organizar, foi improvisado por nós em pouco mais de um mês. Experiência audaciosa, perigosa, alucinante, por vezes.Nunca em Portugal se realizara, ou sonhara, um espectáculo de massas de tal grandiosidade: cinquenta mil espectadores e doze mil praticantes. Mas julgo que chegámos a porto de salvamento (…). Mas a inauguração do Estádio ultrapassa os limites de uma simples festa desportiva, para atingir um significado mais alto e vivido, é o documento monumental do que se passou, sem deixar saudades, a época das promessas que não se cumpriam, que não passavam de palavras, a certeza da retórica, o juramento de pedra da nossa renascença. A festa da inauguração do Estádio não é apenas, portanto, a grande festa do Desporto Nacional, mas acima de tudo,a apoteose de Portugal Novo, a confiança no dia de hoje e a certeza do dia de amanhã.»
O Estádio ocupa uma área de mais de 200 hectares. Todas as instalações desportivas então existentes foram projectadas e construídas pela Comissão Administrativa do Novo Estádio de Lisboa. Esta Comissão Administrativa instalou os seus numerosos serviços no Palacete da Quinta da Graça, cedido ao ISEF em1982.
E já agora 3 panfletos de propaganda política do Estado Novo aludindo ao “Estádio Nacional “…
Nos ainda muitos anos de ditadura que se seguiram, o Estádio de Honra e a sua monumental Praça da Maratona foram palco das celebrações do 10 de Junho, cumprindo assim uma das funções para que tinha sido construído.
«A ideia de construir um complexo destinado ao ténis é praticamente contemporânea da decisão de construir o Estádio de Honra, embora só tenha sido posta em prática mais tarde, mas sob o lápis de um dos seus grandes obreiros, Miguel Jacobetty Rosa.
Campo de Ténis do Jamor
O traço distintivo deste, já realçado no edifício dos Balneários do Estádio de Honra e na sua Tribuna, surge-nos novamente nas instalações destinadas ao ténis, com os seus alpendres assentes em colunatas de arco de volta perfeita.
Desde cedo, foi um local de eleição da sociedade chique, que aí se deslocava para fazer o seu “sport” e para ver e ser vista, como hoje ainda sucede durante o Estoril Open.
Os campos de ténis do Jamor desempenharam um relevante papel na história da modalidade no nosso país. Uma escola de ténis, chamada Centro de Iniciação de Ténis da Cruz Quebrada, foi criada no contexto do Estádio Nacional em Outubro de 1967, por iniciativa do Prof. Alfredo Vaz Pinto. Foi a primeira escola de ténis em Portugal a ministrar aulas em grupo.» in blog: Liga dos Amigos do Jamor agradecendo desde já aos seus editores.
Estação de Caminho de Ferro do Estádio Nacional
Bilhete
Nota: Acerca desta estação de caminho de ferro consultar, neste blog o seguinte link: “Estação de C.F. do Estádio Nacional”.
A morte prematura do engenheiro Duarte Pacheco impediu a conclusão do projecto e deixou por concluir espaços como o Hipódromo, Piscina Olímpica, Centro Náutico, Parque Público e Ribeira do Jamor. As áreas por concluir permaneceram por largos anos abandonadas, ocupadas por equipamentos não harmonizados com o projecto inicial, ou cedidas a entidades privadas (“Viveiros do Falcão”, “Fermentos Holandeses”).
Também a praia da Cruz Quebrada, parte integrante do projecto inicial do Complexo, foi posta de lado.
1948
Presentemente, o Centro Desportivo Nacional do Jamor é uma unidade orgânica do Instituto Português do Desporto e Juventude. Este Centro é composto por:
- O Estádio de Honra, conhecido habitualmente como Estádio Nacional;
- O Complexo de Piscinas, inaugurado em 22 de julho de 1998;
- O Centro de Ténis, cujo Campo Central foi inaugurado em 10 de junho de 1945, e que é atualmente integrado por 35 campos;
- Pistas de atletismo, incluindo a do Estádio de Honra e a Nave Coberta;
- Campos de jogos para a prática de futebol, râguebi e hóquei em campo;
- Pista de atividades náuticas;
- Ginásio de ar livre;
- Carreira de tiro;
- Centro de estágio.
Nos últimos anos, o “Estádio Nacional” sofreu várias intervenções. Foram colocadas cadeiras plásticas brancas sobre as bancadas, e na Tribuna de Honra, foram colocados toldos, bancadas móveis, cadeiras e bancadas de imprensa.
