O "Circo de Madrid", constituído por 35 pessoas e 25 cavalos, teve a sua estreia em 16 de Janeiro de 1845, depois de ter sido construído em Dezembro de 1844, num terreno na Rua Oriental do Passeio Público esquina com o Largo d'Annunciada, apelidado de "Abegoaria Velha" (quarteirão do "Theatro da Rua dos Condes", que antes de 1755 fora ocupado pelo "Palácio dos Condes da Ericeira"), em Lisboa. Era seu proprietário e diretor, o parisiense Mr. Paul Laribeau.
16 de Janeiro de 1845
Obteve grande sucesso, segundo dizem as folhas d'então. Entre outras sortes de prestigiação executava a chamada do 'Balde', que consistia em metamorphosear um balde suspenso no ar, cheio com 108 canadas d'agua, em um ninho de pombos, que voavam em todos os sentidos do circo. Apresentou um authomato fallante que attrahiu repetidas enchentes ao circo.
Este habil feiticeiro deu a sua ultima representação em 6 de Outubro seguinte.
É preciso que se note, que no Circo de Madrid, casa de espectaculo que no seu começo fez a delicia dos nossos avós, trabalharam artistas de incontestavel merito; Mr. Rattel, por exemplo, entre outros exercicios difficilimos, dava com summa pericia o 'duplo salto no ar'.» in: revista "Occidente" de 1 de Setembro de 1882.
Existiram mais, pela sua ordem chronologica, os seguintes circos para funambulos e volatins: o de Buenos-Ayres, o do Abarracamento de Peniche, o da rua do Vigário, o da rua da Procissão, e o de Madrid, no largo d'Annunciada.
O terreno em que estava o circo era um quintal onde existira a taberna do Cambalhota. afamada pela bella pescada que vendia. A esta taberna chegavam a ir Herculano e Garrett. O terreno pertencia ao Pinto Cambalhota, e, parte d'elle, foi vendido por sete contos de réis ao Nunes algibebe, para edificaçáo do seu prédio. O restante é occupado pelos prédios da condessa d'Almedina e da viuva Leal.
O circo de Madrid abriu as portas em 14 de janeiro de 1845, e teve o seu momento de celebridade com a companhia da Avrillon. A Polletti, com alvas espáduas calandradas, a soberbia d'estatua sobre o pedestal e a fria correcção d'um gêsso, o pequenito Leon trabalhando sobre quatro poneys em pello, o cavallo Phenix amestrado por Mr. Laribeau, e os prodígios de Mr. Cocciíi, constituiram o chamariz. O Rallel era um palhaço d'immensa pilhéria, e Madame Cocchi uma formosíssima mulher, a quem os janotas se fartavam d'arrastar a aza.
Mr. Paul Laribeau ganhou uma fortuna, que metteu no Banco de Lisboa, fortuna que ficou reduzida a menos de metade, porque veio a Maria da Fonte e pagaram lhe em notas de 4$800 réis, que apenas valiam então quatro pintos (1$920 réis).
O recinto dos Cavalinhos do Largo da Anunciada - o "Circo de Madrid" - também fora considerado, pela crónica da época, como um barracão de aspecto fúnebre, onde chovia.
Existiram vários circos no século XVIII, construções de madeira e lona, propriedade de, entre outros, o Araújo, o Vilar, ou o Palhares, em que o mais notável, opina Matos Serqueira, era o dos irmãos Dallot.
4 de Agosto de 1849
Filhos de funâmbulos, Joseph, Charles e Julie, vieram actuar a Portugal por volta de 1845, escriturados no Circo de Madrid, dirigido por Paul Laribeau. São referenciados os intermédios de Mr. Dallot, de parceria com Mr. Ratel, em anúncios publicados no Diário do Governo, entre 15 de Março e 1 de Dezembro de 1845.
Luiz Palmeirim citou, evidentemente por lapsus calami, a companhia de cavallinhos do Avrillon, quando devia citar a companhia de Laribeau, creador do circo de Madrid, em 1845. Em 1847 trabalhou n'este circo a companhia de Mrs. Cocchi e Achilles Polletti, ex-bailarino de S. Carlos. Madame Polletti, antiga segunda bailarina do mesmo theatro, dançava graciosamente a cracoviana.
