As lojas “por-fi-ri-os”, vulgo “Porfírios”, tiveram a sua origem na cidade do Porto, sendo conhecida pelo “Porfírio das Meias”, já que o seu principal produto era a venda de meias. Esta loja foi fundada por Porfírio Augusto de Araújo, na Rua de Santa Catarina, no início dos anos 50 do século XX. Nos eléctricos do Porto era comum ver-se a seguinte frase publicitária: “Quem diz jardim diz flores; Quem diz praia diz areias; Quem diz paixão diz amores; Quem diz Porfírios diz meias”. No filme “ A Costureirinha da Sé”, de 1958, um dos prémios do 2º lugar no concurso “Vestido de Chita” era oferecido pelo “Porfírio das Meias” … dizia o apresentador: «… uns sapatos de nylon, uma coisa muito jeitosa, oferta dos Porfírios das Meias».
Loja “por-fi-ri-os”, na Rua de Santa Catarina, no Porto
20 de Novembro de 1956
gentilmente cedido por Carlos Caria
Como se pode ver no anúncio anterior, retirado dum programa do Cinema “Monumental” referente a um filme estreado nessa data, em 1956 já existia uma sucursal da “por-fi-ri-os” na Rua da Victória, em Lisboa, propriedade da firma “Porfírio de Araújo & Filhos, Lda.”, gerida pelos dois irmãos de Porfírio Augusto de Araújo, António e Luís Porfírio. Com as "revoluções" na moda, música e costumes nos anos 60 do século XX, no resto da Europa, nomeadamente Inglaterra, França e Alemanha, o visionário Porfírio de Araújo começou a visitar anualmente estas cidades, principalmente Londres, de onde trazia peças de modelos, modernos e irreverentes, de roupa que eram copiados, e fabricados em Portugal, em exclusivo.
Loja “por-fi-ri-os Contraste” na rua da Victória com as famosas filas de clientes
Foram exemplos vanguardistas, as calças à boca de sino, as camisas com padrões de flores com colarinhos compridos e arredondados, para homem. A fama da “por-fi-ri-os” chegou a um ponto em que as pessoas andavam com um autocolante com o símbolo da empresa na traseira dos carros, nas motas e até nos capacetes. Existe, até, um blusão pertencente à “por-fí-ri-os” em exposição no “Museu do Traje”.
A loja, localizada na Rua de Santa Catarina, no Porto era composta por duas secções distintas: a entrada com peças mais pequenas como meias, cintos etc., depois um corredor escuro com luz "negra", muito em voga nas boites na altura, e de seguida uma secção de homem e senhora, completamente inovadora em moldes de "Drugstore". Este espaço era composto por pequenas barracas de madeira em que cada uma vendia um tipo de produto comercializado pela "por-fi-ri-os", além de que tinha um espaço destinado a exposições de trabalhos de pintura, feitos pelos clientes que depois eram sujeitos a um concurso mensal.
“Drugstore por-fi-ri-os” na loja da Rua de Santa Catarina, no Porto
Postal gentilmente cedido por Carlos Caria
A loja “por-fi-ri-os Contraste”, localizada na Rua da Victória, em Lisboa, tinha duas entradas, salas escuras, corredores estreitos, escadas em caracol, luzes psicadélicas, música a tocar bem alto e a fazer lembrar as lojas londrinas, num ambiente de discoteca. Nesta loja podiam ser comprados os blusões estampados, calças “à boca de sino”, camisas estampadas às flores, camisolas de barriga à mostra, as incontornáveis mini-saias, os collants coloridos e ainda uma variedade extraordinária de acessórios e adereços, como anéis, pulseiras, colares, lenços, cintos e carteiras. Tudo com atendimento por empregadas com mini-saia.
Loja “por-fi-ri-os Contraste” na rua da Victória
Rua da Victória com os “por-fi-ri-os” no primeiro prédio de esquina à direita na foto
«Porfírios-Contraste, é na realidade uma loja diferente. No que vende, e nos clientes. Jovens, muitos jovens, esgotam todo o espaço livre do estabelecimento. E para atender quem quer comprar, uma 14 rapariguinhas, de mini-saia, muito mini, sorriem encantam e atendem. A caixa registadora, não tem descanso. Para descanso dos proprietários.
