Restos de Colecção: Hospital Curry Cabral

18 de setembro de 2024

Hospital Curry Cabral

O "Hospital de Doenças Infecto-Contagiosas", então vulgarmente denominado por "Hospital do Rego", foi inaugurado em 15 de Janeiro de 1906, com entrada principal pela Rua da Beneficência no Bairro do Rego, em Lisboa. Projectado em 1902 pelo arquitecto José Paulo dos Santos, foi mandado construir pelo governo regenerador liderado pelo conselheiro Ernesto Hintze Ribeiro (1849-1907), cuja Presidência do Conselho foi acumulada com o Ministério do Reino entre 1900 e 1904, tendo ambos os cargos sido ocupados de novo por Hintze Ribeiro em 1906.


José Curry da Câmara Cabral (1844 - 1920), mais conhecido por Curry Cabral, foi um médico, lente de medicina da "Escola Medico-Cirúrgica de Lisboa" e um dos mais afamados investigadores e professores portugueses na área das ciências médicas. Foi presidente da "Sociedade das Ciências Medicas de Lisboa", sócio correspondente da "Academia Real das Ciências de Lisboa" e vogal do "Conselho Superior de Instrução Pública". Foi o principal impulsionador da instalação em Lisboa de um hospital para tuberculosos e outros pacientes de doenças infecto-contagiosas. Em sua homenagem o "Hospital do Rego" foi renomeado, em 1929, para "Hospital Curry Cabral".


José Curry da Câmara Cabral (1844 - 1920)

Lembro que em 1900 a oferta hospitalar privada de Lisboa assentava, entre outros, no Hospital Inglês Mercante (Rua do Alecrim), de Nossa Senhora da Saúde, para crianças (Rego), do Clero (Rua de Santa Marta), da Ordem Terceira de S. Francisco, na Rua Serpa Pinto, da Senhora da Vitória, na Rua do Crucifixo, Saint-Louis, na Rua Luz Soriano, Inglês, na Travessa dos Ferreiros, e Santo António, para crianças na Rua de Santa Ana. No área pública existiam, além dos Hospitais Civis, o Hospital Militar de Lisboa e o Hospital da Marinha, que eram exclusivos dos seus quadros. Dos restantes hospitais públicos, foram sendo eliminados os que tinham um carácter provisório - ocupando temporariamente pavilhões e outras instalações adaptadas para responder a surtos epidémicos.

A este propósito o Dr. Curry Cabral decrevia:  

«Na nossa cidade desappareceu desde que, por uma selecção, se começaram a separar algumas especies de doentes : os alienados para um hospital privativo-o de Rilhafolles, e os leprosos para outro hospital - o de S. Lazaro. Ficou o hospital geral alliviado d'estas duas especies e iniciada a hospitalisação em especialidades. Esta forma de proceder é hoje uma imposição da medicina pratica: ha necessidade de isolamentos para assegurar a efficacia do tratamento, é preciso fazer separações para o largo e sempre crescente desenvolvimento alcançado pelo estudo das especialidades.
E n'esse caminho lá se destacou do hospital geral de S. José para um instituto especial - o oftalmológico - o tratamento das doenças d'olhos e para outro instituto - o bacteriologico - o tratamento da diphteria e o da raiva.
N'esse caminho ainda se particularisou em separado o tratamento das creanças de tenra idade, no hospital Estephania.
Com a mesma orientação foram sequestrados no hospital da Rainha D. Amelia os doentes portadores de contagios mais perigosos: tuberculos, bexigas, sarampos, etc.
Máo edificio para esse fim, que é agora substituido pelo grande e apropriado hospital novo É ainda na mesma ordem d'ideias que o hospital da Rainha D. Amelia, vae servir para alojar os invalidos pela doença, verdadeiro hospital-hospicio, para onde o hospital geral descarregará os seus incuraveis.»

