Restos de Colecção: Bombeiros Voluntários de Lisboa

8 de agosto de 2024

Bombeiros Voluntários de Lisboa

A primeira Companhia de Bombeiros de Lisboa, foi criada em 17 de Julho de 1834 pela Câmara Municipal de Lisboa, e ficou também conhecida por "Companhia do Caldo e do Nabo".

Em 1868 a "Pharmacia Azevedo, Filhos" (fundada em 1777), no Rossio, era o ponto de reunião de destacadas personalidades, numa época em que o serviço de incêndios na capital não estava à altura do que era de esperar. A população da cidade deveras se preocupava com os numerosos e violentos incêndios que, por toda a cidade, se manifestavam sem ser possível dominá-los convenientemente por deficiência de pessoal e material, dada a exígua verba destinada pelo erário municipal aos respectivos serviços.

Às conversas da "Pharmacia Azevedo, Filhos", no Rossio, assistia o maestro, compositor e violoncelista Antonio Guilherme Cossoul (1828-1880), que em dia de acesa discussão com o vereador do Serviço de Incêndios, Dr. Isidoro Viana, alvitrou que se organizasse uma Companhia de Voluntários Bombeiros a exemplo do que se fazia no estrangeiro. Guilherme Cossoul soube contagiar os ouvintes, fez propaganda e, no mesmo mês, promovia uma reunião no edifício da Abegoaria Municipal, onde estava instalada a "Inspecção dos Incêndios". Esta reunião, que teve lugar em 18 de Outubro de 1868, deu corpo à formação da Companhia de Voluntários Bombeiros, sob o lema "HUMANITAS, VITA NOSTRA TUA EST". Estava criada a base da "Real Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Lisboa", assim denominada em 1880 e com as suas instalações na Rua das Flores, ao Chiado, em Lisboa.

Sede (à esquerda) e quartel (de frente e foto seguinte) dos BVL em 1925


Edifício onde está instalado o quartel dos BVL. Nesta foto pode-se ver, ao centro, a tabuleta do consultório do Prof. Egas Moniz (1874-1955)



Antonio Guilherme Cossoul (1828-1880)


"Real Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Lisboa" em 1885


1915


1923

A partir do ano de 1868, e por iniciativa de um conjunto de cidadãos com forte motivação cívica, passaram a existir também na nossa cidade, Corpos de Bombeiros Voluntários, sendo os mesmo criados e mantidos por Associações Humanitárias de estatuto inteiramente privado e com natureza benévola.

Até à terceira década do século XX seriam  criadas/fundadas as seguintes Associações de Bombeiros Voluntários na cidade de Lisboa:

- Associação dos Bombeiros Voluntários do Concelho de Belém: teve os seus estatutos aprovados no dia 04.09.1883, sabendo-se que terá tido uma secção destacada no Bairro de Campolide (que pertencia então ao concelho de Belém);
- Associação do Serviço Voluntário de Ambulâncias em Incêndios: teve os seus estatutos aprovados no dia 6 de Dezembro de 1880, tendo tido o seu primeiro quartel sede na Rua da Atalaia, n.° 1;
- Associação dos Bombeiros Voluntários dos Olivais: teve os seus estatutos aprovados no dia 17 de maio de 1881;
- Associação dos Bombeiros Voluntários da Junqueira: cuja primeira referência existente é do ano de 1881, tendo tido o seu primeiro quartel sede localizado na Rua Direita da Junqueira;
- Associação de Bombeiros Voluntários (Matadouro - Lisboa): existem referências da sua existência no ano de 1881, tendo sido criada por não existir qualquer quartel de bombeiros entre a Rua de São José e a zona de São Sebastião da Pedreira;
- Corporação de Bombeiros Voluntários do Lumiar: existem referências à sua existência no ano de 1882;
- Associação dos Bombeiros Voluntários de Campolide: teve os seus estatutos aprovados no dia 15 de Outubro de 1882;
- Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Belenenses: teve os seus estatutos aprovados no dia 17 de Dezembro1882, tendo tido as suas primeiras instalações localizadas na Rua Direita de Alcântara, n.° 73;
- Companhia de Sapadores Bombeiros do Grémio Humanitário de Portugal: teve os seus estatutos aprovados no dia 26 de Fevereiro de 1883, tendo resultado de uma cisão ocorrida no seio da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Ajuda. Teve a sua primeira sede localizada na Rua do Poço do Borratem, n.° 23;
- Associação dos Bombeiros Voluntários do Beato e Serviço Voluntário de Ambulâncias em Incêndios: teve os seus estatutos aprovados no dia 6 de Maio de 1883;
- Real Associação Humanitários de Bombeiros Voluntários da Rainha: teve os seus estatutos aprovados no dia 8 de Julho de 1883, vindo a fundir-se com a Associação dos Bombeiros Voluntários de Campolide;
- Associação de Bombeiros Voluntários - Corpo de Salvação Pública: foi fundada no dia 27 de Julho de 1890;
- Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Terramotos: teve os seus estatutos aprovados em maio de 1895, vindo a ter a sua sede localizada na Rua 4 de Infantaria, n.° 87;
- Associação dos Bombeiros Voluntários Portugueses: Existem referências â sua criação no ano de 1899, tendo tido a sua primeira sede na Rua do Diário de Notícias, n.° 34;
- Corpo Voluntário de Salvação Pública: Existem referências à sua criação no ano de 1899, tendo tido atividade operacional, pelo menos, até ao ano de 1925. Teve a sua sede localizada na Rua da Atalaia, n.°s. 111 e 113;
- Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Bairro Operário: teve os seus estatutos aprovados no dia 10 de Março de 1901;
- Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Cruz de Malta: fundada no dia 14 de Outubro de 1918, veio a ser extinta no dia 25 de Janeiro de 2008. Aquando da sua extinção, tinha o seu quartel sede localizado no Largo do Leão, n.° 11;
- Associação dos Voluntários do Bem: teve os seus estatutos aprovados no dia 2 de Julho de 1922, tendo a sua sede nos Olivais;
- Associação Estrela Universal - Corpo de Salvação Pública do Poço do Bispo e Beato: teve os seus estatutos aprovados no dia 2 de Julho de 1922, tendo tido a sua primeira sede localizada na Rua do Vale Formoso de Cima;
- Corpo de Bombeiros do Bairro Andrade: Existem evidências da sua existência no ano de 1932.