E para terminar …
Foi também consultada a seguinte Bibliografia: “O Estádio Nacional e os Novos Paradigmas do Culto - Miguel Jacobetty Rosa e a sua Época”, Dissertação de Luís André Salgueiro Freire da Cruz - Universidade Lusíada de Lisboa (2005).
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Horácio Novais), Arquivo Municipal de Lisboa, Jamor Centro Desportivo Nacional, Liga dos Amigos do Jamor
9 comentários:
Nos anos 50, quando rapaz, fui um dia ao Estádio Nacional assistir a uma final da Taça de Portugal. Posso dizer que me apaixonei por aquelas paisagens. De tal modo que, em 1971, fui morar para bem perto de lá... e ainda por lá estou.
Os meus cumprimentos,
Manuel Tomaz.
Caro Manuel Tomaz
Partilho da sua opinião.
Ao Estádio Nacional só fui 1 vez e também assistir a uma final da Taça de Portugal, em 1969 Benfica-Académica, em que o Benfica venceu.
Os meus cumprimentos
José leite
Caro José Leite
Em primeiro lugar os meus parabéns por este excelente trabalho que nos faz recordar tempos passados.
Estive na inauguração deste Estádio, representando a minha Escola Primária Nº 15 no "Largo de Santos-o-Novo" em Lisboa. Devia ter nessa altura 7 anos (ia fazer os oito só no dia 25 desse mês), como já era um pouco entroncado não houve uniforme (e ainda bem) da "Mocidade Portuguesa" para mim. Mesmo assim lá me levaram e passei o tempo todo com uma "sandwich" e uns biscoitos que eles me deram. Como não estava fardado não desfilei e estive mais resguardado. Sei que existiram escolas de ginástica e aparelhos, não me lembro é do futebol, possivelmente os mais novos regressaram a casa mais cedo.
Passados anos voltei várias vezes ao Estádio Nacional, também por uma escola que desta vez era a "Esc. Comercial D. Maria I", para participar em jogos de futebol entre Escolas, no campo de treinos próximo do principal, que eram requisitados através da nossa escola. Bons tempos!
Um abraço
APS
Caro APS
Grato pelo seu comentário e pela partilha das suas recordações.
Um abraço
José Leite
Caro José Leite,
"Mais vale tarde do que nunca..." - deixei para melhor oportunidade a visualização (com calma) deste post relativo ao Estádio Nacional e ainda bem que o fiz. Muito bom! Parabéns!
Cordiais saudações,
Alberto Marques
Caro Alberto Marques
Muito agradecido pelas suas simpáticas palavras.
Os meus cumprimentos
José Leite
Caro José Leite,
Nasci em 1970 e fui morar para a Cruz Quebrada, brinquei, joguei, cresci dentro deste complexo desportivo e nos espaços em seu redor e é com um enorme prazer que vejo este seu post.
Prezo muito a minha terra, primeiro por ser um dos poucos espaços verdes que a grande Lisboa têm, e depois por saber que ela é recheada de história e não sabe o quanto o meu coração se encheu de recordações ao ver estas fotografias.
Não assisti a nada disto, é um facto, mas lembro-me de muita coisa aqui descrita que hoje já não existe, lembro-me perfeitamente do hipódramo e a sua gravilha branca, lembro-me da estação do comboio e da torre do relógio, lembro-me da raquete dos electricos, lembro-me da primeira piscina e do campo pelado ao lado dela, lembro-me do rio e do seu percurso original, sei lá, tudo isto me trouxe à memória a minha infância, e gostava muito de lhe agradecer por este pedaço de história mágnifico, e de nos trazer ao conhecimento tantas coisas que a minha geração e as seguintes simplesmente desconheciam.
Desportivamente falando, uma final da taça dos campeões europeus na minha terra? Quantas capitais europeias se podem orgulhar disso?
Poucas...
A Cruz Quebrada é simplesmente fantástica.
Um Muito Obrigado.
Cumprimentos,
Fernando Campos
Caro Fernando Campos
Eu é que agradeço a generosidade do seu comentário e das suas palavras.
Os meus cumprimentos
José Leite
O que por aqui se encontra....
Carlos Ramos associado a Jan Wills, um grande arquitecto holandês e autor do Estádio Olímpico de Amsterdam (foi lá que o Benfica arrecadou uma das suas taças europeias em 1962)
As equipas suecas do IFK Norrköping e AIK de Solna a jogarem contra Benfica, Real Madrid e Sporting....coisas mesmo do passado :)
cumprimentos
Enviar um comentário