São gentis, as empregadas. Não sabem ao que vamos, e mesmo assim sorriem. Muito. A amabilidade, parece ser o padre-nosso de cada momento.
Rapazes, raparigas, de vez em quando uma mulher-ainda-criança, destoa do conjunto. Mas a preocupação de escolher a mini-saia, os óculos largos de lentes escuras e aros brancos, o cinto do Texas, ou qualquer outro objecto do género, faz esquecer que já dobrou a casa dos 25, e está preparada para viver o tempo da juventude, do seu tempo.» in revista “Antena” de 1 de Junho de 1967.
Os irmãos António e Luís Porfírio Atendimento
A evolução dos “por-fi-ri-os”
30 de Julho de 1960 4 de Dezembro de 1960
3 de Dezembro de 1965 por altura da ampliação das suas instalações até ao nº 63
Passagem de modelos
19 de Agosto de 1966 4 de Agosto de 1967
Saco de plástico
Em 1972 e em “espanholito” 1977
E por falar em mini-saia … esta tornou-se um sucesso tremendo entre as jovens da década de 60 do século XX, e a “por-fi-ri-os” chegou a promover no Cinema-Teatro “Monumental”, em Lisboa, em 4 de Fevereiro de 1967, e integrado nas festas de Carnaval, o Concurso “Miss Mini-Saia 1967”. Henrique Mendes e Maria João Aguiar foram os apresentadores do evento e era o público que escolhia a vencedora. O método de votação era simples: vencia a rapariga - e a minissaia - que conseguisse mais aplausos.
Com dez concorrentes que chegaram à final (de um total de dezassete) e com o jornal “ Diário de Notícias” a relatar que … «Todas tão bonitas, tornam a escolha mais difícil», acabou por vencer Delfina Cruz. Maria Isabel Rodrigues Castelhano, funcionária da “por-fi-ri-os”, que se apresentou com um vestido de corte recto, ficou em terceiro lugar. Para além de ser a estrela da noite, Delfina Cruz ganhou 3.000$00 e dois bilhetes de avião para Paris.
A propósito deste evento o jornal “Diario de Lisbôa” comentava …
«Quase nos esquecíamos de referir á eleição da "Miss Mini-Saia".
É que, afinal, esta moda, parece não ser êxito em Lisboa ...
Para que o público pudesse realmente assistir ao concurso foi necessário recorrer ao pessoal do Teatro Monumental e a empregadas de um estabelecimento da Baixa que canalizaram de momento para as mini-saias toda a sua publicidade.
Do público, apenas duas jovenzitas bem desengraçadas tiveram coragem de aparecer.
Delfina Cruz, a tal jovem do teatro que tem uns olhos (e um corpo) espantosos foi classificada primeira. Uma francesinha do Monumental (corpo de baile) foi segunda ... e uma empregada dos Porfírios foi terceira ...
O entusiasmo do público foi por isso proporcional ao tamanho das saias-mini ...»
1980
Factura gentilmente cedida por Carlos Caria
«E ainda há quem afirme ter recorrido aos Porfírios apenas quando não tinha dinheiro. Apelidando-a de “género de loja dos 300”, o músico Jorge Palma, com 51 anos, confessa ter tido "um certo pudor em vestir aquelas roupas". "Era foleiro", garante. Sobretudo quando "os meus amigos pagavam dez vezes mais num alfaiate da Avenida da Liberdade". "Preconceitos dos anos 60", conclui. Apesar de uma "certa vergonhazinha", recorda ter comprado na Porfírios "umas calças e camisas". Tudo, claro, "muito colorido".» in: jornal “O Público” - artigo de Susana Larisma em 23 de Setembro de 2001.
Frente de calendário para 1996
Com a abertura do mercado nacional, pós 25 de Abril de 1974, e com o aparecimento de grandes multinacionais - Zara, Berska, Stradivarius, etc - apesar de não comercializarem exactamente o mesmo tipo de produtos, "invadiram" o mercado português com o seu poderio comercial agressivo, e a "por-fi-ri-os" não teve capacidade de acompanhar tanto em organização como em logística, para lhes fazer frente.
As lojas "por-fi-ri-os" tanto de Lisboa como do Porto, por uma incompatibilidade de gerências e dificuldade adaptação aos novos tempos, viriam a encerrar definitivamente em Abril de 2001.