Incêndio no Largo da Bibliotheca em 15 de Abril de 1907


9 de Novembro de 1914


20 de Maio de 1903

Em 20 de Maio de 1903 a revista "Occidente" noticiava:

«A proposito das festas commemorativas das modificações porque passaram a séde e o material da benemerita Associação dos Bombeiros Voluntarios de Lisboa, realisadas no dia 26 de abril findo, damos hoje um bello grupo em que figuram alem dos Voluntarios, cujos nomes especificamos, differentes chefes e o commandante do corpo dos Bombeiros Municipaes de Lisboa.
As festas que foram dedicadas ao sr. Conselheiro Emygdio Lino da Silva e á imprensa de Lisboa, tiveram o seu inicio n'uma sessão solemne realisada na vasta sala da associação dos Voluntarios, presidida pelo sr. Eduardo Ferreira Pinto Bastos, e dedicada principalmente á inauguração do retrato do commandante dos Bombeiros Municipaes, sr. Conselheiro Lino da Silva, cujo nome prestigioso está hoje bem em evidencia entre todos que pertencem não só áquella corporação mas ás suas congeneres do paiz e do estrangeiro. Conjuntamente com o retrato do sr. Conselheiro Lino da Silva foram descerrados os dos srs. Eduardo Pires Lores, Eduardo Macieira, Julio Cardoso e Henrique Cesar Machado.
No fim da sessão solemne inscreveram se no livro dos visitantes da benemerita Associação dos Bombeiros Voluntarios, os srs. Matheus G. R. Costa, em seu nome e no das praças do seu commando (Bombeiros Voluntarios de Odivellas), felicitando a briosa corporação dos Voluntarios de Lisboa; Francisco Hogan Teves, pelos Bombeiros Voluntarios de Monsão e o sr. Conselheiro Lino da Silva, que deixou este honroso registo á 1.a seccão da divisão auxiliar.
«Felicito-vos mais uma vez com todo o enthusiasmo de bom camarada e amigo. E' inexcedível em zelo, dedicação e enthusiasmo pelo serviço a corporação dos Bombeiros Voluntarios de Lisboa. A sua longa e honrosa folha de serviços torna-se digna da consideração e respeito de todos que são capazes de comprehender a sublime missão que lhes está incumbida, missão toda de heroismo e de desinteresse. Honro-me, pois, com a sua camaradagem, tanto como com a sua amizade. A todos um bravo ! de satisfação e de orgulho».
A' sessão solemne seguiu-se o exercicio do simulacro de incendio, na praça do Duque da Terceira, sob as ordens do respectivo chefe, sr. Ruy da Fonseca Quintella.
Occioso se torna accrescentar que a corporação dos voluntarios de Lisboa, hoje 1.ª secção da divisão auxiliar, foi digna de todo o elogio pela forma como executou o ataque nas diferentes phases do persumido incendio, a que assistiram, além do sr. Conselheiro Emygdio Lino da Silva, os srs. Gomes da Costa, 2° commandante interino dos Bombeiros Municipaes; Francisco Rodrigues da Conceição, vice-inspector; Antônio Maria de Avellar, engenheiro da Camara Municipal; Arthur Prostes da Fonseca, chefe da secretaria; Julio Cardoso, da contabilidade; João Baptista Ribeiro, chete dos depositos; Frederico Carlos Moniz, chefe do corpo de salvados; muitos bombeiros municipaes de Lisboa e voluntarios de diversas corporações.»


Bomba "Delahaye" em 1925


1928


Exercícios em 1933


Cerimónia de entrega de novas viaturas em 25 de Fevereiro de 1934


A "Real Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Lisboa", através dos seus efectivos, veio ao longo dos tempos, dinamizar ou a apoiar a criação de outros Corpos de Bombeiros Voluntários, como foi o caso dos "Bombeiros Voluntários Lisbonenses", resultantes de cisão ocorrida em 1910 e fundados em 12 de Dezembro do mesmo ano, dos " Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique", em cisão ocorrida no ano de 1916, ou dos "Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cabo Ruivo", resultado da cisão ocorrida no ano de 1977.

A localização do quartel sede dos "Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Lisboa" - Rua das Flores e Largo Barão de Quintela - foi desde sempre na zona alta do centro histórico da nossa cidade (dada a sua localização central, o primeiro veículo de combate a incêndios que chegou ao grande incêndio do Chiado, no dia 25 de Agosto de 1988, foi precisamente deste corpo de bombeiros.

Presentemente, com mais de 60 elementos este Corpo de Bombeiros Voluntários de Lisboa é um CB tipo 3, ao qual estão atribuídas as freguesias da Baixa lisboetas de São Vicente, Misericórdia e Santa Maria Maior.


Sede na Rua das Flores e quartel no fronteiro Largo Barão de Quintela, actualmente

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de LisboaBiblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Nacional da Torre do Tombo

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