Restos de Colecção: Padaria Ingleza

15 de setembro de 2024

Padaria Ingleza

A "Padaria Ingleza" ou mais oficialmente "English Bakery", foi fundada cerca de Dezembro de 1878, pelo inglês Jonh Broomfield na Travessa do Caes do Tojo, 15, ao Conde Barão em Lisboa. Mantinha igualmente um depósito (ou loja) na Rua Nova do Carmo, 104 e 106. Por essa altura comercializava pão fino, bolos, biscoitos, vinhos, conservas, chás e cafés, etc.


"English Bakery" ou "Padaria Ingleza" na Travessa do Caes do Tojo

22 de Dezembro de 1878


Localização do Caes do Tojo, à direita na carta topográfica de 1856


Depósito da "English Bakery" (dentro da elipse desenhada)


1888


1895

Em 1898, esta casa já era propriedade da viúva de John Broomfield, Mary Ann Broomfield, ano em que solicita em 28 de Outubro, o registo na Propriedade Industrial das marcas "Padaria Ingleza" e "English Bakery". Este pedido viria a ser aprovado em 14 de Agosto de 1900.


28 de Outubro de 1898

14 de Agosto de 1900

No início do século XX a "Padaria Ingleza, Lda." amplia as suas instalações na Rua do Caes do Tojo (ao Conde Barão) ao prédio vizinho, vindo a ocupar sucessivamente todas as lojas do mesmo. Nelas tinham funcionado os seguintes estabelecimentos: do nº 17 a 21, a estância e madeiras de Adolpho Arbués Ferreira Marques, que coabitava com a fábrica de carpintaria de Bernardino Filho & Ribeiro nos 19 a 21: no nº 25 a estância de carvão de João Coelho & Luiz Coelho.

Instalações da "Padaria Ingleza, Lda.", na já Rua Vasco da Gama (ex-Rua Caes do Tojo) ao Conde Barão

Esta loja foi mencionada por Fernando Pessoa numa carta datada de 2 Agosto de 1920, dirigida à sua amada Ofélia :

 «Querida Nininha pequena: Estarei no Conde Barão à tua espera das 8 às 8 1/2. Estou escrevendo de onde vês pelo papel, e o Osório vai fazer-me o favor de te levar isto, a casa da tua irmã.
Olha: estarei no Conde Barão, mas no recanto da Padaria Ingleza entre as duas horas citadas, que, creio, te serão convenientes» in: Cartas de Amor. Fernando Pessoa - Ática (1994).

Entretanto em 1905 o depósito/loja que a "Padaria Ingleza" mantinha na Rua Nova do Carmo, é trespassada a Joaquim Gonçalves da Costa "Fornecedor da Casa Real". Além de se intitular uma «Casa especial em café, chá, chocolates e outros generos» continuou a comercializar «Bolos, biscoitos e doces de fructas da Padaria Ingleza, vinhos finos, cognacs e licores». Por lá ficou uns anos.


"Joaquim Gonçalves da Costa ", no primeiro toldo à esquerda na Rua Nova do Carmo

20 de Dezembro de 1905

Em 1907 já era proprietário o capitalista e negociante inglês George Payne, que solicita, em 10 de Julho de 1907 o registo da marca "Broomfield English Bakeries", pedido este que viria a ser recusado em 11 de Agosto de 1908. Esta recusa não o impediu de utilizar a pretendida marca, como poderemos atestar pelos anúncios seguintes ...




22 de Dezembro de 1907


20 de Dezembro de 1908

Entretanto a "Padaria Ingleza" monta uma loja no Largo de São Julião, 8 e 9 , em Lisboa e que inaugurou por altura do Natal de 1907. A sua fachada e interior foram profundamente alterados, com a mesma em ferro e apresentando vitrais no mesmo estilo, ao nível do 1º piso, tendo seguido o estilo "Art Noveau" sob projecto do  arquitecto Claudio Martins (1879-1919). As obras ficaram a cargo do construtor Carlos Mestre Rodrigues.


"Padaria Ingleza" dentro da elipse desenhada. Em primeiro plano Eusébio Leão e Teophilo Braga


Lembro que a "Padaria Ingleza" manteve uma filial na cidade do Porto, na Rua da Constituição, inicialmente num pequena loja térrea e nos anos 30 do século XX essa loja viria a ser demolida para dar lugar a um edifício onde a "Padaria Ingleza (filial)" se instalou.



"Padaria Ingleza filial"

Em 1931 ainda existia e pertencia a António José Antunes, mas já atravessando alguns problemas, sendo executada em dois processos: num processo movido pela empresa "Sociedade de Moagem Carcavelos, Lda." e noutro movido pela "Moagens da Província, Lda.". Viria a declarar falência no ano de 1933.


Última aparição na imprensa, na revista "Ilustração Portugueza" de 16 de Dezembro de 1930

A loja da "Padaria Ingleza" do Largo de São Julião viria a ser comprada, mais tarde, para filial do "Banco Borges & Irmão", que ao ser adquirido pelo BPI em 1991, se tornaria agência deste. Depois de encerrada por uns anos, esta loja tornou-se na "Loja Lisboa" da Câmara Municipal de Lisboa.


Agência do BPI


Actual "Loja Lisboa" da CML


Antigas instalações da "Padaria Ingleza, Lda." na Rua Vasco da Gama ao Conde Barão (ver 3ª foto deste artigo)

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de LisboaBiblioteca Nacional DigitalArquivo Nacional da Torre do Tombo, Garfadas on line

2 comentários:

João Celorico disse...

Caro José Leite
Referindo a primeira foto, nos anos 40/50 pelo menos, onde se vê a English Bakery, era um posto de Recepção e suponho que também de Entrega de encomendas da CP. Na esquina, onde se vê uma loja da Singer era, então, uma loja de ferragens.

Cumprimentos,
João Celorico

José Leite disse...

Caro João Celorico,
Grato pela informação adicional.
Cumprimentos
José Leite