A “Pastellaria Bijou da Avenida", ou "Pâtisserie Bijou de l'Avenue", ou "Pâtisserie Bijou des Gourmets", propriedade de António José Alves, terá aberto as suas portas, na Avenida da Liberdade, 75 em Lisboa, por altura do Natal de 1889.
“Pâtiisserie Bijou de l’Avenue”
Publicidade à “Bijou da Avenida”, em 23 de Dezembro de 1889
"Pâtisserie Bijou des Gourmets"
Mas, entretanto em 1907, um revés na vida desta pastelaria iria ocorrer, como nos relata o seguinte texto do jornal "Diario Illustrado:
«O sr. Alves dedicara a sua intelligencia, a sua actividade, o seu capital e uma boa parte da sua vida a acreditar aquelle seu estabelecimento, mas porque o seu esforço se empregara em propriedade alheia, viu n'um momento, se não destruida, ao menos prejudicada toda a sua obra, porque a inveja ou a ambição, ou ambas,
de mãos dadas, pretenderam colher para si os fructos do trabalho, da iniciativa e da solerte actividade do nosso amigo a que temos a honra de nos referir.
É o caso que o senhorio do predio 81,83 da Avenida, onde estava a Bijou de l’Avenue levantou de tanta maneira a renda da casa que o sr. Alves teve de mudar, correndo o risco de perder tudo quanto com sacrificio ali empregara.»
Nota: A história atrás relatada, não traduziu o que realmente se passou. Consegui saber, através de uma pessoa que foi sócio (nos anos 60 e 70) da extinta pastelaria “Veneza”, localizada mais abaixo desta, que, o exigido aumento de renda, e a consequência ordem de despejo por não acordo, se deveu ao facto do Sr. Alves ter deitado algumas paredes interiores abaixo, além de outras modificações, sem autorização prévia do senhorio.
O proprietário, António José Alves
30 de Junho de 1908 25 de Julho de 1908
Em consequência do atrás exposto, António Alves mudaria, para um edifício no lado oposto da Avenida da Liberdade, para os números 76-80, ao lado do Restaurante “Vigia”, ex- casa de pasto “O Vigia”, fundado em 1832 por José Gordo., sobre a qual Pinto de Carvalho (Tinop) tinha escrito, no seu livro “Lisboa d’Outros Tempos”, em 1899:
«Taberna do José Gordo, baiuca pessimamente afamada, onde os malfeitores realizavam conferencias, tertulias, cochichavam mysteriosamente, escabichavam a vida alheia. (...) No interior da loja havia uma espelunca nojenta, onde a infima ralé arriscava uns tostõesilhos. Cá fora pastucava-se com comezainas labrêgas, petisqueiras de comer e chorara por mais - iscas, bacalhau com grêlos, petinga, cavalla - copiosamente regadas por uma boa pinguinha.» in: “Lisboa d’Outros Tempos” de Pinto de Carvalho (Tinop).
1902
“Café Vigia” à esquerda do círculo desenhado, onde se instalaria a “Pâtisserie de l’Avenue” na foto
“Pâtisserie de l’Avenue” já instalada ao lado do “Café Vigia”, indicada nos círculos desenhados
Em 1858 criaria o “Café do Vigia” «proximo áquella casa em numero 88», que em 1931 seria alvo de uma reforma para acompanhar outros restaurantes de Lisboa, e que a crise, então, grassava, mas não resistiu e encerraria definitivamente em 1934.
Entretanto, quanto às novas instalações da “Pâtisserie de l’Avenue”, inaugurada em 10 de Julho de 1908 nos números 76-80 da Avenida da Liberdade, o jornal “Diario Illustrado” escrevia:
«As novas installações da Pâtisserie Bijou de l'Avenue' pode dizer-se que constituem hoje um dos mais bellos ornamentos de aquella soberba arteria da Lisboa nova, da Lisboa bella da Lisboa fidalga e culta.
O seu aspecto é verdadeiramente pomposo, elegante e opulento. Por todos os lados formosos crystaes, vitrines elegantes, repletas dos mais excellentes ou vistosos productos da arte de pastelaria. A mais exigente e apurada gastronomia encontra alli tudo quanto pode apettecer,
assim como o mais delicado bom gosto, os requisitos da arte apparatosa porque a ornamentação do estabelecimento é um verdadeiro modelo.»
Interior da nova “Pâtisserie de l’Avenue”
Instalada no prédio mais alto à esquerda na foto
Mas, não era tudo … «Note-se, porém, que muito brevemente o sr. Alves vae abrir uma nova casa no lado opposto, o occidental, a poucos passos da casa que o obrigaram a deixar, no predio do sr. Alfredo Keil, isto é, na esquina opposta, casa onde já esteve ha annos estabelecido, vindo, portanto, a ter dois estabelecimentos n'aquelle local.
A nova casa ha-de eclipsar tudo quanto se pretender realisar, e tudo isto tem feito sem prejudicar ninguem, porque na sua alma generosa não se alberga a inveja, nem ambições que não sejam dignas e legítimas.»
Anúncio da abertura da filial, em 31 de Outubro de 1908
Em 30 de Dezembro de 1909, já com referência à sucursal nos números: 79 e 79-A
Já como Pastelaria “Bijou”, simplesmente, e propriedade de “A.C. Alves & C.ª”, em 31 de Dezembro de 1939
Cartaz nos 40 do século XX
Entretanto, as antigas instalações da “Pâtisserie de l’Avenue”, 75 na esquina da Avenida da Liberdade com a Praça da Alegria, seriam ocupadas, primeiramente, pelo “Café Moderno”, inaugurado em 3 de Setembro de 1938, e mais tarde pela Agência da “Wagons-Lits//Cook”, inaugurada em 8 de Maio de 1948.
Interior do “Café Moderno” aquando da sua abertura em 1938
“Wagons-Lits//Cook”, em foto de 1948
Nota: de referir que o médico de doenças nervosas, Dr. Santos Freitas, e «especialisado em Paris», lá se manteve por muitos anos, já ocupando todo o 1º andar, e com a mesma tabuleta … Na primeira foto deste artigo, já lá estava instalado.
Quanto à “Pastelaria Bijou”, antiga “Pâtisserie de l’Avenue”, encerraria definitivamente no século XXI, dando lugar a uma loja de pronto-a-vestir.
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital
1 comentário:
Adorei saber. So lamento que a Wagon-Lits/Cook tenha tido ordem de alterar a fachada do predio desta maneira e ainda por cima colocar umas letras que nao se coadunam nada com a escala e estilo do predio. Obrigada pela sua investigacao sobre Lisboa!
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