A empresa "Pathé-Baby Portugal, Lda." foi fundada em Junho de 1925 na Rua do Almada, 320, na cidade do Porto, tendo aberto uma filial em Lisboa, na Rua de São Nicolau, 22. Eram seus sócios Eduardo Clemente Méco, técnico mecânico, seu filho Rui Nascimento Méco, e António Bernardo.
Eduardo Clemente Méco
Esta empresa era uma subsidiária da francesa "Société Française du Pathé-Baby", que tinha sido fundada em Paris em 1924.
A sua actividade era descrita, na sua razão social, como: «Exploração no Continente, Ilhas e Colónias, dos artigos Pathé-Baby e seus acessorios da casa Pathé Cinema de Paris, não podendo ocupar-se de outro ramo de negocio enquanto durar o contrato de venda exclusiva com a referida casa.»
Para as férias de Natal de 1922, a companhia francesa "Compagnie Générale des Établissements Pathé Frères, S.A. - Phonographe et Cinématographe", fundada em 1890 pelos irmãos Charles e Émile Pathé, lançou o "Pathé-Baby", um projetor de brinquedo destinado ao ambiente familiar. Usava filme não inflamável de 9,5 mm, o menor formato disponível na época. A sua operação muito simples permitia que fosse manuseado por uma criança. Grande novidade! Os filmes eram acondicionados em invólucros metálicos, evitando o contato com as mãos, e possuíam um engenhoso sistema de entalhes, permitindo o congelamento do quadro dos títulos, que não precisavam mais ser desenhados “no comprimento”, reduzindo assim os custos de fabricação . Muito menor, mais simples e mais econômico que o "Pathé Kok", o dispositivo obteve imediatamente grande sucesso.
Cartazes de 1922
A partir de 1924, o amador já podia fazer seus próprios filmes graças à câmera "Pathé-Baby", fabricada pela "Société Cotinsouza". Toda uma gama de máquinas fotográficas, acessórios e películas iriam aparecendo aos poucos, acompanhando as evoluções da "Pathé-Baby", que tinha a sua revista "Le Cinema Chez Soi", desde 1926. Nesse mesmo ano o mecanismo "Motrix" da câmara "Pathé-Baby" permitia a supressão da manivela.
A seguir páginas principais do catálogo da "Pathé-Baby", que em tudo, o da "Pathé-Baby Portugal, Lda." seria idêntico.
Recordo que foi na cidade do Porto que, em 1906, se inaugurou o primeiro cinema: o "Salão High-Life". Era um grande barracão de madeira, integrado na "Feira de S. Miguel", na Boavista. Dado o êxito do empreendimento, que se deve ao espírito de iniciativa do Dr. Luiz Neves Real, associado ao francês Edmond Pascaud, - "Empresa Neves & Pascaud" - recentemente chegado ao Porto com um projector e algumas fitas da "Pathé Frères", este barracão transferiu-se, nesse mesmo ano, para o Jardim da Cordoaria e, um pouco mais tarde, tomaria assento definitivo na Praça da Batalha, inaugurado em 29 de Fevereiro de 1908, como "Novo Salão High-Life". Sobre essas sessões em 1906, Dr. Neves Real recordaria, mais tarde:
«Sobre terra estreme, uma fiada de bancos plebeus constituía a "geral". Seguiam-se-lhe, como tribuna de honra, sobre estrado de madeira, as filas de cadeiras a marcar uma distinção e a preservar apropriado acolhimento à "High-Life" com o Porto que, como a alta roda de Paris, não desdenhou acorrer a extasiar-se perante as "maravilhosas vistas" que a firma Neves & Pascaud lhe oferecia á razão de 130 réis por pessoa e por sessão. Então era ainda o cinema um menino debil, apesar dos seus onze anos».
1910
Igualmente, no Porto, mais concretamente na Rua da Cedofeita, no início do século XX um estabelecimento de venda de discos, cilindros e gramophones da "Compagnie Générale des Établissements Pathé Frères".
Entre as subsidiárias criadas em todo o mundo, pela "Société Française du Pathé-Baby", a "Pathé-Baby Portugal, Lda.", como foi no início citado, foi fundada em Junho de 1925, na cidade do Porto, mas em 1945 já esta empresa estava sediada em Lisboa, na Rua de São Nicolau, 22, mantendo como filial a sua loja no Porto, na Rua de Santa Catarina, 315.
O aparecimento dos produtos da "Pathé-Baby" em Portugal, motivou o aparecimento de muitos cineastas amadores, que também eram animados por uma das mais antigas publicações cinematográficas portuguesas, a "Cinema de Amadores", editada pela "Pathé-Baby Portugal, Lda." Apesar do seu propósito comercial bem definido, a revista servia à época como um importante meio de comunicação entre cineastas amadores de vários pontos do país, das antigas colónias ultramarinas e até de outros países europeus.
Porém, já em 1934, no jornal "O Filme" acerca do diversos tipos de película:
«Fizemos esta comparação para o filme de 9,5 m/m. O amador tem, porém à sua disposição o filme de 8 m/m, perfeitíssimo e também muito económico - com um aparelho, o Ciné Kodak Eight, que é um mimo de portabilidade e de elegância - e o 16 m/m, o filme ideal do amador, bem como o 17,5 m/m apenas vulgarizado por uma firma em França.»
