A ourivesaria, joalharia e casa de pratas "Reis, Filhos, Lda.", foi fundada em 1880 na Rua de Santo António (actual 31 de Janeiro) no Porto, por António Alves dos Reis. Este era pai de Seraphim Reis e Manoel Duarte dos Reis, que deram continuidade ao negócio da família a partir do ano de 1906.
Ambos os anúncios de 1902
Com o intuito de expandir a sua loja, em 1905 arrendam o estabelecimento contíguo, nº 243-247, esquina com a Rua de Santa Catarina,1-5. Em 26 de Dezembro de 1905, dá entrada na Câmara Municipal do Porto pedido de licenciamento para substituir a fachada do mesmo por uma frente em ferro, como os desenhos a seguir mostram.
Em 11 de Janeiro de 1906, o requerimento é aprovado, em Sessão da Câmara pelo parecer do Arquitecto José Marques da Silva, técnico da 3ª. Repartição / Obras Públicas.
A obra seria iniciada e tornar-se-ia num dos raros exemplares da arquitetura comercial com referências Arte Nova do século XIX. O projeto foi da responsabilidade do arquiteto José Teixeira Lopes e as pinturas nos tetos da autoria do seu irmão, António Teixeira Lopes. A obra em ferro fundido das frentes exteriores da loja ficaram a cargo da "Fundição de Massarellos" pertença da "Companhia Aliança" (fundada em 1852), do Porto.
A Ourivesaria estava dividida em três sumptuosos salões «…cada um com a sua arquitectura, o seu mobiliário e a sua ornamentação diferente: o "Salão Luiz XV", o "Salão Império" e o "Salão Luiz XVI."». Nas oficinas da Ourivesaria eram manufacturados os artigos vendidos na loja.
O "Salão Luiz XV" era composto por nove móveis em madeira de nogueira com pormenores manufacturados na madeira e pintados a ouro, e era onde estava exposto o mostruário das pratas, tendo sido descrito por J. Grave, em 1917, da seguinte forma: «…surpreende pela harmonia, pela elegância e pela graciosa disposição do seu arranjo interior, …»
O "Salão Luiz XVI" onde se encontrava a «…exposição dos seus bronzes dourados, dos seus mármores, dos seus esmaltes com figurinhas de iluminura antiga, das suas porcelanas de Sévres, de Saxe e de Limoges, ramo de comércio por eles introduzido no nosso país…»
Os móveis que equipavam este salão eram em cor de marfim e ouro, as portas dos expositores em cristal, com bastantes pormenores trabalhados à mão. O interior deste salão foi descrito da seguinte forma, por J. Grave: «O interior, do mais rigoroso estilo, convida á meditação e ao sonho, pelo seu ambiente de luz, de opulência, de fausto, de serenidade evocativa.»
O "Salão Império", cujo mobiliário era feito em madeira de mogno com decorações de bronze dourado - platinado, os mostruários com portas de cristal e vitrina principal encimada com águia napoleónica e base constituída por dragões destinava-se à exposição das jóias.
Salão Império
Em 18 de Agosto de 1914, daria entrada na Câmara Municipal do Porto novo requerimento da "Reis, Filhos, Lda.", desta vez para proceder à execução de uma sala de exposições e alteração da frente no prédio (a condizer com a decoração da principal) nº 203 da mesma rua 31 de Janeiro. Requerimento este que viria a ser aprovado em 20 de Agosto seguinte.
8 de Agosto de 1919
1922
Não sei quando a ourivesaria e joalharia "Reis, Filhos, Lda." cessou a sua actividade, mas a sua ficha no "SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitectónico" informava, em 1996:
«Actualmente este espaço comercial está dividido em dois sectores: o de pronto-a-vestir e de ourivesaria. O Salão Império já comunicou em tempos com uma outra sala designada por Salão Luís XVI, projecto do Arq.º José Teixeira Lopes. Existe ainda uma abertura em arco de ligação a esta sala, preenchida actualmente por um espelho. Este Salão foi ocupado por uma Discoteca.»
Depois deste ano, consegui apurar que já foi Oculista, casa de Modas e actualmente está instalada a terceira loja da marca "6 meia.duzia - Portuguese Flavours Experience", fundada, em 2012, pelos irmãos famalicenses Jorge e Andreia Ferreira. Comercializa: « Experiências de sabores portugueses em bisnaga»
fotos in: Arquivo Municipal do Porto (Gisa), Hemeroteca Digital, Delcampe.net, Foto-Porto
4 comentários:
Valioso e brilhante trabalho de pesquisa.
Extremamente documentado.
Os meus parabéns.
Caro Sr. João Menéres
Muito grato pelo seu amável comentário.
Os meus cumprimentos
José Leite
Uma agradável e bem documentada publicação sobre um edifício e estabelecimento comercial bastante importante para os cidadãos Portuenses, tanto pela sua história como pela sua arquitectura.
Infelizmente o uso comercial a que este estabelecimento se encontra sujeito actualmente, para além de parolo é uma autêntica aberração, que não se coaduna com a história do mesmo nem tão pouco com a essência Portuense.
Excelente trabalho de recolha de informação sobre a Ourivesaria Reis, que conheci bem, pois sou afilhado de Manoel Reis e filho de Fernando Alves de Carvalho, colaborador da empresa.
Fernendo Manoel de Sousa Carvalho
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