Depois dos “por-fi-ri-os”, na mesmo espaço passou a funcionar a loja de roupa “Shop One”. Actualmente o mesmo espaço é ocupado por um café/pastelaria.
fotos in: Arquivo Municipal do Porto, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa, IÉ-IÉ, Rua dos Dias Que Voam, Notícias Magazine
15 comentários:
Guardo com carinho um gorro lá comprado à uns 45 anos (e está para durar). Era a única coisa que me servia :-)
Bom dia
Bom dia, também para si.
Saudades dos bons anos 60, com Os Porfírios e o saudoso Monumental e os meus anos de Faculdade e a loucura dos conjuntos tipo Shadows, tipo Beatles...
Excelente post. Os Porfírios fazem parte da história lisboeta entre dos anos 60, 70 e 80.
Um abraço
O depoimento de sr.º Palma é mentiroso e mal-intencionado; a Porfírios possuía roupa de qualidade e de vanguarda com modelos únicos, muitos deles vinham importados de Inglaterra ou dos Estado Unidos da América (EUA) em grandes fardos onde a roupa se encontrava prensada em blocos e presa com arames; esses fardos eram depois adquiridos num armazém na Trofa, Distrito do Porto.
Quanto ao tal "pudor em vestir aquelas roupas" ou "os meus amigos pagavam dez vezes mais num alfaiate da Avenida da Liberdade", como afirma o sr.º Palma, é simplesmente a demonstração do seu complexo de inferioridade parolo, de quem não possuí estilo próprio e constantemente olha para os outros, numa clara atitude pequeno-burguesa de quem se move por uma ânsia ressabiada, de integrar um patamar e ser aceite por aqueles que já lá estão.
Lembro-me tão bem de ir toda orgulhosa aos Porfírios comprar roupa «moderna». E daquelas escadas e escadinhas, parecia quase um labirinto que nos levava a novas secções. Adorava. Quem me dera poder andar lá por dentro novamente.
Foi uma das lojas que mais me impressionou pelo estilo moderno. Tenho muitas saudades
Helena
Lembro-me de láir comprar as famosas pulseiras de borracha preta nos anos 90
Lembro-me de láir comprar as famosas pulseiras de borracha preta nos anos 90
Lembro-me de láir comprar as famosas pulseiras de borracha preta nos anos 90
Que recordaões maravilhosas que guardo, hoje com 48 anos ainda tenho nas minhas "tralhas" uma casaco dos porfirios, lindo e maravilhoso, e está tão bem conservado que só não o visto porque encolheu um pouco ahahah, mas as lembranças que me dá deixam sempre um sorriso no rosto. Belos tempos , Obrigada Deus por ter vivido tais momentos e por ter nascido numa época maravilhosa .
Hoje, ao deparar me com este blogue, senti umas saudades imensas daquela loja fantástica (finais anos 70 e seguintes) que apresentava roupa alternativa e sobretudo "cheia de vida" e cor, sempre com as suas imensas filas para se entrar. Os brindes que se colecionavam após determinado numero de compras (o que eu corri atrás deles), não deixavam de ser uma incentivo. Ainda hoje tenho algumas peças guardadas, em bom estado, que há muito me deixaram de servir. Muito diferente das lojas tradicionais - sóbrias, escuras, clássicas, os Por-fi-ri-os vão fazer sempre parte das minhas boas recordações, numa baixa Lisboeta muito diferente da atual. E só uma nota, para quem diz que era tipo loja dos 300, e na baixa existiam algumas, na realidade nunca lá deve ter entrado.
Como sinto saudades dos modelos/roupas dos porfirios.
Hoje não consigo encontrar nada semelhante...
Saudades...
Iniciei o meu percurso laboral muito prematuramente.
Lembro-me de ter estado na loja em Lisboa no anos Setenta a comprar roupa.
Creio que foi lá que comprei umas calças "boca de sino" cor de tijolo.
Vou pedir ao Professor Pardal para me levar lá novamente.
Eu lembro-me da época dos fluorescentes nos anos 85 e dos elásticos no cabelo e nos pulsos. Era uma loja muito fixe para comprar acessórios baratos de moda.
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