A loja “Pitta, Camiseiro” foi fundada em 1885 na Rua de São Julião, em Lisboa pelo mestre camiseiro A.M. Pitta. Em 1889 e propriedade da firma “Pitta & C.ª, Lda. ”, já tinha mudado as sua loja para a Rua Augusta, 195-197. A frente exterior da camisaria mais antiga da Península Ibérica, era toda ornamentada em madeira esculpida e envernizada, onde ainda se podem observar dois colarinhos esculpidos, onde estão afixados os números de porta.
A “Pitta, Camiseiro” foi, durante muitos anos e em conjunto com a "Camisa de Ouro", do Largo do Rato, o must das camisas "por medida", em Lisboa, quando as camisas compradas feitas não eram consideradas de "bom tom". Desde cedo atraiu uma clientela seleccionada, formada pela nobreza e a alta sociedade da época, acabando, assim, por tornar-se o fornecedor da Casa Real, tendo como clientes a família dos Duques de Bragança, o Rei D. Carlos e o seu filho D. Luís. Até 1977 a camisaria manteve-se sempre na família do seu fundador, contudo, e após do 25 de Abril de 1974, passou tempos particularmente difíceis. Ainda em 1977 recria uma alfaiataria britânica, elegante e de bom gosto.
6 de Dezembro de 1891 27 de Julho de 1893
11 de Outubro de 1893 1 de Dezembro de 1896
2 de Janeiro de 1898
Foi uma casa com muita história e tradição, foram muitos os clientes de elite que por ali passaram e que deixaram a sua marca. Contava, também, com um considerável espólio referente aos livros de registos de clientes, que se encontravam guardados numa casa-forte na Rua do Crucifixo, mas infelizmente com o incêndio do Chiado em 1988, todo este importante material histórico se perdeu.
Anúncio Publicitário e localização da “Pitta, Camiseiro” dentro da elipse desenhada
Exemplo da sua importância foi a sua referência no livro “Impressões de Theatro” de Joaquim Madureiro, impresso em 1905, e donde extraí a seguinte passagem:
«os que, indo ao theatro em busca de arte e de emoções,
no theatro topam com o cabotinismo infrene de estuporinhos
e mostrengos que rufam no tambor das suas artimanhas o hymno
burlesco dos pacovios que se escagarrinham em aplausos e admirações de
hottentotes e botecudos a
tudo que vem da Extranja :
des das gravatas do Pitta
camiseiro té ao génio e á
diplomacia do Soveral embaixador.»
Anúncio publicitário do final do século XIX 1943
Bem mais conhecida pelos portugueses a referência no filme “O Costa do Castelo” de 1943, no seguinte diálogo entre o Sr. Costa (actor António Silva) e a Sra. Rita (actriz Maria Olguim), aquando duma revista à mala do novo hóspede:
Sr. Costa: «Eh!… Pr’a este recheio … Que belíssimas camisas!… Isto é Pitta!»
Sra. Rita: «Pitta?… É seda!»
Sr. Costa: «Não! Pitta camiseiro. 500 escudos!»
Iniciando uma fase de liquidação total do seu stock em Março deste ano, a centenária “Pitta, Camiseiro” viria a encerrar definitivamente em 31 de Maio de 2018.
“Pitta, Camiseiro” um ano antes de encerrar
«Um fato de homem pode ser tão importante quanto o homem que o veste. A arte do alfaiate é misteriosa e milagrosa. É o corte, o tecido, a prova que transformam o homem e não o homem que transforma o fato.»
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital
1 comentário:
Nem reparei no encerramento. Pensei que pertencesse às Lojas com História!... e portanto estivesse protegida.
Adivinha-se mais um café igualzinho a outro em Berlim ou Barcelona.
Obrigado por nos lembrar.
Gonçalo
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