Um volatim da companhia Laribeau executava uma pantomima que constituía prato de resistência nas festanças dos circos d'aquelles tempos. Era a pantomima D, Pedro no cerco do Porto. Um annuncio de O Patriota dizia que vestidos, accessorios e penteados haviam sido feitos por artistas que trabalharam para o imperador durante o cerco.
Ora o Avrillon já a tinha desempenhado no circo Olympico, ao Poço Novo, onde apresentava o cavallo Mahomet, o mosca, o Colibri, e o Bil, que pertencia ao conde de Farrobo. Além do immortal D. Pedro no cerco do Porto, exhibia mais pantomimas a cavallo, como eram : o grande Napoleão, o dragão francez, o gladiador romano, o lanceiro portuguez defendendo o estandarte da liberdade, etc. Da sua companhia faziam parte Madame Cabauel, o alcides francez Turim Júnior, e o jogador indiano Medua ou Medina Samme, que trabalhara primeiro no Tivoli da rua da Flor da Murta e trabalhou depois no theatro de S. Carlos.» in: "Lisboa d'Outros Tempos", de Pinto de Carvalho ("Tinop") em 1898.
O "Circo de Madrid" encerraria definitivamente e seria demolido em finais de 1852. Neste mesmo lugar ainda viria a funcionar, a partir de 22 de Novembro de 1857, um teatro de fantoches o "Theatro Mechanico" e cuja história publicarei brevemente. O teatro, propriedade dos empresários, era construído em madeira e era desmontável.
No seu lugar viria a ser construído um prédio pertença do famoso alfaiate Manoel Nunes Corrêa, dono da firma "Manoel Nunes Corrêa, Filhos & C.ª" na Rua de S. Julião 188-198, em Lisboa.
Último espectáculo do "Circo de Madrid" em 27 de Novembro de 1852. Encerraria definitivamente neste dia
Projecto do edifício a ser construído no lugar do "Circo de Madrid"
Oito anos mais tarde, aparecia o famoso “Theatro-Circo de Price”, inaugurado em 11 de Novembro de 1860, em Lisboa tendo-se instalado no espaço da primeira praça de touros em Lisboa a “Praça do Salitre”, inaugurada em 4 de Junho de 1790, na Calçada do Salitre, junto ao “Theatro do Salitre”, também conhecido por “Theatro de Variedades”. Este circo foi também conhecido por “Circo de Cavalinhos”, “Circo de Mme. Tournour”, “Novo Circo Price” e “Lisbon Amphitheatre Anglo Franco Português”. A iniciativa do inglês Thomas Price, com o seu grupo de ginastas e acrobatas estrangeiros impressionou a juventude lisboeta da época e esteve na origem do atual “Ginásio Clube Português”.
O "Theatro-Circo de Price" era um espaço extremamente popular, mas citado na literatura burguesa do seu tempo como um lugar pouco confortável e abafado. Os "Recreios Whittoyne", inaugurados em 6 de Novembro de 1875 nos jardins do Palácio Castelo Melhor, eram um jardim burguês, que funcionava como complemento do "Passeio Público". As obras de abertura da Avenida da Liberdade (1879-1885) e a construção da "Estação do Rossio" (1888), corolários urbanos póstumos da Regeneração fontista, desfizeram esta série de equipamentos lúdicos, algo efémeros - "Circo de Madrid", "Theatro-Circo de Price", "Recreios Whyttoine" - que antecederam o "Colyseo dos Recreios" inaugurado em 14 de Agosto de 1890 na Rua de Santo Antão.
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, PublicDomainPictures
2 comentários:
Parabéns por mais um artigo, nesta excelente página, da qual tento não perder um artigo.
Não calculo o trabalho que dão.
Neste artigo apenas um reparo: as datas nas três primeiras notícias de jornal estão como 1944 e 1945, quando devem ser 1844 e 1845.
Continue com as suas fantásticas publicações.
Votos de um Ano Novo, principalmente com muita saúde!
Abraço!
Muito grato não só pelas suas amáveis palavras como pela chamada de atenção.
Já está corrigido.
Tambem lhe desejo um Feliz Ano Novo, para si e sua família.
Abraço
José Leite
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