Em 21 de Fevereiro de 1858 o alfaiate portuense António Pereira Baquet mandou construir o "Theatro Baquet" na Rua de Santo António (actual Rua 31 de Janeiro) na cidade do Porto. Em menos de um ano, a 13 de Fevereiro de 1859, o "Theatro Baquet" era inaugurado com um requintado baile de máscaras, cujo fundo musical esteve a cargo de uma orquestra pedida de empréstimo ao "Theatro de S. João" e dirigida pelo maestro Medina Paiva.
"Theatro Baquet"
Com a porta principal na Rua de Santo António e uma saída de serviço para Sá da Bandeira, o "Theatro Baquet" não era um edifício excepcional, mas possuía uma fachada, enriquecida com uma varanda em pedra, onde repousavam quatro estátuas, figurando, respectivamente, a Pintura, a Música, a Comédia e as Belas-Artes. O desenho da frontaria coube a Guilherme Correia e as pinturas da sala foram realizadas por João de Faria Teives. No interior, destacavam-se ainda os panos de boca, ornamentados com perspectivas do Porto.
1859 1873
No dia 20 de Março de 1888, representava-se, nessa noite, "La Gran Via", uma popular zarzuela do compositor espanhol Frederico Chueca, o maestro Ciríaco Cardoso dirigia a orquestra e a casa encontrava-se lotada.
Após ter sido detectado o fogo, nos bastidores, os acontecimentos precipitaram-se. O público compreendeu imediatamente o que se passava e correu para as saídas No pânico da debandada, boa parte dos espectadores optou pelo estreito corredor que levava à saída para a Rua Sá da Bandeira, e muitos não chegaram a atingir a porta de serviço, tendo tombado e sido pisados pela multidão em fuga. Da varanda do edifício, vários espectadores lançaram-se à rua, quebrando braços e pernas.O funeral das perto de cem vítimas, teve lugar no princípio da noite do dia 23, no Cemitério de Agramonte. Os cadáveres carbonizados foram depositados numa única vala, sobre a qual se ergueu um monumento construído com ferros retirados dos escombros do "Theatro Baquet".
Incêndio Interior do edifício após o incêndio
Demolido o que restava do "Theatro Baquet", no seu lugar foí construído o edifício que albergou os "Hermínios - Grandes Armazéns" tendo sido inaugurado Inaugurado em 1 de Julho de 1893. O Conde Henry Burnay (1838-1909), o financeiro que era chamado na imprensa «O Senhor Milhão», além de interesses, na banca, caminhos de ferro, indústria, e navegação, tinha uma participação societária neste estabelecimento.
Foi um dos grandes armazéns portugueses, a par dos "Grandes Armazéns Grandella e dos "Grandes Armazéns do Chiado", influenciados pelos grandes armazéns parisienses, como o "Bon Marché", que foi o primeiro grande armazém construído em Paris. A introdução dos novos conceitos do uso do ferro e do vidro na arquitectura levou à construção de um armazém luminoso, com cúpula de vidro central e grades de ferro circundando cada piso e deixando um espaço central, modelo que viria a servir de inspiração para vários outros edifícios comerciais. Os “Hermínios - Grandes Armazéns” eram na altura o maior estabelecimento comercial do Porto, visitado pela melhor sociedade. Tinham entrada pela Rua 31 de Janeiro e pela Rua de Sá da Bandeira.
"Hermínios - Grandes Armazéns"
Entrada pela Rua de Santo António Entrada pela Rua Sá da Bandeira
«A construcção é ampla, tem mesmo o que quer que seja de magestosa. Paredes altas, janellas largas, grande clarabóia, permittem que a luz entre em abundância, e que o ar seja constantemente renovado.
Sob este ponto de vista, os Herminios do Porto levara manifesta vantagem à casa Grandella de Lisboa, onde principalmente nas noites de verão, as senhoras precisam recorrer à ventilação artificial do leque, e onde,durante o dia, apenas entra uma pallida luz coada e baça.
Todo o edifício dos Hermínios está dividido em duas galerias, de muito pé direito, cujos varandins se debruçam sobre uma espécie de porão de navio, com a profundidade que lhe é permittida pela diferença de nível entre a rua de Santo António e a rua Sá da Bandeira.
(…) Candieiros de luz eléctrica fornecem a illuminação nocturna do edifício, melhoramento até hoje ainda não introduzido na casa Grandella de Lisboa.» in "do Porto e não só".
1898 1913
«Os Herminios possuem incomparavel sortimento, que sem exagêro, se póde considerar o primeiro do paiz».
Os “Herminios” eram também considerados uma instituição social, uma vez que abrangia cerca de 1.500 funcionários de todas as categorias. Dentro destas actividades sociais salientavam-se as excursões dos empregados, os grandiosos concertos, os “bodos aos pobres”, os saldos de ocasião e os balões oferecidos às crianças.
Anos mais tarde viria a encerrar e o edifício seria demolido, para dar lugar a um edifício de habitação em cujo rés-do-chão está hoje uma agência da "Caixa Geral de Depósitos".
fotos in: do Porto e não só, Garfadas Online, Biblioteca Nacional de Portugal, Hemeroteca Digital, Coisas da Vida
3 comentários:
Só uma pequena correção ao seu EXCELENTE trabalho -
Antonio Pereira Baquet faleceu com 63 anos a 25/12/1867, pelas 09:00, no n.º 157 da R. de Santo Antonio na freg. de Santo Ildefonso (assento de óbito on-line)tenho o seu testamento cerrado sido aberto nesse mesmo dia (assento de óbito on-line):
nasceu na zona do Bonfim como Antonio Pereira, perto das Goelas de Pau, por volta de 1803 / 1804;
emigrou com sua família para Espanha em 1828 (seu pai ? Pereria era negociante) tendo aí aprendido a arte de alfaiataria e casado, de onde regressou ao Porto em 1836 com sua mulher instalando-se na Praça da Batalha como contramestre em casa do 1.º alfaiate da cidade, o Capella.
Caro José Rodrigues
Muito grato pela sua "achega".
Os meus cumprimentos
Gostei. Não sabia da existência destes armazéns...
Enviar um comentário