O "Hospital de Doenças Infecto-Contagiosas" foi construído entre 1902 e 1904 onde tinha estado instalado o “Recolhimento da Associação das Servitas de Nossa Senhora das Dores”, e que depois de extinto, a área de cerca de 65.000 m2 que ocupava ter revertido a favor da "Fazenda Nacional". O Governo entregaria todo este património ao "Hospital Real de S. José", em 3 de Setembro de 1901. 


Igreja do antigo Convento, na Rua da Beneficência, ao Rego



Igreja do antigo Convento (à esquerda na foto) e a "Maternidade Abrahão Bensaúde" (à direita na foto), inaugurada em 1928

O projecto de adaptação do extinto convento e seus terrenos ficou sob a responsabilidade do enfermeiro-mor, sendo atribuída uma verba especial para essa obra, na qual se envolveu o ministro Hintze Ribeiro. Pretendiam criar um hospital de isolamento, com especialização para a tuberculose. O plano de trabalhos incluía a construção de enfermarias em 22 pavilhões isolados num total de 212 leitos, além do posto de desinfecção, serviço mortuário, cozinhas. A "Comissão das Obras Hospitalares" foi nomeada em 28 de Junho de 1902 e, em 18 de Outubro, estavam concluídos o projecto e o orçamento. A sua construção só viria a ser possível com o financiamento, de trezentos contos de réis, concedido pela "Caixa Geral de Depósitos", ao que se seguiu o lançamento da empreitada em 7 de Novembro de 1903 que foi adjudicada, em 15 de Janeiro 1904, ao empreiteiro Joaquim Carlos d’Aguiar Craveiro Lopes. A construção (do edifício e arruamentos, esgotos, canalizações, etc.) foi feita sob a direcção técnica do engenheiro Luiz de Mello Correia, também membro da comissão de obras dos hospitais. Em Dezembro de 1904, o hospital estava concluído ocupando uma área de 65.280 m2, ocupando as edificações 10.653 m2.


Planta do Hospital

O "Hospital de Doenças Infecto-Contagiosas" receberia, em 15 de Janeiro de 1906, data da sua inauguração, os seus primeiros doentes, transferidos do "Hospital Rainha D. Amélia", instalado no antigo Convento de Arroios, e de outros hospitais - doentes tuberculosos e, posteriormente, outros doentes infecto-contagiosos.

No dia seguinte à sua abertura o jornal "Vanguarda" noticiava:

«Com a maior simplicidade, inaugurou-se hontem o hospital do Rego, destinado ao tratamento de doencas infecto-contagiosas. Ja hontem ficaram n'esse estabelecimento vinte e duas tuberculosas que se encontravam no hospital de S. Jose e que foram transportadas em carros-omnibus do serviço de saude. As doentes subiram para a enfermaria do segundo pavimento n'um elevador hydraulico. 
Hoje dão entrada na respectiva enfermaria os doentes do sexo masculino.
As 22 doentes foram acompanhadas para o novo hospital do Rego, pela enfermeira Virginia Nunes e pelas ajudantes Maria da Saudade Alves, Guilhermina de Sousa e Virginia da Conceição Nascimento.
O novo hospital está construido com todas as regras da hygiene e de conforto.
Além do enfermeiro-mór. sr. conselheiro Curry Cabral, estiveram hoje, durante o dia. no hospital do Rego, os srs. Machado, chefe do servico pharmaceutico; Lopes, chefe da contabilidade; Borges Peralta, economo; Pereira, chefe dos enfermeiros da primeira divisao; Pinto, fiscal do hospital; Pombinho, fiscal geral; reverendo padre Camillo, capellao, e o sr. general Alcantara Gomes.
A consulta externa ficou aberta desde hontem, principiando ás 9 horas da manhã e conservando-se accessivel todo o dia, ás pessoas que d'ella necessitarem.»


