Val do Rio

A "Empreza Val do Rio" teve origem na "Empreza Val do Rio Junior" fundada no final da década de 70 do sécúlo XIX, com sede na Avenida da Liberdade, 47-2º, em Lisboa, por Jose Quaresma Val do Rio Junior (1852-?) e António Quaresma Val do Rio (1855-?), filhos de Jose Quaresma Val do Rio (1812-1896), 

Loja e sede na Rua dos Fanqueiros no final do século XIX

20 de Dezembro de 1884

Jose Quaresma Val do Rio (pai), natural de Figueiró dos Vinhos, iniciou a sua actividade comercial com um importante armazém de fazendas na cidade de Santarém, juntamente com os seus filhos que passo a enumerar: 

• Luiz Quaresma Val do Rio (1841–1912), importante comerciante de Lisboa e grande benemérito de Figueiró dos Vinhos.
• Maria de São José Quaresma Paiva (1846–1915) que virá a casar, a 19 Ago.1876, com João Lopes de Paiva (e Silva).
• Manoel Quaresma Val do Rio (1849–1906), tal como seu irmão Luiz, ligado à casa comercial de fazendas lisboeta, fundada pelo pai, tendo sido também um generoso benemérito de Figueiró.
• José Quaresma Val do Rio Júnior (1852-?) que viria a casar com sua prima Maria Justina Quaresma d’Oliveira.
• António Quaresma Val do Rio (1855-?), de quem pouco ou nada se sabe, apenas que era sócio de José na "Empreza Val do Rio Junior".

Após alguns anos de trabalho, o fundador decidiu retirar-se da vida activa e entregou a propriedade e gerência da casa a seus filhos. Esse acontecimento coincidiu com a transferência da sede para Lisboa, ficando então instalada na Rua dos Douradores, 61 a 73 e Rua da Vitória, 18 a 24.

Isto tudo se verificou em 1875, e pouco tempo depois os irmãos José e Antonio Quaresma Val do Rio, desligam-se da firma de fazendas "Armazèns Val do Rio, Lda.", para se dedicarem exclusivamente ao negócio de vinhos e azeites. Na posse dos outros dois irmãos Manuel e Luís Quaresma Val do Rio, ficou o armazém de fazendas cuja laboração continuou dentro do nível anteriormente criado até que, mais tarde, passou para a posse apenas de Luis Quaresma Val do Rio, que lhe imprimiu incremento inusitado consolidando-lhe o nome comercial em bases de excepcional relevo. Com a morte de Luis Val do Rio em 1912, esta firma ficou entregue aos seus filhos Luis e João Val do Rio que com o seu genro Francisco Barreto e o antigo colaborador Alberto Henriques, constituíram a firma "Val do Rio e Comandita". Esta firma girou até 1944, ano em que foi trespassada à firma "Armazéns Val do Rio, Lda." constituída por João Luis Fernandes Júnior, Manuel Urbano Alves, José Martins Cardoso e José Campos Rodrigues.

Luiz Quaresma Val do Rio (1841-1912)

Quanto ao negócio de azeites, vinagres e vinhos, a "Empreza Val do Rio Junior", fixaria a sua sede na Avenida da Liberdade, 47-2º, em Lisboa com os seus armazéns localizados em Braço de Prata, em Lisboa. Em 1884, já mantinha oito filiais espalhadas por Lisboa, conforme anúncio seguinte.

Por morte de José Quaresma Val do Rio Júnior, a firma de vinhos, azeites e vinagres foi trespassada à firma "Paiva & C.ª ", constituída pelos irmãos Joaquim Lopes de Paiva (1853-1941) e António Lopes de Paiva. Passava a designar-se "Empreza Val do Rio, Sucessores Paiva & C.ª ". A sede e armazéns foram mantidos.

14 de Junho de 1891

19 de Setembro de 1891

3 de Novembro de 1895

1 de Dezembro de 1897

Joaquim Lopes de Paiva (1853-1941) natural de Figueiró dos Vinhos, depois de ter ido para o Brasil em 1870, regressou definitivamente a Portugal. Passado pouco tempo estabeleceu-se em Lisboa, com seu irmão António, com um estabelecimento que se dedicava à exportação de vinhos para o Brasil, sob a firma "Paiva & Irmão".

Em 1901, já esta empresa tinha sido adquirida pela "Pereira Tição & C.ª ", passando a designar-se "Empreza Val do Rio, Sucessores Pereira Ticão & C.ª ", continuando com a sua sede e armazéns nos mesmos lugares. No final da década seguinte esta empresa viria a ser adquirida pela "Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca & Cª, Lda." - empresa fundada em 1906 por Abel Pereira da Fonseca e Francisco de Assis, na Rua da Manutenção do Estado em Xabregas, Lisboa.

