Restos de Colecção: Antonio Couto - Alfaiate

4 de setembro de 2024

Antonio Couto - Alfaiate

O famoso "A. Couto - Alfaiate", de seu nome completo António Couto Martins, iniciou o sua carreira de alfaiate por conta própria em 10 de Abril de 1891, abrindo o seu primeiro atelier nos números 84 e 86 da Rua do Alecrim (primeiras portas de quem desce a Rua do Alecrim do lado esquerdo logo a seguir à Igreja da Encarnação). Tinha iniciado a sua carreira profissional na "Casa Keil" na Rua Nova de S. Francisco (actual Rua Ivens), e lá foi ficando até à morte de mestre João Keil, que a par de "Amieiro - Alfaiate dos Reis e Rei dos Alfaiates" (que ficou, no início, com as suas instalações) dos mais famosos alfaiates de Lisboa, de sempre. João Cristiano Keil era pai de outro famoso Keil: o músico, compositor, pintor e poeta Alfredo Keil (1850-1907).


Atelier na esquina do Rua do Loreto com a Rua da Emenda


12 de Abril de 1891

O primeiro atelier de Antonio Couto Martins, nas 2 primeiras pequenas portas, à direita na foto


29 de Novembro de 1891

Aquando da abertura do seu primeiro atelier, o jornal "Diário Illustrado", de 10 de Abril de 1891, comentava:

«Keil foi grande alfayate portuguez, memoravel na historia da elegância nacional.
Keil morreu, mas deixou sucessor: é o sr. Antônio Couto Martins, que se estabeleceu na rua do Alecrim, 84.
A sua tesoura faz milagres. E' o que podemos affirmar»

Em 1893, Antonio Couto já estava instalado numa loja na Rua do Alecrim, 129 e 131, no edifício de esquina com a Praça Luiz de Camões, e vizinho da "Pharmacia Freire de Andrade & Irmão", instalada nas portas 123, 125 e 127, desde 1880.


5 de Novembro de 1893

Mas em 11 de Agosto de 1895, já estava instalado na mesma Rua do Alecrim, mas no 110 -1º andar. Uma curiosidade: em 1860, neste mesmo 1º andar, funcionava um "Consultorio Especial de Homoeopathia Pura sob a proteção de sua excellencia o Sr. Marechal Duque de Saldanha seu presidente honorario».


11 de Agosto de 1895

O "Almanach Palhares", de 1900, escreveu um artigo acerca do percurso profissional até aquele ano deste alfaiate. Desde já duas ressalvas no texto: o nome António do Couto não está correto - assim como noutros anuncios publicitários - mas sim António Couto (Martins); e o seu atelier não começou, em 1891, na Rua do Alecrim 111-1º mas sim nos números 84-86 (mesmo defronte do nº 111).

«Em Lisboa, pouca gente haverá que não conheça, sequer de nome, o Couto alfayate, e comtudo a sua fama não deriva do reclamo persistente dos jornaes, que são como as machinas de fazer reputações, nem sempre solidas, em poucas semanas.
A'parte os annuncios do estabelecimento, a imprensa periodica pouco se dedica a elogiar os trabalhos, entretanto dignos do maior elogio, do sr. Antonio do Couto.
Provém então a fama d'este distincto artista dos depoimentos que fazem em abono da sua tesoura prestigiosa as suas proprias obras, que alcançam o maximo da perfeição e o cumulo da elegancia.
Além do muito que poe de sua parte para estes felizes resultados o talento artistico do sr. Couto, convém esclarecer que elle foi o discipulo dilecto e o natural successor do celebre alfayate sr. Keil, que até á sua morte deu a lei nos assumptos tocantes á toilette masculina.
Morreu o famoso artista allemão, e o sr. Couto herdou-lhe a fama e a clientella, composta de cavalheiros distinctos que teem o culto do vestuario e o instincto do bom gosto e do luxo. Na verdade, um homem por mais distincto e talentoso que seja, envergado n'um fato mal feito, é como uma excelente comedia no meio d'um scenario pelintra: poderá dizer bocadinhos de ouro e ter maneiras de gentilhomem que sempre terá o quer que seja de ridiculo.


O primeiro atelier nas 2 primeiras pequenas portas à esquerda no postal. O segundo atelier de "A. Couto" na loja à direita do candeeiro ("nabo") em primeiro plano. O terceiro atelier de "A. Couto" no 1º andar à direita do poste de suporte ao cabo do eléctrico, e à direita no postal

Ao contrario, aquelle que ainda que pouco primoroso de maneiras e pouco saliente de espirito se apresentar com um fato de corte impeccavel e de acabamento perfeito, tera ao menos a apparencia, e isto é muito por mais que digam os philosophos n'uma epoca em que quasi de apparencias se vive.
E' o sr. Couto, pois, o alfayate da moda, o Keil da actualidade sem lhe faltar nada - incluindo a galanteria e amabilidade com que trata os seus freguezes. Noblesse oblige!
E se ha algum ponto em que se difference do seu mestre e antecessor na celebridade, será em ser menos exigente no tocante a remunerações generosas.
Está ha nove annos estabelecido no 1." andar do predio n.° 111 da rua do Alecrim, onde tem visto augmentar sempre a sua clientella e avultar a sua fama que elle proprio tem edificado.
E' esta a sua justa e grande gloria e por isso o felicitamos e admiramos, como a todos quantos sabem elevar-se pela intelligencia e pelo trabalho.
O sr. Antonio do Couto tenciona concorrer com as suas obras a próxima exposição de Paris, onde a industria de alfayateria portugueza fará, certamente, brilhante figura, visto que este ilustre artista se encontra no caso de hombrear com os seus collegas mais afamados do extranjeiro e adquirir um nome universal.»


1900


1902


1903

Por volta de Outubro de 1909 a já "A. Couto - Alfaiate", mudou de instalações da Rua do Alecrim 110-1º, para o 1º andar do prédio de esquina do Rua do Loreto com a Rua da Emenda, pela qual se fazia a entrada pelo nº 118. 


10 de Outubro de 1909


1915

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