22 de Janeiro de 1906

Por ocasião da sua abertura a revista "Serões" publicou, em Fevereiro de 1906, um extenso artigo escrito pelo Dr. Curry Cabral do qual retirei algumas passagens:

«A realisação d'uma obra d'esta grandeza depende em grande parte de se aproveitar a opportunidade. Em 1901 governava um ministro do reino - o Conselheiro d'Estado Hintze Ribeiro - que alcançou toda a comprehensão do problema hospitalar e a perfeita consciencia da necessidade urgente de dotar a cidade com um bom hospital d'isolamento.
Por esse tempo a questão religiosa em effervescencia, teve como uma das suas consequencias serem mandadas sair do edificio, em que viviam recolhidas, as Servitas de Nossa Senhora das Dores, revertendo o edificio e seus pertences para a Fazenda Nacional.
Era uma area de 65.000 metros quadrados de superficie, n'uma situação hygienica muito boa.
A boa vontade do ministro fez entregar á administração dos hospitaes esse grande terreno e obteve das Camaras a votação dos meios precisos para se levantar aquella villa
hospitalar, cuja edificação se completou em dois annos.
Pouco houve que aproveitar do edificio; apenas uma parte das suas paredes mestras.
Não era uma edificação que fizesse lembrar sequer a dos antigos conventos, nem podia sel-o, dadas as condições da sua origem e do seu successivo fabrico.
O que n'aquelle local havia na ultima metade do seculo XVIII eram umas casas e quintas pertencentes a Custodio Ferreira Goyos, que passaram para os proprios da Fazenda Real, pela seguinte forma.
José Luiz Serra era devedor da renda da commenda de Mertola e Goyos era seu fiador. Em execução para o pagamento d'aquella divida a propriedade foi arrematada por quatro contos e oito centos mil reis. (...)



O Recinto do Hospital - Forma geral da sua installação

Tem o novo hospital capacidade para receber 728 doentes.
Porque os doentes ahi recebidos hão de ser unicamente os que soffrem doenças que ao mesmo tempo são infecciosas e contagiosas, e essas doenças são de especies variadas e todas transmissiveis, a construcção foi feita para que haja um edificio destinado a cada especie. Cada edificio é independente e largamente separado dos outros, e em cada um ha enfermaria com as dependencias necessarias, entre as quaes é para ser notada uma sala para os convalescentes passarem o dia, com muito ar e muita luz, onde lhes são dados jogos e livros para se entreterem. A enfermaria ficará assim sendo só dormitorio para os doentes que já se levantam das suas camas.
Esta forma d'installaçao e de regimen que são inteiramente novos na nossa hospitalisação, deve trazer um grande bem estar aos doentes e favorecer muito a sua cura.
Cada edificio com a sua enfermaria, vae ter uma vida sua, completamente isolada dos outros, que é o meio de manter o isolamento e de estabelecer garantias contra a disseminação dos contagios.
Toda a vasta area do hospital é fechada por um muro, tendo duas unicas sahidas para a rua, uma do lado do nascente e outra do poente; só duas, para que se possa exercer a maxima vigilancia sobre o estado de saneamento de quanto de dentro do hospital tenha de sahir para a rua, assegurando-se assim a condição de não haver perigo para a população da cidade, mercê do rigor com que constantemente se hao-de executar os trabalhos de desinfecçao de todos e de tudo dentro do hospital.
Ha porém serviços geraes e communs que não podem deixar de estar centralisados: os da cosinha, da pharmacia, do posto de desinfecção.
E como os contagios da doença tuberculose são mais faceis de isolar do que outros, - o grande edificio onde devem ser recebidos os tuberculosos e todas as installações dos serviços geraes, occupando um espaço de perto de vinte mil metros quadrados, constituem uma secção do hospital, separada, por um muro e gradeamento, da parte destinada a ter só os doentes mais contagiosos.







