Restos de Colecção: Elevador da Bibliotheca

30 de janeiro de 2021

Elevador da Bibliotheca

"Elevador da Bibliotheca" (também conhecido por "Elevador de São Julião", ou "Elevador do Município") foi inaugurado em 2 de Janeiro de 1897, e não a 12 como muitas fontes indicam (a seguir explico a minha teoria), tendo sido o primeiro elevador público vertical ao ar livre de Lisboa, constituindo assim um primeiro ensaio para o famoso Elevador de Santa Justa, construído pouco depois e inaugurado em 1901. Até essa data, só existia um elevador público vertical - o do Chiado, inaugurado em 1892 - mas estava incluído dentro de um prédio.


Entrada no Largo de S. Julião

Nota: apesar de quase todas as fontes que consultei apontarem para a inauguração a 12 de Janeiro de 1897, houve uma que indica 2 de Janeiro: a revista "Occidente"


E a fazer fé no texto do anúncio que publico datado de 12 de Janeiro de 1897 e extraído do jornal "Diario Illustrado" ...


12 de Janeiro de 1897

O seu projeto foi da autoria do engenheiro Raul Mesnier de Ponsard (1849-1914), com financiamento de João Maria Ayres de Campos, Conde do Ameal, que ficou à frente da  "Empresa do Ascensor Município-Bibliotheca", empresa que ficou com a respectiva exploração.

O elevador foi fabricado por operários portugueses e a sua montagem foi conduzida por António Silvério.




A revista "Occidente" escreveu a propósito da sua inauguração: 
«Depois de se atravessar um corredor de 3 metros de largura e 22 metros de comprimento, encontra-se o pateo, que tem a forma dum trapesio e ahi se ergue o ascensor em suas forte vigas de ferro que formam as torres. è por entre estas vigas que correm as cabines, nas calhas abertas nas mesmas vigas, transportando os passageiros.
Subindo o ascensor até á altura de 29m,6 chega-se ao primeiro pavimento, d'onde parte um viaducto que atravessa por sobre a calçada de S. Francisco á altura de 20 metros, e entra na propriedade do sr. visconde de Coruche, dando sahida para o largo da Bibliotheca. (...)

O ascensor é de contrucção elegante, o que se vê pela gravura que o representa como elle ha de ficar depois de concluido. Assim acima das cabines, encontra-se uma varanda circundada de torres, cujo interior ao nivel do pizo da varanda, chamaremos primeiro andar. N'este andar está a grande roldana de passagem do cabo do ascensor, a qual ficará recoberta por uma caixa de madeira, deixando livre para o publico o recinto d'este andar. Acima d'este andar haverá outro mais vasto cercado de varanda, onde se poderá estabelecer um café ou restaurant, que decerto será dos mais agradaveis, principalmente no verão. Por sobre este andar haverá ainda um mirante encime por um vel veder, onde se poderá disfructar o mais lindo panorama.»



Bilhetes gentilmente cedidos por Carlos Caria

A 28 de Janeiro de 1908, o elevador foi palco de uma intentona republicana comandada pelo Dr. Afonso Costa (1871-1937). A estratégia passava por eliminar Dr. João Franco (1855-1929), presidente do conselho de ministros que, ao tempo, governava na prática em ditadura. O equipamento era um ponto militar que se impunha controlar, mas o golpe estava condenado a falhar graças ao pré-aviso das forças governamentais, acabando os revoltosos por dispersar.

 

Nota alusiva aos acontecimentos na revista "Illustração Portugueza" de 24 de Fevereiro de 1908

O "Elevador da Bibliotheca" viria a ser doado à Câmara Municipal de Lisboa em 1915, acabando por ser desmantelado após 1926, num processo administrativo que teve duas hastas públicas. Em 1915, já os materiais se encontravam bastante oxidados e requeriam intervenção urgente. Mais de dez anos depois, a opção foi o seu total desmantelamento, não sem críticas na imprensa periódica, e, a seu tempo, a perda de memória na cidade atual, no exato local onde este equipamento existiu.


Desmantelamento do "Elevador da Bilbliotheca"

fotos in: Arquivo Municipal de LisboaHemeroteca Digital de LisboaArquivo Nacional da Torre do Tombo

1 comentário:

Alvaro Pereira disse...

Meu caro José Leite

Se a CML e a Carris pensassem em recuperar esse elevador, seria uma excelente ideia.
A cidade de Lisboa só teria a ganhar com isso, basta ver a quantidade de gente que usa o Elevador de Santa Justa.
No Porto recuperaram o Elevador dos Guindais, e foi uma excelente decisão.

Os meus melhores cumprimentos

Álvaro Pereira