O famoso "A. Couto - Alfaiate", de seu nome completo António Couto Martins, iniciou o sua carreira de alfaiate por conta própria em 10 de Abril de 1891, abrindo o seu primeiro atelier nos números 84 e 86 da Rua do Alecrim (primeiras portas de quem desce a Rua do Alecrim do lado esquerdo logo a seguir à Igreja da Encarnação). Tinha iniciado a sua carreira profissional na "Casa Keil" na Rua Nova de S. Francisco (actual Rua Ivens), e lá foi ficando até à morte de mestre Johan Christian Keil (1820-1899), que a par de "Amieiro - Alfaiate dos Reis e Rei dos Alfaiates" (que ficou, no início, com as suas instalações) dos mais famosos alfaiates de Lisboa, de sempre. Johan Christian Keil era pai de outro famoso Keil: o músico, compositor, pintor e poeta Alfredo Keil (1850-1907).
O primeiro atelier de Antonio Couto Martins, nas 2 primeiras pequenas portas, à direita na foto
Aquando da abertura do seu primeiro atelier, o jornal "Diário Illustrado", de 10 de Abril de 1891, comentava:
Keil morreu, mas deixou sucessor: é o sr. Antônio Couto Martins, que se estabeleceu na rua do Alecrim, 84.
A sua tesoura faz milagres. E' o que podemos affirmar»
O "Almanach Palhares", de 1900, escreveu um artigo acerca do percurso profissional até aquele ano deste alfaiate. Desde já duas ressalvas no texto: o nome António do Couto não está correto - assim como noutros anuncios publicitários - mas sim António Couto (Martins); e o seu atelier não começou, em 1891, na Rua do Alecrim 111-1º mas sim nos números 84-86 (mesmo defronte do nº 111).
A'parte os annuncios do estabelecimento, a imprensa periodica pouco se dedica a elogiar os trabalhos, entretanto dignos do maior elogio, do sr. Antonio do Couto.
Provém então a fama d'este distincto artista dos depoimentos que fazem em abono da sua tesoura prestigiosa as suas proprias obras, que alcançam o maximo da perfeição e o cumulo da elegancia.
Além do muito que poe de sua parte para estes felizes resultados o talento artistico do sr. Couto, convém esclarecer que elle foi o discipulo dilecto e o natural successor do celebre alfayate sr. Keil, que até á sua morte deu a lei nos assumptos tocantes á toilette masculina.
Morreu o famoso artista allemão, e o sr. Couto herdou-lhe a fama e a clientella, composta de cavalheiros distinctos que teem o culto do vestuario e o instincto do bom gosto e do luxo. Na verdade, um homem por mais distincto e talentoso que seja, envergado n'um fato mal feito, é como uma excelente comedia no meio d'um scenario pelintra: poderá dizer bocadinhos de ouro e ter maneiras de gentilhomem que sempre terá o quer que seja de ridiculo.
Ao contrario, aquelle que ainda que pouco primoroso de maneiras e pouco saliente de espirito se apresentar com um fato de corte impeccavel e de acabamento perfeito, tera ao menos a apparencia, e isto é muito por mais que digam os philosophos n'uma epoca em que quasi de apparencias se vive.
E' o sr. Couto, pois, o alfayate da moda, o Keil da actualidade sem lhe faltar nada - incluindo a galanteria e amabilidade com que trata os seus freguezes. Noblesse oblige!
E se ha algum ponto em que se difference do seu mestre e antecessor na celebridade, será em ser menos exigente no tocante a remunerações generosas.
Está ha nove annos estabelecido no 1." andar do predio n.° 111 da rua do Alecrim, onde tem visto augmentar sempre a sua clientella e avultar a sua fama que elle proprio tem edificado.
E' esta a sua justa e grande gloria e por isso o felicitamos e admiramos, como a todos quantos sabem elevar-se pela intelligencia e pelo trabalho.
O sr. Antonio do Couto tenciona concorrer com as suas obras a próxima exposição de Paris, onde a industria de alfayateria portugueza fará, certamente, brilhante figura, visto que este ilustre artista se encontra no caso de hombrear com os seus collegas mais afamados do extranjeiro e adquirir um nome universal.»
Por volta de Outubro de 1909 a já "A. Couto - Alfaiate", mudou de instalações da Rua do Alecrim 110-1º, para o 1º andar do prédio de esquina do Rua do Loreto com a Rua da Emenda, pela qual se fazia a entrada pelo nº 118.
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