Secção de Tuberculosos

O edificio destinado para receber 212 tuberculosos, é o unico para que se aproveitou alguma coisa da construcção do velho recolhimento. Pouco foi; apenas algumas das suas paredes.
Tem este edificio, que é formado por três alas, tres pavimentos sobrepostos: o primeiro e o segundo para clinica medica e cirúrgica de homens e o terceiro para clinica medica e cirurgica do sexo feminino, havendo em ambos estes ultimos enfermarias para creanças.
Todas estas enfermarias teem abundantes janellas oppostas, por onde entra muita luz e muito ar.
A ventilação é ainda reforçada por duas series de ventiladores, - uma proxima do chão e a outra proxima do tecto.
Paredes lisas e envernisadas de meio para baixo, de facil desinfecção ; - angulos arredondados para que se não juntem poeiras.
O mobiliario é simples, elegante e confortavel.
Leitos de ferro, colchões de rede metálica armada em ferro sobre os quaes assentam colchoes de la. Para cada doente uma banca de cabeceira, de ferro, movel elegante com acommodação para os objectos de uso individual e privativo de cada doente : garrafa d'agua, escarrador, escova de dentes, pentes, toalha etc. Cada doente tem a sua cadeira.
Para os serviços de enfermaria aparadores de pitch pine com tampo d'ardosia, e mezas nas salas.
Sobre os moveis jarras das Caldas com flores, ornamentação que alegra a vista dos doentes e que a administração mandou pôr tambem nas enfermarias que se vão renovando em todos os hospitaes. (…)
Em annexos fóra das enfermarias e nos seus topos estão os lavabos e retretes. Abrem as enfermarias para largas varandas descobertas e terraços envidraçados, de paredes em grande parte moveis para que o ar. circule na quantidade em que se quizer, onde os doentes passarão o dia e onde tomarão as suas refeições.
N'estes terracos, alem da luz e do ar puro e agradavel que se respira, a vista dos doentes tem com que se alegrar e o espirito tem com que se distrahir constantemente. O panorama é o que descrevemos cercando a area do hospital, variavel com a direccao em que os olhos se encaminham, illuminado com os tons que mudam com a posição do sol e os accidentes do céo, movimentado constantemente pelo comboio que passa, pelo carro electrico e pelas carruagens que distantes rodam nas avenidas, pelo labutar dos cultivadores das terras proximas, tudo a distrahir a concentração natural do espirito de cada doente na contemplação dos seus proprios males.
Na diligencia de levantar o animo dos doentes está tambem estabelecido no regimen do hospital que a estes elementos naturaes de distracção, se juntem jogos variados, livros para leitura, estampas etc.
N'estes terraços abrem elevadores que trazem a comida e as loiças da cosinha. As loiças são d'aluminio fabricadas no Porto. Os talheres e as roupas sao tambem de fabrico nacional.
No pavimento inferior do edificio se encontram casas de banhos, residencia de medico, pharmacia, habitação do fiscal, sala da administração, residencia do pharmaceutico e do chefe dos machinistas, sala de desinfecção dos empregados, dispensa, arrecadação dos fatos dos doentes.
Termina o edificio com a egreja, que se conserva tal como era no tempo do recolhimento. (…)




