António Ferreira Lopes nascido em 1845, na Póvoa de Lanhoso, aos 12 anos emigrou para o Brasil, para a cidade de Rio de Janeiro, empregando-se como marçano numa loja de cereais. Aos 25 anos, associa-se, como "interessado" à "Câmara & Gomes", um grande estabelecimento comercial que dava então os seus primeiros passos e que tinha como sócio maioritário um outro emigrante português: Manoel de Pontes Câmara de seu nome, e rico comerciante da cidade.
António Ferreira Lopes
António Ferreira Lopes começava naquela empresa uma vida de êxito. Alguns meses depois, conheceu na casa de Pontes Câmara a filha deste, Elvira, com quem iniciou um namoro. A vida sorriu-lhe por todas as formas. Para além dos cereais, a "Câmara & Gomes" encontra-se envolvida em negócios de couros e, especialmente, de cafés, com a empresa “Cafés Câmara - Torrefação e Comércio”. Torna-se produtora e exportadora para toda a Europa do chamado "ouro verde". A par do comércio, António Lopes detinha negócios de empréstimos de capital a juros.
Em 1875 António Ferreira Lopes, casa com D. Elvira Câmara, filha do seu patrão e herdeira dos “Cafés Câmara - Torrefação e Comércio”, vindo mais tarde a tomar conta da gerência da empresa.
De regresso a Portugal em finais da década de 1880, e com uma enorme fortuna, António Ferreira Lopes passa a ter casa em Lisboa e na Póvoa de Lanhoso, onde, para sua residência, manda construir o belo palacete das Casas Novas. Sem filhos, o casal dedica-se à benemerência. Em 1904 é António Lopes que custeia a fundação do Theatro Club, em cujos fundos trata de instalar uma Corporação de Bombeiros, cujos custos também sustenta. Entre 1900 e 1927, data da sua morte, António Lopes faz muitas outras obras na terra, da abertura de estradas à doação de terrenos para espaços públicos, do arranjo de jardins à construção do primeiro bairro social que a terra teve A sua obra maior foi, contudo, a fundação de um hospital.
Hospital António Lopes, em 1917
Grande benemérito do concelho, manda construir um Hospital satisfazendo deste modo o pedido de sua falecida esposa, D. Elvira Câmara Lopes, desaparecida em 1910 e que, antes da sua morte, pedira ao marido que mandasse construir um hospital que tratasse as pessoas pobres do concelho.
Começada a sua construção em 1913, seria oficialmente inaugurado a 5 de Setembro de 1917, data do aniversário de D. Elvira, início e termo da obra esses que nos são recordados por duas alegorias colocadas de ambos os lados da escadaria nobre, que nos confere o acesso ao piso superior do edifício que, recorde-se, dispunha de todo o conforto e qualidade, à época em que foi construído, nele não faltando, sequer, o indispensável aquecimento central, tão raro nas construções da altura. De referir que o Hospital com que António Lopes quis dotar a sua terra se encontrava, à época, como um dos que melhor apetrechados tecnicamente estavam e sendo, inclusivamente, dos primeiros a ser dotado de aparelho de RX no nosso país.
Uma perspectiva do Vestíbulo Escadaria principal Outra perspectiva do Vestíbulo
Entre 1917 e 1927 (ano da sua morte), António Ferreira Lopes custeou todas as despesas com o funcionamento da unidade de saúde, considerada pelos jornais nacionais da época como "o hospital privado modelo". Ali foram sempre atendidos gratuitamente os doentes pobres do concelho da Póvoa de Lanhoso. grande benemérito do concelho, manda construir um Hospital satisfazendo deste modo o pedido de sua falecida esposa, D. Elvira Câmara Lopes, desaparecida em 1910 e que, antes da sua morte, pedira ao marido que mandasse construir um hospital que tratasse as pessoas pobres do concelho.
Enfermaria de homens Capela e casa mortuária
O "Hospital António Lopes" é uma das jóias arquitectónicas da Póvoa de Lanhoso, pela sua imponência e pela traça que lhe foi conferida pelo arquitecto João Moura Coutinho, autor do projecto e, à época, nome de referência da nossa arquitectura, com projecção aquém e além fronteiras.
A beleza arquitectónica foi complementada com a beleza artística que António Lopes quis que estivesse presente na obra que ele legava ao concelho e, daí, nenhum pormenor ter sido descurado, desde os enormes jarrões ou vasos cerâmicos de qualidade, a maioria dos quais se encontra ainda em perfeito estado de conservação, passando pela nobreza das madeiras utilizadas, para terminar no magnífico painel de azulejos que orna toda a parede do átrio da entrada principal, da autoria de Jorge Colaço. Este átrio é decorado com mosaicos no pavimento, pinturas no tecto, alem do revestimento azulejar com painéis descritivos da vida local, cujo ecletismo reflecte bem o gosto da época. Cada uma das cenas contém documentação etnográfica, rigorosa pela sua execução realista, de um tal valor artístico, que levou a que este átrio fosse classificado como de interesse público.
Azulejos pintados por Jorge Colaço no vestíbulo da entrada do Hospital
Em 24 de Janeiro de 1957 são inauguradas as grandes obras de remodelação do "Hospital António Lopes", permitiram dotar todo o hospital de condições adequadas à época em que vivemos e, ao mesmo tempo, recuperar e conservar o exemplar arquitectónico que ele constitui e que é orgulho dos povoenses.
Posteriormente este Hospital foi entregue à "Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso", que promove obras de restauro e remodelação. Recuperada a jóia arquitectónica hospitalar é reaberto em 5 de Setembro de 1998 o Hospital António Lopes.
Hospital António Lopes, actualmente
fotos in: ATPL, Misericórdia de Póvoa de Lanhoso, Hemeroteca Digital
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