Pretendia fazer uma única resenha histórica sobre a empresa "Cometna - Companhia Metalúrgica Nacional, S.A.R.L.", criada em 1963, a partir da empresa "Alfredo Alves & C.ª (Filhos)" na Amadora. Por sua vez esta fábrica tinha incorporado a empresa "Fábricas Vulcano & Collares" em 1945, e esta resultado da união das duas metalúrgicas "Fábrica Vulcano" e a "Fábrica Collares". Para informar da história da "Cometna" em condições, num único artigo resultaria longo e fastidioso. A solução foi, dividir a história em duas partes, com títulos diferentes, a serem publicadas em dois meses seguidos. Assim o artigo intitulado: "Cometna - Companhia Metalúrgica Nacional, S.A.R.L." será publicado no próximo mês de Março.
* Fabrica Collares *
A "Fábrica José Pedro Collares", foi fundada em 1809 por José Pedro Collares, na Rua Augusta, 160 em Lisboa, como serralharia e caldeiraria de cobre, com apenas sete operários. Em 1842, já com mais de trinta operários, e já sob a firma "José Pedro Collares & Filhos" muda as instalações para um estaleiro com frente para o Largo Conde Barão (na zona da Boa-Vista) reunindo oficinas, escritórios, armazéns, loja de vendas e sua habitação, «talvez o maior estabelecimento deste genero no nosso paiz». Este estaleiro tinha sido aforado, por escritura de 15 de Novembro de 1800, pela Direcção do Senado da Câmara Municipal de Lisboa, pela quantia de 100$375 réis, quando era ainda Marinha da Boa-Vista.
Antigo edifício de loja e escritórios da "José Pedro Collares & Filhos" no Largo do Conde Barão
Em 1845 seu filho, José Pedro Collares Junior, que começou a trabalhar com 10 anos na oficina de seu pai, aos 25 anos assume a direcção da fábrica.
As outras fábricas, concorrentes e vizinhas, eram muito mais recentes, tendo sido fundada a "Fabrica Vulcano" em 1843 e a "Phenix" em 1844. Mas a própria Collares só na década de 40 do século XIX arrancou para uma fase de crescimento industrial, coincidindo com a passagem da administração para José Pedro Colares Júnior.
1853
Foi nas fábricas Collares e Phenix que se iniciou, respectivamente em 1842 e 1845, o fabrico de máquinas de vapor em Portugal.
Em 1845, José Pedro Collares dá sociedade aos seus dois filhos mais velhos, confiando a direcção do estabelecimento ao filho mais velho e ao segundo a direcção das máquinas a vapor. Para esta sociedade entra, em 1848, o terceiro filho e a firma passa a designar-se como "José Pedro Collares Junior & Irmãos". Em 1851 junta-se ao grupo, o quarto irmão, António Pedro Collares e a firma passa a denominar-se "José Pedro Collares Junior & Irmãos",empregando 120 operários.
Em 1854 a fábrica é destruídapor um incêndio, e é reconstruída dois anos mais tarde, graças ao esforço financeiro dos vários empresários e do apoio do governo.
No início do mês de Dezembro de 1856 o estabelecimento fabril, reedificado no Largo de Conde Barão, abriu as suas portas e foi visitado por inúmerosempresários do ramo ou meros curiosos que ficavam extasiados perante:“o magnifico espectáculo (que era) ver um edifício de três pavimentos, onde em todos parece estar o moto continuo, desde o tecto até ao chão; e os efeitos daquele incansável rodar, a aparecerem completamente, acabados, completos, milagrosos!”
Em 1849, a "Fábrica Jose Pedro Collares & Filhos" já empregava mais de 60 operários.
Em Setembro de 1849 acontece a primeira greve em Portugal, e em Lisboa, envolvendo quatro fábricas. Os operários das fábricas Collares, Phenix, Vulcano e João Bachelay, todas elas situadas na zona industrial localizada entre o Tejo, a Rua da Boa-Vista e o Largo do Conde Barão, fizeram greve em luta contra … o serão. Naqueles tempos, o horário de trabalho compreendia um serão no Outono e Inverno, quando os dias eram mais curtos. Os operários exigiam trabalhar apenas de sol a sol, todo ano, sem diminuição de salário pelo facto de não trabalharem ao serão. Ter-se-ão verificado anteriores conflitos laborais mas a primeira greve, tecnicamente merecedora desse nome, foi esta de 1849.