Serviço Gerais

A seguir e contiguo é o edificio de habitação dos empregados.
Nas horas de folga e nas de repouso, teem estes benemeritos do trabalho a sua habitação propria, cada qual com seu aposento, e com uma sala em commum onde á vontade
podem conviver.
Vivenda salubre onde irao retemperar as forças do corpo e as do espirito para o desempenho da sua difficil e perigosa missão.
Melhoramento este que por primeira vez apparece nos nossos hospitaes.
Mais além, em outro edificio, residencia de serventes e de machinistas, tendo no topo uma vasta casa para o automovel que executa todo o serviço de transportes necessarios no hospital, - modo de tracção que agora se inicia nos nossos hospitaes.
Destacando-se, ao lado dos jardins, levanta-se um edificio que tem em um dos extremos as installações de desinfecção de todos os objectos d'uso hospitalar, pela agua fervente, pelo formol e pelo vapor d'agua em pressão na estufa.
É este singelo edificio o centro vital de todo o complexo organismo que é aquelle grande hospital; de grandes caldeiras partem, como arterias, tubos que se ramificam para conduzir o vapor que vae aos caldeiros da cosinha coser os alimentos, que sobe a todos os andares a aquecer os banhos, que penetra na pharmacia para esterelisar objectos de penso e outros e produzir agua destillada, que entra nas installações de desinfecção a purificar as roupas e utensilios matando os microbios, que poe em movimento as machinas geradoras da electricidade, que, percorrendo uma extensa rede de fios, dá luz a todo o hospital durante a noite.
Para o lado do norte do grande edificio, em suave declive, sobe extenso parque em cujo extremo é fechado um grande recinto com todas as installações precisas para a execução dos serviços mortuarios.
Cercado por matta d'eucalyptos e cedros n'um só edificio se reunem todas essas installações, tendo uma capella privativa, elegante no aspecto geral, de architectura simples e de ornamentos singelos.
Este recinto e completamente isolado do hospital pela distancia a que se encontra e pela vedação de muro e grade que o circumscreve.
Logo após o fallecimento, os cadaveres são para ahi conduzidos e d'ahi sahem por uma porta especial directamente para o cemiterio, desinfectados e preparados por forma a não ser perigoso para a população o seu percurso pelas ruas da cidade.
No caminho que conduz da entrada principal do hospital para o recinto mortuario, encontram-se duas outras edificações, das quaes uma logo á esquerda é destinada para o servico externo do hospital. (…)
Tao afastado fica este pavilhao dos focos de contagio, que nada ha a temer para as pessoas que ahi entrem; tamanho rigor e segurança ha sob este ponto de vista que no extremo d'esse edificio está collocada a sala de operações cirurgicas.
Mais alem um chalet d'aspecto elegante e pittoresco é destinado para o pessoal que tem de desempenhar o serviço de jardinagem. Completamente isolado de todas as enfermarias, sem perigo pessoal os trabalhadores se occuparão da cultura das terras.
Ainda dentro d'esta secção, junto á porta que dá transito para a outra secção, em um pequeno edificio se construiu o forno onde são diariamente reduzidos a cinzas os despojos hospitalares, as varreduras, artigos de penso servidos, objectos inuteis. Coisa alguma d'essas sahe para a rua ; -  a carroça municipal do lixo não entra a porta do hospital. Por mais este motivo o hospital deixou de ser perigoso para os habitantes da cidade. É este o regimen adoptado pela actual administração nos outros hospitaes.











Enfermarias em Pavilhões separados

Para se manterem os isolamentos ha vinte pavilhões, distribuidos em series paralellas e bem distanciados uns dos outros ; -  cada pavilhão tem uma enfermaria e suas dependencias ; -  em cada um é tratada uma especie de doenças contagiosas. Cada enfermaria tem junto uma grande sala, onde os convalescentes passam o dia.
Dentro de cada pavilhão só entra quem tem de se occupar do tratamento dos doentes, e essas pessoas soffrem rigorosa desinfecção quando d'ahi sahem. N'essas enfermarias só estão os empregados precisos para o serviço e durante o tempo que esse serviço lhes pertence.
Para sua residencia ou para as horas de descanço são destinados dois edificios espaçosos, com optimos quartos e excellentes condições hygienicas. Em duas series parallelas, separa das por uma larga rua, são dispostos os pavilhões com accomodação para 33 camas cada um, 7 de cada lado.
Em outras duas series lateraes de 3 pavilhoes cada uma, sao callocados 2 de 15 camas e 4 de 6 camas, destinadas para os casos em que o diagnostico da doença ainda nao e claro e precisa de tempo d'observação para se definir, e para os casos esporádicos que se apresentem solitarios ou em pequeno numero.
São muito espaçosas, arejadas e illuminadas as enfermarías. Esta condição junta ás do rigoroso isolamento garantem solidamente o exito do tratamento das doenças contagiosas, sem espalhar contagios.
Tem esta secção um portão especial para a rua, por onde se faz o movimento dos doentes e unicamente o transito dos empregados d'esta secção. Assim distribuidos os serviços, a policia sanitaria encontra grande facilidade em fazer cumprir com plena efficacia os seus dictames.
A largos traços eis o que é o novo hospital com que acaba de ser dotada a capital e tambem o paiz. A sua construcção era uma necessidade desde longa data reconhecida e muito reclamada, agora satisfeita no curto espaço de dois annos.
A obra foi executada pela commissão que tem a seu cargo a remodelação dos nossos hospitaes civis, composta do enfermeiro-mór, do engenheiro Luiz de Mello Correia e do secretario de administração dos hospitaes Dr. José Teixeira Gomes.
É o resultado da conjugação das duas technicas, - a medica e a de construcção - que, ligadas sempre no mais perfeito accordo, passo a passo foram realisando as aspirações á perfeição do fim' a que todo aquelle trabalho era destinado.
Se a utilidade do novo hospital é grandissima para as occorrencias de todos os dias, maior a torna o ser uma reserva de alojamentos sempre promptos para o caso de desenvolvimento de qualquer epidemia.»