1901

14 de Janeiro de 1905

1911

A "Empresa Val do Rio, Sucessores Pereira Ticão & C.A" já era uma rede de 25 lojas (na altura apelidadas de mercearias) denominadas vulgo por "Val do Rio". Além de serem lojas de atendimento ao público também faziam distribuição ao domicílio num pequeno raio, dentro do respectivo bairro, feita pelos “marçanos”, funcionários da loja, quase sempre menores de idade, que carregavam a cesta às costas com o pedido e entregando, a pé, em casa do cliente. Ainda me lembro de todo o processo:  a minha mãe ligava para a loja, ditava uma lista de produtos e passado uma hora ou pouco mais lá aparecia o rapazito com a cesta às costas. Entrava na cozinha e despejava o conteúdo e apresentava a conta. A minha mãe conferia e pagava-lhe e dava-lhe uma gorjeta. Por vezes ainda lhe dava de comer uma sandes para comer no caminho.

"Val do Rio" na Rua de São Cristóvão

"Val do Rio" na Rua de São Marçal

"Val do Rio" na Rua dos Fanqueiros, já propriedade da "Soc. Com. Abel Pereira da Fonseca, S.A.R.L."

Nos anos setenta do século XX a rede era composta por 104 lojas "Val do Rio", maioritariamente localizadas em Lisboa, sob a batuta de Manuel Nunes Corrêa, sócio-gerente e filho de Marcelino Nunes Correa que tinha adquirido a "Soc. Com. Abel Pereira da Fonseca, S.A.R.L." em 1937, foi a primeira rede de lojas baseadas no princípio de self-service. Foram as primeiras lojas de bairro transformadas em mini-mercados onde as pessoas se podiam auto-servir. 

1948

1949

«Este boletim Val do Rio, além de fazer a publicidade aos produtos das lojas, também apresentava um conjunto de conselhos para os consumidores. Tem receitas de culinária, (perdizes à Laurita e bolo inglês de frutas) e conselhos para o congelamento e descongelamento das carnes. Como ajuda ao desenvolvimento cultural tem palavras cruzadas, uma introdução ao estudo do poeta Camões e até uma história sobre o valor da honestidade. O Comendador Nunes Corrêa, com este boletim, além de publicitar os produtos que se vendiam nas lojas, transmitia valores e cultura aos seus clientes.» in: Terras da Ribeirinha.

Armazéns na Rua do Amorim em Xabregas

Instalações da "Soc. Com. Abel Pereira da Fonseca, S.A.R.L." e loja "Val do Rio, na Praça David Leandro da Silva, também em Xabregas

Instalações da "Soc. Com. Abel Pereira da Fonseca, S.A.R.L." e loja "Val do Rio, na Praça David Leandro da Silva, também em Xabregas

No seu conjunto, a "Soc. Com. Abel Pereira da Fonseca, S.A.R.L." era mais do que um simples armazém de vinhos, pois desde o armazenamento, tratamento, embalagem e execução a empresa liderava todo o processo. Explorou ainda a venda a granel tendo criado marcas próprias, com a "Sanguinhal" e "Menagem". Não satisfeito, acaba por estabelecer uma rede de distribuição nunca antes vista a nível nacional. Por fim, estabelece uma rede de distribuição, atingindo mesmo as cento e quatro lojas “Val do Rio”, sobretudo em Lisboa e arredores, em que os clientes contactavam directamente com os produtos expostos, antecipando a ideia do self-service. Terá sido esta empresa a percursora de uma nova época do consumo nestes anos se olharmos para a rede de estabelecimentos "Val do Rio", que também de forma pioneira eram apoiados pelas campanhas de publicidade, tais como, imprensa escrita, publicações periódicas, meios radiofónicos e televisão.

Numa feira em Évora

Início da "queda" dos estabelecimentos "Val do Rio" retratada nesta loja da Rua do Lumiar, em foto de 1975

A "Soc. Com. Abel Pereira da Fonseca, S.A." cessou as suas actividades  em 1993. Posteriormente, em 1998, a firma cedeu o espaço dos armazéns, à Câmara Municipal de Lisboa, para actividades de reanimação cultural e turística integradas no "Caminho do Oriente", em articulação com a “EXPO 98” e a “AMBELIS” - música ao vivo, arte pública, exposições, passagem de modelos, mostra de gastronomia. 

fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Arquivo Nacional da Tore do Tombo, Terras da Ribeirinha, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Garfadas on line