Restos de Colecção: Salão Central

25 de janeiro de 2013

Salão Central

O “Salão Central” propriedade de Raúl Lopes Freire, distribuidor de filmes, através da sua empresa “Empreza Portugueza Animatographica Limitada”, situado no Palácio Foz na Praça dos Restauradores em Lisboa, foi inaugurado em 18 de Abril de 1908. Esta empresa era constituída por: Arthur Gottschalk, Raul Lopes Freire e seu irmão Augusto Freire, Carlos Ribeiro Nogueira Ferrão, Alberto Coutinho Freire e Jaime Guerra da Veiga Pinto. Este animatógrafo ia ocupar as antigas instalações da firma de instalações artigos eléctricos de Arthur Gottschalk.

Topo norte do Palácio Foz antes e depois da abertura do “Salão Central”, com a “Legação da América” no andar de cima

 

Como referi no postCinematógrafos e Animatógrafos”, lembro que neste ano de 1908 foram inaugurados os seguintes animatógrafos:

- 18 de Março – O “Salão Jardim Passos Manuel”, no Porto
- 21 de Novembro – O “Salão Terrasse”  ao ar livre para 650 espectadores., e que mais tarde , remodelado, mudaria de designação para "Chiado Terrasse".
- O "Cinema Águia d'Ouro" no Porto.
- O "Salão High-Life" na cidade do Porto no Jardim da Cordoaria

- O "Novo Salão High-Life" na cidade do Porto na Praça da Batalha

Era na época a sala de cinema mais luxuosa de Lisboa, tendo esta sido construída na capela privativa do Palácio Foz. A sua decoração era original, criando um ambiente de fundo do mar no sentido de conferir um certo ar de frescura, efeito esse obtido através da utilização de cartão-pasta modelado. A disposição do ecrã também era outra novidade, porque se situava do lado oposto onde se encontra actualmente e se manteria assim até à grande transformação da sala em 1919. Poderia acomodar 425 espectadores. As projecções eram acompanhadas por um quarteto de músicos. 

 

                                                                                 Publicidade em 1908

                                        

                

Em 1908 a oferta de casinos e animatógrafos em Lisboa eram a que se reproduz no seguinte anúncio.

                                 

O "Salão Central" teve a sua génese no cinematógrafo "Salon Chiado" que tinha sido inaugurado em 25 de Dezembro de 1906, na Rua Nova do Almada, 116 (numa loja do edifício dos "Grandes Armazéns do Chiado"), em Lisboa, tendo sido seu proprietário a firma "Varona & C.ª" do mesmo Raul Lopes Freire.

Devido ao retumbante sucesso deste "Salão Chiado" o seu espaço já era mui exíguo para a demanda, pelo que num artigo da "Folha de Lisboa" ...

« (...) A multidão de espectadores era imensa, precisava de um salão maior, com comodidades, luxo e bom gosto, e desenvolver a cinematographia. Foi então quando constituiu uma sociedade para se inaugurar na Praça dos Restauradores um outro cinema, o Salão Central.»

Apesar da abertura deste novo cinematógrafo nos Restauradores, o "Salão Chiado" continuou aberto à sua clientela habitual sempre com boas performances de bilheteira. Contudo, no final de 1908 Raul Lopes Freire decidiu pôr fim ao curto, mas brilhante, percurso do "Salão Chiado" para se dedicar exclusivamente à exploração, mais rentável, do novo "Salão Central",

Em 1912 o “Salão Central” passa a pertencer à recém criada, por Raúl Lopes Freire, “União Cinematographica Limitada”  que passa a ser proprietária também, do “Chiado Terrasse” em Lisboa, e do salão “Jardim Passos Manoel no Porto, ambos inaugurados em 1908.

                                                                                 Publicidade em 1912

                    

1913

1915


Raul Lopes Freire era um homem de negócios, extremamente dedicado à exploração cinematográfica. Em 1919, encerrou este espaço para obras. Sob a sua concepção técnica e sob projecto do arquitecto João Baptista Mendes, a reconstrução deste salão foi profunda e ficou a cargo do construtor Manuel Eanes Trigo, seu sócio no "Salão Foz"

A sala era constituída por uma ampla plateia (por aquilo que normalmente se tem chamado de balcão de 1ª ordem) ao qual foi dada o nome de tribuna, que dava lugar a cinco camarotes e, num nível superior, ao balcão de 2ª ordem. A sua inauguração também no mesmo ano foi um verdadeiro acontecimento no meio cinematográfico lisboeta. Foram saudados a largura do espaço o que permitia ventilação; a abertura de novas portas de saída; o desaparecimento das incómodas colunas que estorvavam e claro, os pormenores luxuosos evidentes no rico pano de veludo que encortinava o ecrã; no mobiliário ostentoso; nas esculturas ornamentais, na decoração em branco e oiro. Também é de salientar a existência de um novo sexteto musical dirigido por Luís Barbosa, uma importante figura do panorama musical português da época.

O “Salão Central” oferecia uma capacidade para 425 espectadores.

                                               Sala                                                                                          Planta 

         

                                 Salão Central.8

                    

10 de Maio de 1916

                                                  1916                                                                                    1919

              

Depois de ter encerrado em final de Dezembro de 1926, em 1928 foram iniciadas obras e uma profunda remodelação, pelo que em Setembro do mesmo ano podia-se ler no nº 4 da revista mensal de actividades cinematográficas “Vida Portugueza” :

«No Salão Central continua a azáfama, por parte dum numeroso grupo de operários, para transformarem o popular cinema numa elegante "boite" que, no próximo mês de Outubro, abrirá as suas portas completamente remodelado, e onde Raul Lopes Freire, o simpático distribuidor, fará exibir os melhores filmes da sua casa, tais como "Madame Recamier", "Gabinete do Dr. Caligari", "A Ultima Valsa", "La Grande Epreuve", etc.».

O “Central Cinema” viria a ser inaugurado em 17 de Novembro de 1928 …

                                       

Novo interior do “Central Cinema”

                                         “Central Cinema”                                                                          1928

                       

Programa da época 1932/1933

Bilhete de 1942


gentilmente cedido por Calos Caria

A propósito da inauguração, o “Diário de Lisboa” escrevia:

«Com uma sala cheia da mais selecta assistencia inaugurou-se no sabado o «Central». Ha muito tempo que os cinéfilos aguardavam a reabertura do antigo e popular cinema, transformado na mais elegante "boite" que Lisboa fica possuindo. E o ambiente que aguardava a inauguração era absolutamente favoravel.» (...)

(...) «A disposição do átrio, a elegancia das escadas, o conforto luxuoso e discreto da sala de espectaculos, o conforto das cadeiras, a correcção e a facilidade dos serviços, a nitidez da projecção, a selecção do programa, o acêrto da adaptação musical, o bom gosto dos impressos distribuidos ao publico, a disposição e os atractivos do bar, tudo, absolutamente tudo, foi louvado como era justiça.» (...)

(...) « O público, que ha três dias aflui sem interrupção ás bilheteiras, que se apresse, pois pode ir absolutamente descansado sôbre a qualidade do programa e a segurança da sua permanencia.»

O “Central Cinema” e o reclamo ao “Maxim’s”, no piso superior

O “Central” Cinema encerraria a 9 de Julho de 1945 com a última exibição do filme “O Fantasma da Córsega”.

fotos in: Cinemateca Portuguesa, Cinema aos Copos, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca Digital

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