Película de 9,5 mm da "Pathé-Baby"
A criação, em Junho de 1938, pela "Pathé-Baby Portugal, Lda.", de um importante concurso nacional de cinema amador, teria um impacto importante na expansão do cinema de formato 9,5 mm. O "Concurso do Melhor Filme de Amador de 9,5mm", apesar de acolhido com certa reserva pelos cineastas amadores que não estavam habituados a competições, foi um «verdadeiro sucesso». A segunda edição seria organizada em 1940 e a terceira em 1943, esta que já passou a incluir os restantes formatos de amador, 8 mm e 16 mm. A "Pathé-Baby Portugal, Lda." organizaria ainda uma 4.ª edição em 1946 e uma 5.ª em 1948. Depois de um longo interregno, a 6.ª edição seria organizada em 1957. Para além da produção, o cinema de amadores também era um importante circuito de exibição alternativo, nomeadamente caseiro.
24 de Dezembro de 1942
Várias agremiações de cineastas amadores foram criadas a partir dos anos 40 do século XX, em Portugal, a referir algumas:
O "Clube Português de Cinema de Amadores" foi o grande pioneiro deste fenómeno em Portugal, tendo sido inclusive o primeiro representante português nos eventos da UNICA, a federação internacional. Outro foi fundado no Norte: "Clube Português de Cinematografia/Cineclube do Porto" também foi muito importante para os cineastas amadores porque inscrevia nos seus objetivos a produção de filmes em 8mm, 9,5 mm e 16 mm. Em Janeiro de 1946, com sede em Lisboa, foi criada a "União de Cineastas Amadores", uma associação dirigida pelo cineasta amador Jorge Rocha, que logo começara a organizar sessões de filmes em 9,5 mm para o público lisboeta interessado. No ano seguinte, também em Lisboa, seria criado o "Pathé Clube Português", recuperando uma ideia que nascera antes da II Grande Guerra Mundial (1939-1945), que se propunha «reunir todos os amadores de cinema trabalhando em qualquer formato, bem como os amadores da fotografia».
O catálogo da "Pathé-Baby Portugal, Lda.", entre filmes para aluguer ou venda disponibilizava mais de 30 mil títulos, divididos entre as categorias «Mudos» (vários filmes protagonizados por Charlot), "Sonoros" (vários títulos da Betty Boop), "Actualidades", "Cómicos" e "Desenhos Animados" (vários títulos do Mickey e Popeye), disponíveis na sede da empresa no Porto e na filial de Lisboa. A partir de 1946, os 5 melhores filmes dos concursos de filmes de amadores promovidos pela "Pathé Baby Portugal, Lda." passaram a integrar o catálogo da empresa. Para além da "Pathé Baby", a "UNICA" também dispunha de um catálogo que disponibilizava aos seus associados. A "UNICA" recebia cópias de filmes que fossem premiados em concursos promovidos por entidades nacionais que fossem membros desta organização internacional.
A 6 de Julho de 1946, a "Pathé-Baby Portugal, Lda." abre uma sala especializada em cinema de formato reduzido, a "Sala Pathé-Baby", localizada na Rua Augusto Rosa, 58 -1º andar, junto à Sé Patriarcal de Lisboa. Foi um acontecimento importante para credibilizar, ainda mais, o cinema de amadores, com sessões semanais, com entrada livre.
Actualmente, as instalações da antiga "Sala Pathé-Baby" alberga exposições temporárias, tendo mudado de designação par "Galeria Pathé-Baby". A "I Exposição dos Surrealistas" - Mário Cesariny, António Maria Lisboa, Mário-Henrique Leiria, Pedro Oom, Carlos Calvet - teve lugar em 1949, no ainda "Salão Pathé-Baby", actual galeria.
No início dos anos 50 do século XX, a Igreja Católica de Moçambique dispunha de uma circuito de exibição próprio na província, que totalizava 6 salas de cinema sonoro que anualmente «registam quase tanto público como os cinemas comerciais», vendendo cerca de 192 mil bilhetes em 1952, assim como 10 máquinas de projecção "Pathé-Baby", que permitia organizar cerca de 144 sessões anuais de cinema que reuniam cerca de 25.500 nativos.
Publicidade em 1949 e 1951
Na década de 60 do século XX, apesar de várias tentativas, a gama de câmeras "Pathé-Baby" não se destacou nem ofereceu grandes avanços em comparação com outras câmeras de outras marcas concorrentes, "Agfa", "Kodak", etc.. Foi em 1965, que o Super 8 começou a ser comercializado comercializado por câmeras modernas e econômicas, e foi o fim do formato 9,5mm.
1956
Bibliografia:
- "O Novo Cinema Português. Políticas Públicas e Modos de Produção (1949-1980) - Tese de doutoramento em Estudos Contemporâneos - Paulo Manuel Ferreira da Cunha - Universidade de Coimbra - Setembro 2014
- Blog: "À Pala de Walsh"
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Delcampe.net, À Pala de Walsh, Fotold, Perve Galeria, Mariana (Flickr), Os Livros do Sótão
2 comentários:
Bom artigo. Noto que o edifício mostrado da filial da pathé no porto, é na Rua de Cedofeita (n. 87), e não rua santa catarina n. 315.
Grato pelo seu comentário e pela sua correcção.
Cumprimentos
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