A empresa de transporte de passageiros, "Transportes Beira Rio, Lda.", foi fundada na Avenida dos Metalúrgicos, na Aldeia de Paio Pires, Seixal, por José Vicente Moreira e Joaquim Ferreira dos Santos em 29 de Janeiro de 1943 e posteriormente comprada, por João Baptista Carneiro Zagallo e Mello, em 1945.
João Zagallo e Mello Bandeira
Em 2 de Abril de 1928 João Baptista Carneiro Zagallo e Mello e António Fabrero Antunes, fundaram a "Empreza de Camionetes Piedense, Lda." criando, assim, o primeiro serviço público de transportes de passageiros em autocarros no Concelho de Almada, quando as povoações ainda eram pequenas e as estradas péssimas.
Primeiras unidades da “Empreza de Camionetes Piedense, Lda.”
Camionetes da “Piedense” à esquerda na foto de 25 de Maio de 1931, referente à chegada dos concorrentes da prova dos 10.000 Kms, organizada pelo Automóvel Club da Alemanha
Com o crescimento notável desta empresa, os dois sócios e concessionários do serviço, separararm-se ficando a "Empreza de Camionetes Piedense, Lda." na posse de António Febrero, enquanto que João Zagallo e Mello ficava com o sector dos transportes da Piedense, com o nome de "Autocarros do Sul, Lda.".
«É a esta empresa, que conhecemos ainda nos primeiros passos, nos difíceis tempos de guerra, dos embaraços da falta de combustível e de pneus, que nos vamos referir. Víamos já então, acarinhando os carros vermelhos, que iam até ao Laranjeiro, a figura cansada de Zagallo e Mello, cuja presença incutia vida a quantos trabalhavam por sua conta. E o seu persistente sacrifício vingou, pois, ainda durante a guerra, adquiriu, por compra os velhos carros esverdeados, um que Zé do Moinho fazia as carreiras para Paio Pires, e os próprios direitos da sua empresa - a Beira-Rio, Lda. com a qual fundiu os Autocarros do Sul.» in “Jornal de Almada”
Com o fim da 2ª Guerra Mundial em 1945, e o fim das dificuldades com combustíveis e pneus, a empresa "Transportes Beira Rio, Lda." entrou numa fase de renovação, expansão e melhoria dos seus serviços. «Cada nova unidade posta ao serviço era a última palavra da técnica, e todos a julgavam o termo das ousadias da jovem empresa e o suficiente para os seus serviços. Mas os carros sucediam-se em tal ritmo que a frota triplicou em 8 anos.»
Depois da morte de João Zagallo e Mello, seus filhos assumiram a empresa, que continuou a prosperar. Em 1955, o “Jornal de Almada” referia:
«Ele são carros novos - os melhores que temos visto em Portugal e no estrangeiro, ela são as novas garagens - uma já ao serviço em Paio Pires, e outra (que bem pode dizer-se monumental) a inaugurar para Maio na Cova da Piedade.
Os óptimos 30 carros percorrem nas carreiras, desde Cacilhas ao Seixal e Paio Pires, perto de 1.000.000 de quilómetros por ano, transportando no mesmo espaço de tempo cerca de 2.500.000 passageiros.
Afirmamos sem lisonja que a Beira-Rio tem servido bem o seu público, e que os magníficos autocarros de que se serve não receia o confronto com os melhores.»
Camionetes da “Transportadora Beira Rio, Lda.” estacionadas em Cacilhas e junto ao “Parque Eduardo VII”, em Lisboa
Desenho gráfico de autocarro “AEC” Reliance nº 43 de 1959
Desenho gráfico gentilmente cedido e elaborado por Eugénio Santos, in “Memórias de Empresas e Autocarros Antigos”
A sua prosperidade e evolução teria o seu ponto alto com a inauguração da sua nova garagem Rua Eng.º Francisco Leite Pinto, na Cova da Piedade, em 20 de Julho de 1955, em cuja notícia no “Jornal de Almada” era relatado:
«Depois de içadas, lado a lado, a bandeira nacional e da empresa, a Exma. Sra. D. Ana Joaquina da Silva Lavaredas Zagallo e Mello, sócia e mãe dos gerentes da empresa, inaugurou aquelas instalações.
Percorreu-se seguidamente as diversas dependências do magnífico edifício, onde se destaca pelo seu bom gosto o escritório e sala de reuniões.
Nesta última dependência proferiu umas breves palavras alusivas ao acto o sócio gerente Snr. Rodrigo Zagallo, tendo ainda usado da palavra os exmos. Srs. Alberto Pinto, representante da Socony Vacuum Portuguesa e José Silva da firma construtora, os quais felicitaram a gerência por tão grande empreendimento.»
