Restos de Colecção: Casa Bancária "Cupertino de Miranda & C.ª"

5 de fevereiro de 2023

Casa Bancária "Cupertino de Miranda & C.ª"

A casa bancária "Cupertino de Miranda & C.ª ", com sede na Rua Sá da Bandeira, na cidade do Porto, foi constituída em 30 de Abril de 1931 e registada na conservatória da mesma cidade em 08 de Maio desse ano.

Arthur Cupertino de Miranda nasce a 15 de Setembro de 1892 na Quinta de Felgueiras, na freguesia de Santa Lucrécia do Louro, concelho de Vila Nova de Famalicão. Filho de um casal de abastados lavradores, Francisco Cupertino de Miranda e Joaquina Nunes de Oliveira, é o mais novo de quatro irmãos – José, Augusto, António e Arthur. Com apenas 19 anos, casa com D. Elzira Celeste Maya de Sá Cupertino de Miranda (1892-1978) e fixa residência no Porto.

Arthur Cupertino de Miranda (1892-1988)

Esta casa bancária teve origem na sociedade bancária "Cupertino Miranda & Irmão, Limitada", constituída em 14 de Maio de 1919 entre o "Banco Popular Português", Arthur Cupertino de Miranda e seu irmão, o Doutor Augusto Cupertino de Miranda. Com um capital social de 100 contos, estava igualmente, sediada no Porto. As quotas foram divididas do seguinte forma: 40% do "Banco Popular Português" - fundado em 9 de Abril de 1917, no Porto e 30 % para cada um dos irmão Cupertino de Miranda.


Título de 1917 e anúncio publicitário de 1923

 Mais tarde, por escritura de 24 de Fevereiro de 1921 Arthur Cupertino de Miranda adquiria os 40 % do "Banco Popular Português" (1917-1928), e em 28 de Agosto de 1922 doava a seu filho, Artur Luiz Cupertino de Miranda uma parte da primitiva quota de 100 escudos e adquiria a quota pertencente a seu irmão, Augusto. Pelo que, em 1922 a firma "Cupertino de Miranda & Irmão, Limitada", ficou inteiramente na posse de Arthur Cupertino de Miranda e seu filho Artur Luiz.


19 de Novembro de 1925

Com a necessidade de desenvolvimento do negócio, o capital tornou-se insuficiente e foi necessário reforça-lo com a entrada de novos sócios. A alteração do pacto social da firma celebrou-se em 14 de outubro de 1922.

Nesta alteração fixou-se a sede social na Rua Sá da Bandeira, definiu-se o objeto da sociedade centrado no comércio de cambiais, papéis de crédito e na elevação do capital inicial (100.000$00) para 2.000.000$00 representado pelas seguintes quotas: Arthur Cupertino de Miranda, 1.149.900$00, José d`Almeida Cunha, 300.000$00, Almeida Cunha, Irmãos & Companhia, 150.000$00, Francisco da Silva Marinho, 150.000$00, Klaus Stefnanson Jervell, 150.000$00, Augusto Marques da Silva Júnior, 50.000$00, Joaquim Fonseca, 50.000$00, Artur Luís Cupertino de Miranda, 100$00. A gerência ficava a cargo exclusivo do sócio Arthur Cupertino de Miranda, que teria como remuneração a quantia e precentagem nos lucros que lhe fossem fixadas na primeira assembleia geral.



1 de Agosto de 1928

O Decreto de 16 de Abril de 1931 autoriza a transformação da sociedade "Cupertino de Miranda & Irmão, Limitada" em "Cupertino de Miranda & C.ª ", com um capital de 5.500.000$00 (ouro 250.000$00). O Decreto de 27 de abril de 1931 dispensa-a do depósito obrigatório de 50% do capital. Surgia então, a oportunidade de alargar a sua influência a toda a região norte, incluindo Vila Nova de Famalicão, uma importante zona industrial e comercial que estava privada de uma instituição bancária face ao encerramento da casa bancária "Brandão & Companhia". Com efeito, a "Associação Comercial e Industrial" solicita que "Cupertino de Miranda & C.ª " instalasse uma agência na praça famalicense, o que se concretizou em Julho de 1931.


1934



1936

No Porto, a atividade da instituição, pese os tempos difíceis que a praça portuense atravessou nos princípios da década de 30, foi-se cimentando e, em 22 de Novembro de 1937, é solicitada à Inspeção do Comércio Bancário autorização para a abertura de uma agência na Póvoa de Varzim.


