Restos de Colecção: Parceria António Maria Pereira

10 de dezembro de 2017

Parceria António Maria Pereira

Em 18 de Agosto de 1848, António Maria Pereira (1824-1880) fundava na Rua Augusta, em Lisboa, a “Livraria de António Maria Pereira - Editor”, ou abreviadamente “Livraria Pereira”, actual “Parceria António Maria Pereira, Livraria Editora, Lda.”, a casa editora mais antiga do país.

“Parceria António Maria Pereira” no edifício a seguir ao representante das máquinas de escrever “Underwood

“Parceria A. M. Pereira, Lda.” já depois da renovação da sua loja

António Maria Pereira,  era, até então, um desconhecido livreiro e encadernador, de 23 anos de idade que tinha sido aprendiz do ofício na “Casa dos Vinte e Quatro”, uma Corporação extinta em 7 de Maio de 1834 por D. Pedro IV, e depois caixeiro na “Casa Marques”. A primeira obra editada pela “Livraria A.M. Pereira Editora” foi o romance histórico “O Mestre de Calatrava” de Aires Pinto de Souza e Menezes, numa edição de 300 exemplares, custando 7$200 réis cada.

António Maria Pereira (1824-1880)

Por morte do fundador, em 1880, sucede seu filho com o mesmo nome, António Maria Pereira, que muda o nome da “Livraria A.M. Pereira Editora” para “Parceria António Maria Pereira”, já instalada no número 52 da Rua Augusta. Nascido em Lisboa, em 1857, faleceu a 27 de Junho de 1898.

António Maria Pereira (1857-1898)

8 de Fevereiro de 1894

18 de Novembro de 1894                                                        9 de Dezembro de 1894

                   

1894

17 de Fevereiro de 1895

1895

 

Stand na "Exposição Industrial do Porto", no Palácio de Cristal, em 1897

A seguir transcrevo grande parte dum artigo da Revista “Occidente” de 20 de Agosto de 1898, a propósito da sua morte, e que é elucidativo da gerência e actividade desta livraria:

«A sua actividade e amor ao trabalho aproveitaram a muitos, porque António Maria Pereira soube dar desenvolvimento á sua industria, animando não só muitos auctores, que sem o seu auxílio não poderiam, ver as suas obras publicadas, mas dando aprecialvel impulso ás artes graphicas com as innumeras edições que sahiam da sua casa.
Pode dizer-se de Antonio Maria Pereira que lhe nasceram os dentes na livraria; e nasceram, porque quem escreve estas linhas, conheceu-o creança na loja de seu pae, livreiro tambem, que deixou a seu filho o nome e as tradições honradas do seu commercio. (...)
Da grande collecção de obras originaes e traduzidas publicadas por Antonio Maria Pereira poucas se recommendam pelo valor literario, e contudo algumas edições são aprimoradas, o que mostra a boa vontade do editor. E que cuidados lhe mereciam as edições que, quasi diariamente, elle dava a lume.
Sentado á sua secretaria horas e horas por dia e noite, via todas as provas typographicas, além da correspondencia diaria de sua casa, a que dava o devido expediente. Depois a contabilidade, os reclamos, os annuncios, as conferencias com os auctores, as propostas, os pretendentes, um cem numero de cousas, tudo a sobrecarregal-o com trabalho, impossivel para um homem só, e tanto mais para elle, que era fraco, e a quem a anemia, consequencia da vida sedentaria, ia minando lentamente.
As publicações periodicas que tentou, consumiram-lhe boa parte das forças; porque estas edições são as que mais cançam um editor pela preocupação constante que lhe impõem. A Revista Illustrada e o Branco e Negro que publicou, aquella tres annos e este dois, não só lhe deram prejuizo pecuniario, senão que o fatigaram extraordinariamente.»

                                               1892                                                                                           1896

 

1896

                                   1886                                                             1899                                                   1900

  

Editando os melhores escritores da época, a par de literatura popular, a “Parceria António Maria Pereira” torna-se uma importante editora e a partir da administração deste segundo António Maria Pereira, considerado "um homem de letras", segundo Eça de Queiroz, chegando mesmo a escrever algumas obras sob pseudónimo.

Por morte deste, suceder-lhe-ia o terceiro António Maria Pereira, homónimo dos seus antepassados, e em 1909 a revista “Commercio de Livros”, de Manuel Figueiredo dos Santos Gil, anuncia:

«A Parceria António Maria Pereira encetou ha annos a Nova Colecção Pereira de volumes in-16 de 190 paginas a 5O réis! E o cumulo da barateza. Fundada em 1848, é uma das casas que mais tem enriquecido o mercado livreiro. Á Exposição Nacional  do Rio de Janeiro de 1908 enviou 600 volumes todos editados pela sua casa. Uma das ultimas publicações da Parceria é a edição popular do genial romancista Camillo Castello Branco em volumes in-8. de 200 a 300 paginas, bom papel, typo elze- vier, ao preço de 200 réis em brochura.»

