A "Sonap - Sociedade Nacional de Petróleos, S.A.R.L." foi fundada, em 1933, pelo empresário de origem galega Manuel Cordo Boullosa (1905-2000) e Manuel Teixeira Queiroz Pereira (1906-1983) que, como é mencionado por Filipe S. Fernandes no seu livro "Fortunas & Negócios", «tinham raciocínios muito semelhantes e nos negócios eram complementares. Enquanto Manuel Boullosa era intuitivo, criativo e audaz na promoção dos negócios, Manuel Queiroz Pereira trazia a cautela e a serenidade». Ambos tinham um acordo: participarem nos negócios conjuntos com as mesmas posições.
Depois de iniciarem as importações de petróleo de Hamburgo resolveram, em 1933, criar a "Sonap -Sociedade Nacional de Petróleo, S.A.R.L.", onde cada um tinha 20% e a empresa francesa "Stua Française" com 60%. A sua actividade, contudo, estava fortemente condicionada pela desvantagem de ser uma recém-chegada De facto, quando o governo, pouco tempo depois, cria o mercado contingentado, à "Sonap" é apenas atribuída uma percentagem de quotas de 7,1% da gasolina e 3,55% do gasóleo.
1934
A situação mudaria drasticamente com o aparecimento da refinaria da "Sacor" inaugurada em 11 de Novembro de 1940. A Lei dos Petróleos de 1937 (Lei n.º 1947) estabelecia contingentes à importação de derivados de petróleo para todas as distribuidoras instaladas, e é dada ao refinador uma quota de 50% do mercado, embora com a impossibilidade de importar produtos petrolíferos.
Em 1947, o mercado encontrava-se repartido, por ordem de importância entre as seguintes companhias: "Sacor" (49%), "Shell" (33,88%), "Socony-Vacuum Oil Company" (11%), "Atlantic Refining Company" (4%) e "Sonap" (2%). No entanto, no triénio de 1948-1950 o Governo iria alterar as posições das diversas companhias em benefício da "Sonap", que passa a ter 16% do mercado de distribuição de combustíveis, principalmente à custa da "Shell" (21%). As razões para este reforço da posição da "Sonap" eram de diversa ordem de grandeza. Em primeiro lugar, a "Sonap" tinha passado a ter capitais maioritariamente nacionais depois da compra, por sócios portugueses de 41% do capital detido pelos franceses. Em segundo lugar, nenhuma das empresas internacionais estava convenientemente apetrechada no que se referia a capacidade de armazenagem, e a "Shell" e a "Vacuum" não podiam garantir o abastecimento que se solicitava para 1948. A "Sonap" por outro lado, com a ampliação dos seus depósitos em Porto Brandão, garantia esse abastecimento, solicitando uma maior posição no mercado, que foi totalmente concedida pelo governo. Em 1953, último ano em que se registou alterações nas quotas de distribuição, a distribuição era a seguinte: "Sacor" (50%), "Shell" (20%), "Sonap" (16%), "Socony-Vacuum Oil Company" (10%) e "Atlantic Refining Company" (3%).
1951
Os anos cinquenta do século XX, no campo da distribuição de produtos petrolíferos, ficaram marcados pela evolução da "Sonap" que cobria o país com uma rede de revendedores, ampliando as suas capacidades de armazenagem (sucessivas expansões em Porto Brandão), e inicia a comercialização dos lubrificantes e abastecimento à navegação, garantindo o abastecimento de combustíveis em situações de crise internacional, como o encerramento do Canal de Suez em 1956.
Em 1955, deixa de receber produtos acabados passando a receber crude que era refinado em Portugal, e tenta impor-se nos mercados das colónias através da "Sonapmoc" (1955) e "Sonarep -Sociedade nacional de Refinação de Petróleos" (1959), cuja refinaria seria inaugurada, na Matola, em 28 de Maio de 1961. Em Moçambique, a refinação e distribuição de petróleo era monopolizada pelo grupo "Sonap" - "Sonarep", "Sonapmoc", "Sonapmarítima" e a "Oil Com" - em que 27 % e 20% das acções pertenciam respectivamente à "Compagnie Française des Pétroles" e à "TOTAL", associadas ao Grupo Bullosa.