Em 31 de Dezembro de 1851 a firma "Fábrica José Pedro Collares & Filhos" é dissolvida:
O Escriptorio da nova Sociedade continua a ser no mesmo Estabelecimento do Largo do Conde Barão nº 3 A, e bem assim a Loja da rua Augusta nº 160, a fazer parte do mesmo. (...) - José Pedro Collares, José Pedro Collares Junior, João Pedro Collares, Thomaz Pedro Collares, Antonio Pedro Collares» in: Revista Universal Lisbonense
Em 1854 a fábrica "José Pedro Collares Junior & Irmãos", que já contava com 140 operários é destruída por um incêndio, mas seria reconstruída dois anos mais tarde, graças ao esforço financeiro dos vários empresários e do apoio do governo.
No início do mês de Dezembro de 1856 o estabelecimento fabril, reedificado no Largo de Conde Barão, abriu as suas portas e foi visitado por inúmeros empresários do ramo ou meros curiosos que ficavam extasiados perante «o magnifico espectáculo (que era) ver um edifício de três pavimentos, onde em todos parece estar o moto continuo, desde o tecto até ao chão; e os efeitos daquele incansável rodar, a aparecerem completamente, acabados, completos, milagrosos!»
Em 1863 cerca de 230, em 1881 perto de 250 operários e aprendizes, sempre sob a gerência de José Pedro Collares Junior, que dizia-se o iniciador em Portugal da indústria de construção de máquinas. Nas oficinas da Boa-Vista fabricavam-se muitas outras obras em ferro fundido e forjado, cobre e outros metais, tais como máquinas de destilação, tornos para tornear metais e madeiras, prensas, calandras, rodas hidráulicas, bombas de rega e incêndio, moinhos e máquinas diversas para a agricultura, charruas e ferramentas, grades para habitações e jardins, fogões de cozinha e de sala, camas, tubos de chumbo condutores de gás, etc. A grande maioria destes produtos eram fabricados por encomenda. As fábricas Collares e Phenix (e talvez a Vulcano) dispunham já em 1849 de máquinas de vapor que moviam diferentes máquinas de trabalhar os metais.
Em 1858, João Pedro Collares e António Pedro Collares desligam-se amigavelmente da Sociedade, que ficou a pertencer apenas aos dois outros irmãos. No ano seguinte, venderam a fábrica à "Companhia Perseverança", que fora fundada e organizada por José Pedro Collares, recebendo o valor da venda em acções da companhia, e transforma-se em sociedade anónima de responsabilidade limitada. Em 1870, esta Companhia que já alcançara uma prosperidade evidente, pedia a patente de invenção para todas as prensas que, em breve se tornariam muito conhecidas em todo o país.
Em 1881, a empresa, agora com 240 operários, atravessou uma crise por ter investido dinheiro na compra de matéria‑prima para a produção de tubos destinados à iluminação a gás de Lisboa, projecto que foi abandonado. O Governo tinha decidido autorizar a "Companhia Lisbonense de Illuminação a Gaz" (fundada em 1943) a importar, livre de direitos, tudo o que necessitasse. Disso mesmo se queixou José Pedro Colares Júnior, referindo que o percalço quase custara a vida da empresa.
Stand da "Companhia Perseverança" na "Exposição Industrial de Lisboa" em Junho de 1888
Em 4 de Novembro de 1889, Frederico Collares, - filho de Thomaz Collares e sobrinho de José Pedro Collares Junior - alegando ser possuidor da totalidade das acções da "Companhia Perseverança", pediu a sua extinção, tendo-lhe sido concedida. Em resultado disso, é constituída a firma "Frederico Collares & C.ª" cujos sócios são Frederico Collares e João Collares Pereira.
Em 13 de Dezembro de 1890, João Collares Pereira efetiva promessa de venda da "Fabrica Collares" ao Dr. Custodio Moniz Galvão, que em 29 de Março de 1900 constitui, com Augusto José Xavier, a firma "Moniz Galvão & C.ª". Esta empresa manter-se-ia em funcionamento até à sua união com a "Fabrica Vulcano", em 1915.