                                               1896                                                                                           1900

 

                                       1909                                                                                 1910

      

                                                                                            1910

  

             

                           1910                                                       1912                                                            1913

  

Postal de 1905

 

Entretanto, a crise provocada pela 2ª Guerra Mundial entre 1939 e 1945, viria a afectar muito o negócio de livreiro e editorial. A casa vai praticamente à falência. Podemos registar, contudo, ter sido o único editor de Fernando Pessoa, em vida, tendo editado “A Mensagem”, livro destinado a um concurso no “SPN-Secretariado de Propaganda Nacional”. Em 1943, a “Parceria António Maria Pereira” edita a primeira edição da obra “Peregrinações em Lisboa” de Norberto de Araújo, com a direcção artística de Martins Barata.

                                    1951                                                                                        1953

 

Curiosamente na primeira direcção da “Associação dos Livreiros de Lisboa”, fundada em 13 de Fevereiro de 1924,  o lugar secretário da direcção foi atribuído à “Parceria António Maria Pereira”. Como, aliás, viria a suceder em 1927, quando estará entre os livreiros fundadores da “Associação de Classe dos Livreiros de Portugal”. Foi esta Associação que, em 29 de Maio de 1931, promove a primeira “Feira do Livro” de Lisboa, com a designação de “Semana do Livro”

 

Por ocasião do I centenário da “Parceria António Maria Pereira, Lda.”, em 18 de Agosto de 1948, o jornal “Diario de Lisbôa” noticiava:

«A Parceria Antonio Maria Pereira completa hoje os seus cem anos de existencia. Cem anos dedicados ao exercício e á propaganda do livro, sempre no mesmo local da Rua Augusta, onde ainda hoje "fazem sala" muitos dos nossos escritores e outras pessoas do meio.
O actual Antonio Maria Pereira, terceiro da dinastia do mesmo nome e neto do fundador, desfruta justamente de muita estima, não só como comerciante mas como cidadão. É hoje um dos componentes da vereação lisboeta.
A Associação Comercial tomou a iniciativa de uma sessão solene, que se realizará esta tarde, durante a qual será entregue á Parceria o diploma das casas centenárias de Lisboa. Á noite, haverá um jantar, no Imperio, promovido por uma comissão de livreiros, para homenagear o seu colega que actualmente dirige aquele estabelecimento centenario.»

Com a crise, a má gestão agudizados pelos conflitos laborais surgidos após o 25 de Abril de 1974, é mudada a sua denominação para “Livraria do Arco” e rápidamente se extingue. O Dr. António Maria Pereira (1924-2009), filho do último administrador da Parceria, político, advogado e sócio fundador da maior sociedade de advogados de Portugal, a “Sociedade de Advogados PLMJ - A.M.Pereira, Sáragga Leal, Oliveira Martins, Júdice e Associados”, refunda, no ano 2000, a casa editora dos seus antepassados, a “Parceria A.M. Pereira”.

Com o seu falecimento em 28 de Janeiro de 2009, sucede-lhe na gestão da empresa sua irmã, D. Antónia Maria Pereira, nessa altura com instalações na Rua da Estrela, 47, no Bairro da Lapa, em Lisboa. Manteve-se na gerência da empresa até 2012, altura em que a empresa é adquirida por Jorge Ramos, mantendo a “Parceria António Maria Pereira, Livraria Editora Lda.”, activa até aos aos dias de hoje, sem loja aberta, mas com uma Livraria online (via internet), com sede na Rua Padre Américo, 23 G em Lisboa.

 

  

Fotos in:  Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Ruas de Lisboa com Alguma História, Parceria António Maria Pereira

4 comentários:

Anónimo disse...

Ver estas capas e títulos, é reconhecê-los nas estantes do meu avô e depois nas dos meus pais. Agora minhas.
Belo artigo. Obrigado.
Gonçalo

M,Franco disse...

Excelente esta evocação. Memórias de um tempo
já distante mas que sabe bem recordar.Obrigada.

Graça Sampaio disse...

Maravilha! Este seu blog - o seu trabalho de investigação - é uma verdadeira maravilha!

Bem-haja!

LB disse...

Boa tarde, filha, neta e bis-neta de António Maria, agradeço, em nome da família, as memórias aqui publicadas.
Bem haja,
Cumprimentos,
Antónia Maria Pereira / parceria.editores@sapo.pt