Já no início dos anos sessenta a "Sonap" concorre à instalação da segunda refinaria, a instalar em Matosinhos, em associação com a "Sacor". O governo acabou por conceder a nova refinaria de Matosinhos à referida associação que passaram a ter participações cruzadas, - consequência da cisão entre Manuel Bulhosa e Queiroz Pereira na "Sonap" - e com a «obrigatoriedade de envolvimento do grupo "CUF" em futuros desenvolvimentos na área da petroquímica», na qual participavam ainda a "Shell" e a "Mobil Oil Portuguesa". A Refinaria virai a ser instalada em Matosinhos, arredores do Porto, em 1969. A "Sonap" foi ao longo deste período um pilar da economia nacional praticando margens de lucro bastante mais baixas do que as suas concorrentes "Shell", "Atlantic Refining Company" e "Socony-Vacuum Oil Company".
Colaboração da "SONAP" nos testes de carga da "Ponte Sobre o Tejo", em 1966
1961
E foi nesta altura que a família Mello, detentora da "CUF", mostrou interesse em, também ela, entrar no negócio do petróleo. Falhou a refinaria, mas acabou por entrar em 1970 na "Sonap" e associar-se a Manuel Boullosa para a construção da refinaria a sul do país, em Sines, formando, as duas, a "Petrosul - Sociedade Portuguesa de Refinação de Petróleos", S.A.R.L.". Neste concurso participaram , além do citado, outros dois consórcios: um formado pela "Shell", "Mobil", "BP", "Sacor" e "Fundação Calouste Gulbenkian"; outro pelo Grupo Champalimaud. Em 1971 seria concedida ao consórcio "Sonap"/"CUF" - "Petrosul" a exploração do complexo petroquímico de Sines. Projecto adiado pelos acontecimentos dos anos seguintes, que ficaram para a história pela crise do petróleo mundial e, em 1974, em Portugal, pelo 25 de Abril. Quanto à "Sacor" foi-lhe adjudicada a ampliação da "Refinaria de Matosinhos", com a condição de reduzir a sua quota de mercado de 50 % para 40% assim que a "Refinaria de Sines" entrasse em funcionamento, que aconteceu em 1978.
Com Abril de 1974, vieram as nacionalizações de 1975, e com elas foram para Estado a "Sacor", a "Sonap", a "Petrosul" e a "Cidla" (empresa de gás da "Sacor").
«Usando dos poderes conferidos pelo artigo 3.º, n.º 1, alínea 3), da Lei Constitucional 6/75, de 26 de Março, o Conselho de Ministros decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:
Artigo 1.º - 1. São declaradas nacionalizadas, com eficácia a contar de 15 de Abril de 1975, as sociedades petrolíferas a seguir indicadas:
b) A Petrosul - Sociedade Portuguesa da Refinação de Petróleos, S. A. R. L.;
c) A Sociedade Nacional de Petróleos, S. A. R. L. - Sonap;
d) A Cidla - Combustíveis Industriais e Domésticos, S. A. R. L. »
A fusão destas companhias, deu origem à "Petrogal, E.P.", em 1976, que resolve entrar no negócio de pesquisa e exploração petrolífera. Totalmente detida pelo Estado, avançou no petróleo e no gás. Actualmente é a "Galp", que todos conhecemos.
Bibliografia:
- "Os Petróleos em Portugal - Do Estado à Privatização 1937-2012" - David Castanho, Ana Mónica Fonseca, Pedro Lains, Daniel Marcos - Imprensa de Ciências Sociais (2013).
- "O Desenvolvimento do sector petrolífero em Portugal 1944-1961" - Sofia Teives Henriques - Universidade do Porto (2003).
Fotos in: Acervo Fotográfico de Manuel A. Martins Gomes (Facebook), Hemeroteca Digital, Fundação EDP, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Horácio Novais), Arquivo Municipal de Lisboa
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