Album de onde foram retiradas as fotografias anteriores, da autoria de Joaquim Feyo e Castro (1877-1937) e editado pela "Livraria Ferin" - Disponibilizado pelo "Museu de Lisboa"

Segundo o site do "Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE", o "Hospital de Doenças Infecto-Contagiosas" ... é integrado, em 1913, no Grupo Hospitais Civis de Lisboa, que agrega os hospitais de Dona Estefânia, Santa Marta, Arroios, São José e Capuchos/Desterro, sendo rebaptizado, em 1929, com o nome de Hospital de Curry Cabral, em homenagem ao seu fundador, o Enfermeiro-Mor José Curry da Câmara Cabral. Com a publicação, em Julho de 1978, do Regulamento dos Hospitais Civis de Lisboa, a sua filosofia passa de Hospital especializado em doenças infecciosas a Hospital Geral Central, com autonomia administrativa e financeira, a partir de 1989.


1954

1964

Em Fevereiro de 1992, passa a dispor de um Serviço de Urgência próprio, médico-cirúrgico e ortopédico. Em Junho de 1998 é inaugurado um novo edifício, dedicado à actividade de urgência, embrião de uma nova construção mais ambiciosa, que hoje alberga já mais de 60% da capacidade de internamento, em instalações novas e funcionais. É nesta fase que é integrada a valência de Cardiologia e de Psiquiatria, actualmente dependente do Centro Hospitalar de Psiquiatria de Lisboa. É de salientar o grande desenvolvimento operado na área da Transplantação Hepato-biliar, que é hoje considerado o maior centro do seu género no país e provavelmente no mundo. 


Novo edifício , desde Junho de 1998


A "velhinha" e original entrada principal (as colunas), lá vai resistindo aos tempos ...

Embora vocacionado, originariamente, para as chamadas doenças infecto-contagiosas (primeira década do séc. XX), o HCC é hoje uma unidade polivalente, que dispõe de um Serviço de Urgência Médico-Cirúrgica, e apresenta níveis de diferenciação e qualidade de referência a nível nacional, designadamente: - Na Transplantação Hepática - o maior centro do país e uma unidade de excelência, no contexto nacional e europeu, e no diagnóstico e terapêutica das doenças hepato-bilio-pancreáticas em geral; - Na área da Infecciologia - um dos maiores centros nacionais para o tratamento da infecção por VIH e referência nacional para a pandemia da gripe, com 14 quartos de isolamento respiratório; - Na Nefrologia - um centro nacional de referência e que polariza, na supervisão e tratamento diferenciado, um conjunto vasto de Centros de Diálise da Zona Metropolitana de Lisboa; - Na Ortopedia - pela qualidade e diferenciação dos seus médicos, sendo um centro de referência nacional para o diagnóstico e tratamento das escolioses; - Na Urologia, com destaque para as áreas da Sexologia e Técnicas de Intervenção e Diagnostico diferenciadas; etc, etc ...



Vista aérea, e delimitado a preto, do complexo do "Hospital Curry Cabral"

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de Lisboa, Museu de Lisboa

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