Nova garagem e escritórios da “Transportes Beira Rio, Lda.” na Cova da Piedade, em fotos de 1962
Rodrigo Zagallo e Melo
Bilhete de Identidade para 1962/1963
Autocarro da “Beira Rio” no Centro de Coordenação Sul, na então, Praça Almirante Américo Thomaz em 1966
14 de Agosto de 1966
Bilhetes
Alfinete da “Casa do Pessoal”
Bilhetes e alfinete gentilmente cedidos por Carlos Caria
Entretanto, a “Transportes Beira Rio Lda.”, dos irmão Zagallo e Melo, funde-se com a “Empresa de Camionetes Piedense Lda.”, de Fernando Sobral José e José de Sousa e Silva, dando origem à nova empresa “Transul - Empresa de Transportes, Lda.”, oficialmente constituída em 1 de Janeiro de 1968, e cujos autocarros ostentavam cores das duas empresas fundidas: vermelho da Beira Rio e prata da Piedense. De referir que esta nova empresa já tinha começado a operar pouco depois da inauguração da “Ponte Salazar”, em 6 Agosto de 1966.
À frente da nova empresa ficaram Rodrigo Zagallo e Melo, Fernando Sobral José e José de Sousa e Silva. A “Transul - Empresa de Transportes, Lda. ”, com sede no Laranjeiro, tornava-se na empresa portuguesa com a mais jovem frota do país. No final do ano de 1968, já tinham ultrapassado os 200 autocarros. Possuía a segunda maior frota do país de veículos para Turismo, a seguir à empresa “Claras Transportes, S.A.R.L.”
Foto na Avenida de Ceuta em Lisboa, e desenho gráfico de autocarro “AEC” UTIC U2020, de 1967
Desenho gráfico gentilmente cedido e elaborado por Eugénio Santos, in “Memórias de Empresas e Autocarros Antigos”
Foto e desenho gráfico de autocarro “AEC” UTIC 2055, de 1973
Desenho gráfico gentilmente cedido e elaborado por Eugénio Santos, in “Memórias de Empresas e Autocarros Antigos”
Em 1968 a empresa adquire 5 autocarros britânicos “Leyland”, de dois pisos e 87 lugares sentados que. As suas principais concessões são: Almada-Lisboa, e Costa da Caparica-Lisboa, Cacilhas-Costa da Caparica, Cacilhas-Feijó, Cacilhas-Paio Pires e Seixal. Em 1973, compra a empresa de Sesimbra “João Maria dos Anjos, Lda.”.
Por ocasião do 25 de Abril de 1974, a “Transul - Empresa de Transportes, Lda.” possuía 241 autocarros, 854 trabalhadores, dos quais 331 eram motoristas, oferecendo mais de 13.000 lugares, sendo a quinta maior empresa rodoviária do país. A qualidade dos seus serviços de aluguer e Turismo vão-se repercutir na recém-criada “Rodoviária Nacional, S.A.” CEP 7, prolongando-se pela “Rodoviária do Sul do Tejo” e chegando ainda à “Transportes Sul do Tejo”.
Nos anos 80 do século XX, é constituída a firma “Beira Rio - Comércio e Indústria de Automóveis, Lda.” com Rodrigo Zagallo e Melo como sócio-gerente, tornando-se a concessionária “Renault” para o concelho de Almada. As suas instalações seriam as da antiga garagem e sede da “Transportes Beira Rio, Lda.” na Cova da Piedade.
Fotografia gentilmente cedida por Carlos Caria
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Memórias de Empresas e Autocarros Antigos, Fotold, Jornal de Almada
6 comentários:
Meu caro José Leite
Mais uma vez os meus agradecimentos por este seu excelente artigo.
Não conheci a Beira-Rio, mas conheci bem a Transul. Gostava muito de viajar naqueles autocarros quando ia com os meus pais a Almada.
Continue o seu óptimo trabalho.
Álvaro Pereira
Caro Álvaro Pereira
Eu é que agradeço a gentileza do seu comentário
Estou neste momento a elaborar um artigo acerca da "Empresa de Camionetes Piedense, Lda.", cuja fusão com a "Transportes Beira Rio, Lda." deram origem à "Transul", e que publicarei no próximo mês de Outubro.
Os meus cumprimentos
José Leite
José Leite,
a TRANSPORTES BEIRA-RIO, lda não foi fundada por JOÃO CARNEIRO ZAGALO E MELLO. Foi posteriormente comprada por ele-1945.A 29.1.1943 é constituída na ALDEIA DE PAIO PIRES, por José Vicente Moreira e Joaquim Ferreira dos Santos a empresa, que veio a manter o nome.
Cordialmente,
José LUÍS COVITA
Caro José Luís Covita
Grato pela sua correcção e informação.
O que aconteceu é que o texto de onde eu retirei a informação, no Jornal de Almada, estava um pouco confuso, falando até de um tal Zé do Moinho, e como não sou expert na matéria ...
Mais uma vez os meus agradecimentos
José Leite
ZÉ DO MOINHO era a alcunha de JOSÉ VICENTE MOREIRA. Tinha um moinho no Seixal. Ainda conheci o irmão.
Cordialmente,
José Luís
Ok! Está esclarecido.
Obrigado
Os meus cumprimentos
José Leite
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