16 de Novembro de 1938

Em 1942, a firma "Cupertino de Miranda & C.ª "chegava ao fim, mas a sua actividade ia prosseguir, com grande sucesso, sob a designação de "Banco Português do Atlântico", oficializado pelo "Diário do Governo" de 30 de Dezembro de 1942, que fazia constar:

«Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministério das Finanças, autorizar a modificação para responsabilidade anónima de responsabilidade Lda., sob a denominação de Banco Português do Atlântico, da Casa Bancária Cupertino de Miranda & C.ª, com sede no Pôrto, conforme foi requerido, e aprovar o respectivo projecto de estatutos, cujo original fica junto ao processo, devendo cumprir-se as disposições gerais aplicáveis. 
Ministério das Finanças, 26 de Dezembro de 1942 - Pelo Ministro das Finanças, Clotário Luiz Supico Ribeiro Pinto, Sub-Secretário de Estado das Finanças.»


"Palácio Atlântico", sede do "Banco Português do Atlântico na Praça D. João I, no Porto


Arthur Cupertino de Miranda a inaugurar, em 20 de Dezembro de 1965 o "Telebanco" BPA, junto à sede, no Porto



"Banco Português do Atlântico", em Lisboa

Quanto a Arthur Cupertino de Miranda, nos anos 60 do século XX, adquire uma quinta no Algarve, com 1700 hectares, e concebe um grande projecto turístico, dotado de marina, hotéis, casino e campos de golfe, fundando deste modo a "Lusotur", actual "Vilamoura Lusotur, S.A.".

Entrou na fundação de várias empresas, como: a "Companhia Vidreira Nacional" - Covina; a "Companhia Vidreira Brasileira" - Covibra; a "Companhia de Fomento Colonial" e a "Sociedade Algodoeira de Portugal".


Foi condecorado com a Comenda da Ordem Militar de Cristo (1934); Grã-Cruz da Ordem de Mérito Civil, de Espanha (1964); Medalha de Ouro da Municipalidade de Vila Nova de Famalicão (1964); Comenda da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul (1965); Medalha da Imperatriz Leopoldina, do Instituto Histórico-Geográfico de São Paulo, Brasil (1967); Grã-Cruz da Ordem de Benemerência, de Portugal (1969); Medalha de Ouro da Cidade do Porto (1969).

Institui, em 15 de Agosto de 1963, uma Fundação com o seu nome, "Fundação Cupertino de Miranda", instalada em Vila Nova de Famalicão, para fins de educação, cultura e assistência. Dela foi fundador, juntamente com sua mulher, D. Elzira Cupertino de Miranda, e Presidente vitalício do seu Conselho de Administração. Após a morte de D. Elzira, em 1978, fixa residência em Lisboa.


"Fundação Cupertino de Miranda", em Vila Nova de Famalicão


Arthur Cupertino de Miranda viria a falecer, em Lisboa, a 13 de Julho de 1988. 

Com a vaga das Nacionalizações de Março de 1975, o "Banco Português do Atlântico"  viria a incorporar o "Banco Fernandes de Magalhães" (Porto) e o "Banco do Algarve". Por sua vez, o "Banco Português do Atlântico", em 30 de Junho de 2000, viria a ser incorporado no "Banco Comercial Português" (fundado no Porto em 25 de Junho de 1985).

4 comentários:

CM disse...

Parabéns! Mais um belíssimo artigo.
Perdoe-me chamar a atenção só para dois erros sem importância, ambos no 3º parágrafo:
"Esta casa bancária teve origem nua sociedade bancária "Cupertino Miranda & Irmão, Limitada", constituída em 14 de Maio de 2019..."
A palavra "nua" deve ser "numa" e o ano "2019" deve ser "1919" julgo eu.
Mais uma vez, parabéns pelo excelente artigo!

José Leite disse...

Muito grato pela chamada de atenção.
Já está corrigido.
Os meus cumprimentos
José Leite

Gonçalo Alexandre disse...

Bom dia. Desculpe Sr. José de Leite, mas faltou referir que era um dos 7 gigantes Conglomerados Mistos e que também foi nacionalizado nas loucas nacionalizações de 1975.

José Leite disse...

Grato pela sua lembrança. Já foi relembrada essa passagem no artigo.
Os meus cumprimentos