Restos de Colecção: Papelaria Araújo & Sobrinho

17 de fevereiro de 2021

Papelaria Araújo & Sobrinho

A papelaria "Araújo & Sobrinho", é considerada a papelaria mais antiga do Mundo, ainda em actividade, e foi fundada, em 1829, como "Armazém de Papel do Murinho de S. Domingos". por António Ribeiro de Faria - capitalista e sócio-fundador da "Associação Comercial do Porto" - no recém-remodelado Largo de S. Domingos, 50 mesmo no início da Rua das Flores, na cidade do Porto.



Planta do "Murinho de São Domingos": Letra A - Quintal e casa da loja do papel 


Anúncio ao "Armazem de papel" na gazeta "Correio do Porto"

Para melhor se entender os primeiros cem anos desta Papelaria, transcrevo um texto publicado no "Livro de Ouro do Comércio e Indústria do Porto", organizado por Carlos Bastos ed. 1943.

«O negócio de papelaria especializada foi iniciado no Pôrto por António Ribeiro de Faria que, em 1829, fundou o primeiro armazém dêste género na casa da esquina do largo de S. Domingos, com a designação de "Armazém de Papel do Murinho de S. Domingos".
Iniciou-se o estabelecimento sob a gerência do primo do fundador, Manuel Francisco de Aráujo, jovem de 18 anos de raras qualidades de trabalho a quem Ribeiro de Faria muito prezava, pois ao fim de um ano lhe trespassou a casa, deixando-a á sua inteira responsabilidade

                                                  
Manuel Francisco de Araújo em 1856

(...) Em 1866, como seu sobrinho Domingos Gonçalves de Araújo houvesse demonstrado excelentes aptidões e zelosa cooperação nos serviços da acas, Manuel Francisco de Araújo quis recompensar-lhe os méritos e formou com êle sociedade sob a razão social de "Manuel Francisco de Araújo e Sobrinho".
Como o fundador adoecesse gravemente e não lhe fôsse permitido dar ao negócio toda a tenção que requeria, em 16 de Setembro de do ano acima referido, abandonou a sociedade, fazendo-se substituir por seu filho Manuel Francisco de Araújo Júnior que, com Domingos Gonçalves Araújo passou a adoptar a designação de "Araújo & Sobrinho".»

Manuel Francisco de Araújo Júnior, era homem das artes e membro de uma renovada burguesia, culta e exigente, atrai ao seu estabelecimento os maiores artistas da cidade em busca dos materiais de que necessitavam. Em sua casa, por cima da papelaria, realizavam-se regularmente saraus musicais e outras tertúlias. Manteve e fez prosperar a "Araújo & Sobrinho" durante o regicídio (1908) e consequente implementação da Republica (1910), a desastrosa participação portuguesa na 1ª Guerra Mundial (1914-1918), a grande instabilidade política da I República e os primeiros anos do Estado Novo. Morreu na papelaria, na sua secretária, aos 68 anos.


Interior da Papelaria "Araújo & Sobrinho"


Reforma do estabelecimento em 1904

«Em 1902, pela retirada deste último, que faleceu em 1918, ficou a propriedade pertencendo exclusivamente a Araújo Júnior, girando sob a firma "Araújo & Sobrinho, Sucessor".
Ultimamente reorganizou-se a sociedade, entrando como sócios os filhos de Araújo Júnior que com êle trabalharam no estabelecimento: Alfredo de Faria Cardoso de Araújo (falecido em 1922), Jaime de Faria Cardoso de Araújo, Fernando da Faria Cardoso de Araújo (falecido em 1924) e Henrique da Faria Cardoso de Araújo. A firma passou a ser a actual: "Araújo & Sobrinho, Sucessores".
Manuel Francisco de Araújo Júnior veio a falecer e 5 de Novembro de 1932.



Publicidade em 1913


Os actuais proprietários, Jaime e Henrique Faria Cardoso de Araújo, continuam mantendo tradições nobilíssimas desta casa já centenária (a única do seu ramo que no País atingiu um século de existência), registando-se os progressos que nela introduziram para enriquecimento não só do negócio de papel como das indústria subsidiárias: oficinas de tipografia, trabalhos em relêvo, pautação, encadernação, carpintaria de mobiliário de escritório e material de pintura. A êle se deve em grande parte, a criação de uma excelente filial na Rua dos Clérigos, 8.


Sucursal da "Araújo & Sobrinho, Sucrs.", na Rua dos Clérigos

"Araújo & Sobrinho, Sucrs.", representantes das afamadas máquinas de escrever Hermes e das excelentes canetas Eversharp, introduziu há 25 anos em Portugal os livros de escrituração comercial em fôlhas soltas Hippocampus que são hoje adoptados por tôdas as firmas importantes.» in: "Livro de Ouro do Comércio e Indústria do Porto".


1934


1954

A vigência do Estado Novo, a II Guerra Mundial, a Guerra do Ultramar e a revolução do 25 abril de 1974, encontram na "Araujo & Sobrinho, Sucessores" as 3ª e 4ª gerações de Araújos. Jaime e Henrique Araújo (3ª geração) e os seus sobrinhos Nuno Araújo e Fernando d'Araújo Jorge (4ª geração), acompanhados pouco depois por três dos filhos deste ultimo, Paulo (1970) Manuel e Fernando (1975), estes últimos já da 5ª geração. Fernando d'Araújo Jorge trabalhou na "Araújo & Sobrinho" desde a adolescência até ao fim da vida, durante quase 70 anos, sendo assim o “Araújo” que mais anos dedicou à centenária papelaria.

Largo de S. Domingos, em 1948


1954

Atualmente, a responsabilidade do legado da papelaria "Araújo & Sobrinho" às próximas gerações, cabe a Miguel Araújo, da 5ª geração da família, com a colaboração de uma cunhada Maria José Fontes e de uma prima, Joana Araújo Jorge, já da sexta geração. 


Miguel Araújo







2011

Miguel Araújo relançou a marca "Araújo & Sobrinho", assumindo grandes mudanças quer na gestão do edifício, que sempre foi a sua sede e agora é também o "Hotel A&S 1829" e o "Restaurante Galeria do Largo", quer na diversificação dos produtos que propõe na loja: à papelaria de alta qualidade e artigos de design e belas artes juntou prestigiadas marcas nacionais e internacionais de objetos de uso pessoal para a fiel clientela portuense e o crescente numero de turistas encantados com a autenticidade da centenária loja. Quem espreitar a montra ficará também surpreendido: à primeira vista, tem, de facto, instrumentos de pintura e de papelaria. Porque ainda é uma verdadeira papelaria, a "Araújo e Sobrinho", e é também o átrio deste hotel de charme e quatro estrelas que a mesma família abriu – em colaboração com os "Hotéis Lux", sediados em Fátima, em meados de 2015.






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