O “Music-Hall S. Bento-Rato”, localizado na Rua de S. Bento, em Lisboa, propriedade da firma “Music-Hall S. Bento Rato, Lda.”, foi inaugurado em 4 de Outubro de 1907, com a projecção de “Viagens em Caminho de Ferro”.
Localização do “Music-Hall S.Bento-Rato”, dentro da elipse desenhada na parte inferior de seguinte planta topográfica
Este Teatro foi construído por Paulo Henrique Machado, cujos trabalhos foram iniciados em Junho do mesmo ano, e em 9 de Julho de 1907, o jornal "Diario Illustrado" informava:
«Vão muito adiantados os trabalhos de construcção da grande galeria e casa das machinas que, vindas de Inglaterra, deverão ser assentes por todo o mez, sob a direcção do distincto engenheiro electricista William Scott.
Já começaram tambem os trabalhos de scenographia applicavel a uma das diversões que mais deve enthusismar o publico e que deve produzir um effeito surprehendente.
O novo recinto cuja decoração conforme alguns desenhos que já vimos deve produzir o mais bello effeito será acessívela a todas as classes em vista do preço excessivamente barato porque o publico podesrá assistir a um espectaculo verdadeiramente sensacional.»
Entrada lateral para o pátio do “Music-Hall S. Bento-Rato”
Quanto às características do espectáculo inovador que esta sala propunha, transcrevo a nota, bastante elucidativa, acerca das suas características, publicada no dia seguinte á sua inauguração, ocorrida em 4 de Outubro do mesmo ano de 1907, pelo jornal “Diario Illustrado”:
«Inaugurou-se hontem este estabelecimento sito na rua de S.Bento, de ha tanto annunciado, e que apresenta a novidade do espectador fazer a viagem n'uma carruagem de 1ª ou 3ª classe, de forma que recebe a impressão que a vista que vae deslisando no animatographo representa a realidade,
dando-lhe, por vezes, vontade, quando chega a uma estação, de desembarcar e beber, pelo menos, um copo de cerveja.
De maneira que assim como ha o mal de mar, é tanta a visão nítida d'essa viagem em caminho de ferro que não duvidamos que chegue a dar a vertigem.
Porteiros, empregados, todos trajam como se fossem alistados n'uma gare, e o phonographo que se ouve nos intervallos é o mais perfeito que por ahi tem appparecido.
Enfim um espectaculo interessante e que ha-de chamar bastante concorrencia.»
Três anúncio de 5 de Outubro de 1907
Os cenários eram da responsabilidade do cenógrafo Luiz Salvador, que estav entre os melhores da época a par de Eduardo Machado, Augusto Pina, Eduardo Reis, e José d'Almeida. Luiz Salvador que tinha cursado na “Academia de Bellas Artes”. «Como scenographo tem apresentado trabalhos importantes nos theatros de Lisboa e Porto, e é hoje dos mais considerados pelo seu talento e seriedade.» in: “Diccionario do Theatro Portuguez” de Sousa Bastos (1908).
Em 1908 a firma “Music-Hall de S. Bento Rato, Lda.”, decide construir, no mesmo pátio um novo espaço a que chamaria “Theatro S. Bento Rato”, que seria inaugurado em 12 de Setembro de 1908, com a revista em 3 actos e 9 quadros “Visões do Rabi”, original de Raymundo Alves e música do maestro Alves Coelho (1882-1931). Foi com este espectáculo que este grande maestro iniciou a sua actividade musical no teatro de revista. Seguir-se-iam mais de 50 revistas, além de operetas e vaudevilles.
6 de Setembro de 1908 12 de Setembro de 1908
Não sei quando foi o encerramento definitivo do “Theatro S. Bento Rato”, mas que em 1910 já não constava de nenhuma lista em nenhum periódico ou revista, que tive acesso, foi um facto.
Actual edifício (cor de rosa) no espaço outrora ocupado pelo “Theatro S. Bento Rato” (via “Google Maps”)
Fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa
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