10 de Maio de 1896
* Fábrica Vulcano *
A "Fabrica Vulcano - Fundição de Ferro e Serralharia", foi fundada em 1843, por Jacinto Dias Damásio, no Boqueirão do Duro (ao Conde Barão), na zona da Boa-Vista em Lisboa, e actuava nos mesmos segmentos de mercado da "Fábrica José Pedro Collares & Filhos", sendo sua vizinha.
A "Fabrica Vulcano" foi estabelecida nos terrenos do Estaleiro do Boqueirão do Duro, comprado em 1837 por António Lamas, ao conselheiro Miguel José Martins Dantas, que o venderia a António Rodrigues Tarujo.
O sucesso desta unidade fabril motiva Henry Peters a comprar a "Fábrica Vulcano" em 1851, com a intenção de aumentar as instalações da sua "Phenix" instalada na Travessa Nova do Cais do Tojo, para o Boqueirão do Duro. Mas ... paralelamente à compra das instalações, José Pedro Collares Junior compra toda a maquinaria impedindo, desse modo o funcionamento da fábrica, o que obrigará Peters a cessar a actividade da mesma, durante os seis anos seguintes. Em 1857, após reequipar a "Fabrica Vulcano" com nova maquinaria, volta a funcionar e em poucos anos já contava com 66 operários.
Henry Peters morre em 1899 e a "Fabrica Vulcano" passa a designar-se "Fábrica Vulcano - Viuva Peters & Filhos", passando a ser explorada pela sociedade de investidores industrias "Carlos Alves & C.ª, Lda." ao qual se junta Carlos Alfredo da Silva em 1905, que viria a assumir a sua propriedade, individualmente, em 1908.
1885
Em 13 de Abril de 1904, Carlos Alfredo da Silva adquire a "Fábrica Collares" à firma "Moniz Galvão & C.ª", e de seguida promove a fusão das fábricas Collares e Vulcano, - "Fábricas Vulcano e Collares" - dando origem a uma das maiores metalúrgicas lisboetas e do país. Um ano depois, o empresário faleceu, e em 4 de Dezembro de 1916, é criada uma sociedade por quotas com objectivo de continuar a sua actividade: "Carlos Alfredo da Silva, Lda - Fábricas Vulcano e Collares". Apesar da sua morte e devido à I Grande Guerra Mundial (1914-1918) e o consequente aumento significativo de encomendas, a fábrica prospera e, em 1917, já empregava 538 operários.
1904
1910
Em 1920 , a "Empresa Industrial Portuguesa", a "Companhia Alliança - Fundição de Massarellos" (fundada no Porto, em 1851) e a "Carlos Alfredo da Silva, Lda. - Fábricas Vulcano & Collares", eram as três maiores empresas metalomecânicas de Portugal, sendo as suas actividades industriais classificadas como: serralharia mecânica, caldeiraria e fundição.
Bibliografia e algumas fotos:
- "Repensar a 'Fábrica' Proposta de Reconversão para a Antiga Fábrica Vulcano e Collares na Boavista" - Projecto Final de Mestrado para obtenção do grau de Mestre em Arquitectura da Arquitecta Ana Cordeiro Leal - Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa - Dezembro de 2016
- "Grandes Empresas Industriais de um País Pequeno: Portugal da Década de 1880 Á 1ª Guerra Mundial" - Dissertação apresentada para a otenção do grau de Doutor em História Económica e Social de Pedro José Marto Neves - Universidade Técnica de Lisboa - ISEG - Janeiro de 2007
- Arqueologia em Portugal - "A Ferro e Fogo - A Fundição Vulcano & Collares, Lisboa" - 2017
- "A Produção de Mobiliário Urbano de Fundição em Portugal: 1850 a 1920 - Tese para grau de Doutora - Sílvia Barradas - Universidade de Barcelona (Julho de 2015)
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian
1 comentário:
Na primeira fotografia do Boqueirão do Duro, os muitos Volkswagen estacionados é pelo facto de existir a Oficina Nº. 1, esquina com a Rua D. Luís I, da Guérin, primeiro com carros americanos e depois conjuntamente com os famosos "Carochas". No início dos anos 1970's foram sendo desocupadas aquelas oficinas/loja de peças, dando anos depois lugar a instalação de um ginásio do BES.
Já tinha feito um interessante poste sobre a Guérin, Lda., em 04-06-2014.
Cumprimentos
Valdemar Silva
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