O Cinema “Estúdio 444”, localizado na Avenida Defensores de Chaves, em Lisboa, e projectado pelo arquitecto Henrique V. de Figueiredo e propriedade da firma “Belga & Faria, Lda.”, foi inaugurado em 26 de Abril de 1966. O seu nome foi inspirado na lotação da sala que era para 444 espectadores.
Depois da alteração legal que, em 1959, permitiu a construção de salas em prédios de habitação e comércio, vários novos cinemas nasceram em garagens, caves e anexos adaptados. Eram pequenas salas de cerca de 200 a 300 lugares que programavam cinema de autor americano e europeu e clássicos para um público cinéfilo. O primeiro foi a sala “Estúdio” no Cinema “Império”, inaugurada em 30 de Outubro de 1964, seguida do Cinema “Mundial” inaugurado na Rua Martens Ferrão em 22 de Setembro de 1965.
O responsável pelo projecto de construção do “Estúdio 444”, foi o arquitecto Henrique V. de Figueiredo, que traçou o edifício de apartamentos e o cinema, com 444 lugares, aproveitando a cave do prédio, embora a entrada se fizesse no rés-do-chão. A sua morte, ocorrida meses antes da conclusão do Cinema, não o deixaria finalizar a obra, que seria concluída sob a orientação do conhecido homem do cinema e da rádio Américo Leite Rosa, que, também seria o responsável pela decoração.«Sacrificaram-se luxos exagerados e requintes desnecessários em benefício da comodidade do espectador. O novo cinema, com efeito, reúne todas as condições para bem cumprir a sua missão - construído nos baixos de um edifício urbano, tal como acontece, hoje, nas mais modernas capitais, encontra-se equipado com óptima aparelhagem em formato normal e em cinemascópio.» in: jornal “Diario de Lisbôa”.
Filme para a inauguração
No dia da sua inauguração, 26 de Abril de 1966, o jornal “Diário Popular” referia:
«Destinada, primeiro, a uma garagem, depois a um snack-bar, acabou por se transformar num moderno cinema a cave de um prédio na avenida Defensores de Chaves (em Lisboa).
Trata-se do Estúdio 444 que esta noite é inaugurado com uma sessão por convites, projectando-se o filme "As Escravas Ainda Existem", de Maleno Malenotti. (...)
Entre a assistência que esta noite acorrerá ao Estúdio 444 faltará uma figura que a morte levou há poucos meses: o arquitecto Henrique Figueiredo, autor do projecto. O novo cinema foi concluído depois sob a orientação do conhecido homem do cinema e da rádio Américo Leite Rosa, que se encarregou da decoração.
Como o seu nome indica, a nova casa de espectáculos dispõe de 444 lugares, divididos em primeira e segunda plateia.
O cinema Estúdio 444 está equipado com o mais moderno material de projecção e dispõe de todas as condições para a comodidade do público.
O palco permite a exploração daquela casa de espectáculos para pequenos concertos e recitais ou para a apresentação de companhias de teatro experimental.»
18 de Dezembro de 1970
A exibição dos filmes no “Estúdio 444” era controlado pelas distribuidoras “Doper, Filmes” e “Talma, Filmes” sendo a sua especialidade nos filmes europeus das pequenas cinematografias (Bélgica, Suécia, etc.) passando por cinematografias mais ambiciosas como a alemã, onde os filmes exibidos eram considerados de alta qualidade. A programação era muito desigual, tanto apresentava filmes de qualidade, de realizadores com nome e provas dadas, como filmes muito maus em todos os sentidos, sendo exemplo disso o filme escolhido para a sua inauguração.
Interior de “Programa” do filme “A Cidade Viscosa”, estreado em 8 de Abril de 1973
Segundo o cartaz de espectáculos do jornal “Diario de Lisbôa”, o “Estúdio 444” teve a última sessão em 6 de Janeiro de 1988, com o filme português “O Querido Lilás” de Artur Semedo e estreado em 13 de Novembro de 1987. No dia 9 de Janeiro de 1988, no cartaz dos cinemas do mesmo jornal o anúncio dizendo "encerrado", e que seria definitivo.
13 de Novembro de 1987 9 de Janeiro de 1988
Espaço outrora ocupado pelo “Estúdio 444”, em foto de 2006
Fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Blog “IÉ-IÉ”
1 comentário:
Ainda me lembro deste cinema Estúdio 444, até porque foi o meu pai que o terminou e não sabia desta referência a Américo Leite Rosa, mas como estou a escrever um livro, um tributo ao artista que ele foi e à sua vida, muito criativa. Desde a exposição do Mundo Português, passando pelo cinema anos 40, tendo mais tarde realizado curtas-metragens e três longas-metragens. Na realidade foi a rádio que que o tornou muito conhecido pelo grande público foi desenvolvendo muitas outras atividades artísticas tal como esta.
Fiquei contente e vou acrescentar mais um pouco ao que já escrevi. mariamrosa@sapo.pt
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