O "Teatro Joaquim de Almeida", localizado na esquina da Rua de São Bento com a Rua do Sol ao Rato, à Praça do Brazil (actual Largo do Rato), em Lisboa, foi inaugurado em 6 de Maio de 1925, e resultado de uma ideia dos actores de teatro, e amigos, Casimiro Tristão e Francisco Judicibus, que foram os seus promotores.
«Não seria um teatro de grande lotação, e o palco nunca poderia ser vasto, dada a exiguidade do terreno. Era preciso apenas escolher o nome para o novo teatro. Propuseram-se recordar o velho Teatro do Rato, que fora inaugurado, com pouca sorte, em 1880. Então, alguém alvitrou que o novo teatro se chamasse Joaquim de Almeida, em homenagem à memória do ilustre actor português que representara em quase todos os teatros de Lisboa e em todos os géneros.». Para a sua inauguração foi escolhida a peça de Júlio Dantas "A Severa", protagonizada pela grande actriz Palmira Bastos, que morava bem perto, a meio da Rua Braamcamp. Acerca da história ilustrada do “Teatro do Rato, consultar neste blog o seguinte link: Teatro do Rato
Joaquim d’Almeida (1838-1921)
Joaquim d’Almeida á porta do teatro “Theatro Etoile”, em 1910
Nota: Acerca da história ilustrada do “Theatro Etoile”, consultar neste blog o seguinte link: Casino e Theatro Etoile
Referência a Joaquim d’Almeida no “Diccionario do Theatro Portuguez” de Sousa Bastos e artigo acerca da estreia do actor no, ainda, teatro “Chalet do Rato” em 1888
Quanto às suas instalações, a crítica do jornal “A Capital” era favorável …
«As instalações são construídas em madeira e tijolo, sendo desmontáveis em grande parte; todavia, essa operação não seria para tentar, em virtude da despeza a fazer com fundamentos novos. A plateia deve comportar uns 300 logares e junto ao palco há 4 frizas. Em volta, a sala é circundada por uma 1ª ordem de camarotes, ficando para a parte posterior uma galeria extensa.
Apesar de se tratar de um teatro de sala acanhada, as cadeiras estão suficientemente afastadas umas das outras, para não deixarem os espectadores incomodados, como sucede em alguns teatros, que não merecem ao serviço de incêndios o devido cuidado de observação. A sala bem iluminada apresenta uma decoração alegre e fina. Os camarotes são separados dos corredores, por meio de reposteiros azues, que estão suspensos nas arcadas.
Pena é que as grades dos camarotes sejam tão largas e por isso a empreza terá de proceder a uma obra inadiavel de cobrir interiormente as grades de forma a que as senhoras se possam sentar despreocupadamente, sem terem de fazer uma exposição de pernas.
O pano de boca é alegre, mas o auctor não foi feliz na sua concepção. Não se percebe mesmo qual foi a sua ideia. Parece que um redemoinho ensarilhou tudo quanto estava no palco e foi arrumar as diversas partes ao acaso, projectando-as confusamente. Para futuristas é possível que aquilo seja uma obra prima. Um medalhão do homenageado figura na sala.
A empreza aproveitou o melhor que poude o espaço que dispoz e soube manifestar bom gosto e criar conforto. Posteriormente à plateia encontra-se o bufete.
O teatro encontrava-se profusamente iluminado por fóra, chamando a atenção das pessoas que passavam na Praça do Brazil. Uma multidão compacta acumulava-se em frente da entrada uns esperando ainda conseguir obter bilhete e outros por simples curiosidade. Mas a lotação estava completa e apenas se entregavam os bilhetes de imprensa, procedendo a empreza, como a do teatro Apolo, que nos dias de 1ª representações tem a gentileza de não receber dos criticos teatrais a importancia do selo.»
Localização (dentro do círculo desenhado) do “Teatro Joaquim de Almeida” na Praça do Brazil
Quanto à exibição da peça de Júlio Dantas "A Severa" o mesmo jornal escrevia:
«Como todos sabem os papeis da peça "A Severa" são sempre ingratos, para quem os tenta fazer de novo, porque teem de atingir metas e dificeis de transpor. Todavia a companhia do Teatro Joaquim d'Almeida portou-se com brio e revela uma honestidade apreciavel na maneira como trabalhou para obter um exito compensadôr.
(...) O quarteto tocou nos intervalos com afinação, mas com pouco gosto na escolha do reportorio. Falta de animação. Os scenarios cuidados.»
Crítica na revista “Diario Ilustrado” em 9 de Agosto de 1925
22 de Junho de 1927
A vocação teatral, em exclusivo, para que tinha sido criado esta sala de teatro não durou muito tempo, e a partir de 11 de Janeiro de 1926 o “Teatro Joaquim de Almeida” acumula com a função de animatógrafo, passando a designar-se “Teatro-Cinema Joaquim de Almeida”. A última referência publicitária seria na sua função inicial de teatro, em 20 de Fevereiro de 1928, com a exibição de 2 peças em 2 sessões diferentes, como cartaz publicado a seguir. Após o que seria demolido, para dar lugar ao início da, nova, Avenida Álvares Cabral, ligando o Largo do Rato ao Largo da Estrela.
9 de Janeiro de 1926 20 de Fevereiro de 1928
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Blog “Lisboa”
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