Restos de Colecção: Casa Gouveia Machado

27 de novembro de 2022

Casa Gouveia Machado

A "Casa Gouveia Machado", foi fundada em 1914, pelo afinador de pianos Guilherme Gouveia Machado, na Rua de S. José 152, em Lisboa. No início além da reparação e afinações de pianos, comercializava, músicas, pianos, pianolas, orgãos, harmónios, instrumentos de corda e acessórios.

Antiga "Casa Gouveia Machado", na Rua de S. José, já como "VS - Instrumentos Musicais"


15 de Julho de 1924


Catálogo de 1930



1931


27 de Junho de 1935


Janeiro de 1938

Gouveia Machado abriria em 1954, uma discoteca da "Casa Gouveia Machado", na Avenida de Roma, em Lisboa. Em 1968, trespassaria à firma de ferragens de Campo de Ourique "R. Santos Moreira, Lda.", que a manteve no mesmo ramo da música, mudando o nome para "Sinfonia". Ainda hoje funciona como discoteca, papelaria e livraria.

"Sinfonia" actualmente


1958

No início dos anos 60 do século XX, já seu filho, António Gouveia Machado geria, juntamente com seu pai, a "Casa Gouveia Machado", tendo iniciado a importação exclusiva das guitarras eléctricas "Eko", numa altura em que Portugal assistia ao boom da música rock. Era a alternativa mais popular às grandes guitarras americanas, que apareciam por cá em pequenas quantidades, já que o mercado nacional era reduzido, pois que tinham uma variedade enorme de modelos e de preços.


Stand na "FIL" aquando da visita do Chefe de Estado Almirante Américo Thomaz, em 1963

15 de Outubro de 1968 na revista "Plateia"

Quanto a António Bacelar Gouveia e a sua "Casa Gouveia Machado", nada melhor que transcrever uma síntese de dois apontamentos de Daniel Bacelar, em 9 de Dezembro de 2008, aquando do falecimento de Gouveia Machado em 3 de Dezembro do mesmo ano, em Miami, no belíssimo blog "IÉ-IÉ" de Luís Pinheiro de Almeida:

Nota: Daniel Bacelar foi apelidado de primeiro rocker português «e a expressão tem razão de ser. Quando em 1960 um EP de quatro canções chamado "Caloiros da Canção" anunciava a nova era, dois nomes novos dividiam as canções: duas eram pelos Conchas; as outras duas dele, e por ele, Daniel Bacelar» in: IÉ-IÉ. Faleceu em 29 de Setembro de 2017.

«Há já muito tempo que não experimentava uma decepção tão grande como a que senti há pouco quando tomei conhecimento da morte do Sr, Gouveia Machado (como nós "putos" de 19-20 anos o tratávamos com um enorme respeito).
Este Homem, foi mais que pai para toda aquela rapaziada roqueira, cheia ilusões e aspirações, facilitando sempre tudo vendendo o seu material a prestações a perder de vista, acompanhando tudo com aquele seu sorriso (como se pode ver na fotografia em que me encontro ao seu lado e rodeados pelos Shadows quando da sua única actuação com Cliff Richard no saudoso Império)


Gouveia Machado, Daniel Bacelar e os "Shadows"

Gouveia Machado era o representante da Fender para Portugal, por isso recebeu a visita na sua loja na Rua de S. José destes famosos músicos e grandes idolos da juventude daquela época.
Não me envergonho em dizer que neste momento é com dificuldade que retenho as lágrimas, pois este Homem, era um verdadeiro amigo do seu amigo, nunca o interesse comercial ficou acima de tantos e tantos músicos que se equiparam somente porque a sua amizade pelas pessoas não conhecia limites.


Facilitava as aquisições, deixava experimentar, fraccionava os pagamentos. Para muitos, foi a única oportunidade de terem algum dia nas mãos uma viola eléctrica Fender (nesse tempo ainda não se dizia guitarra, pois tinha-se uma noção mais enraizada de ser português) ou de percutir uma bateria Premier, ou soprar num saxofone Selmer.
Foi, nessa acepção, um incentivador, e a casa que dirigiu uma verdadeira escola. Tratava com a mesma deferência um violinista da Gulbenkian ou um «rocker» da Avenida de Roma. Do pai herdou o ouvido e vi-o afinar, rigorosamente, uma viola sem diapasão, corda a corda, sem voltar atrás uma vez que fosse.
O Quinteto Académico, como tantos outros grupos, deve-lhe muito. Sabia da nossa pretensão de termos sempre as últimas novidades.
O Sr. Gouveia Machado (assim o tratámos sempre, com a veneração inerente aos nossos 19 ou 20 anos) aceitava o material anterior (nunca muito usado) e facilitava os pagamentos do novo, lisonjeando-nos o ego dizendo: "Levem, que convosco não tenho problemas: em dois bailes pagam-me isto."
Todos nós lhe devemos TUDO e foi com enorme tristeza que pouco tempo depois do 25 de Abril soube da sua partida para o Brasil com a irmã Mité para não mais voltar vê-lo que soube agora. (...)»


Setembro de 1968


Na revista "Plateia", em 1973

A "Casa Gouveia Machado", encerraria definitivamente em 1976. Reabriria pelas mãos dum antigo funcionário Victor Silva, com a designação de "VS Instrumentos Musicais". Como já foi referido, António Gouveia Machado foi viver para o Brasil e mais tarde para Maimi, onde faleceria em 9 de Dezembro de 2008.

A casa "VS Instrumentos Musicais", também já não existe desde 2020.

fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, IÉ-IÉ, Ilustração Portuguesa

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