Restos de Colecção: Teatro Moderno

14 de dezembro de 2017

Teatro Moderno

O "Theatro Moderno" foi inaugurado 15 de Dezembro de 1910 na Rua Álvaro Coutinho, em Arroios, com projecto de Hygino Vieira Dias, «conductor de trabalhos da Camara de Lisboa». O edifício foi mandado construir por D. Antónia Bárbara da Cunha, madrinha do actor António Manuel dos Santos Júnior, que por muito tempo tinha sido actor e empresário (desde 1888) e depois proprietário do "Theatro do Rato", até este ter sido destruído por um incêndio, em 1906.

“Theatro Moderno” em fase de acabamentos

António Manuel dos Santos Junior

A designação “Theatro Moderno” aparece pela primeira vez no final da primeira temporada teatral de 1905, quando Araújo Pereira e Luciano de Castro fundaram, com Simões Coelho, a Companhia Dramatica “Theatro Moderno”, que ficou sediado no Theatro do Principe Real” - mais tarde Teatro Apolo” - na Rua da Palma, em Lisboa.

A Companhia “Theatro Moderno” teve, contudo, uma existência ainda mais efémera do que a sua antecessora, durando apenas o mês de Julho de 1905. Sob a direção artística de Araújo Pereira, destacou-se por ter levado à cena um repertório exclusivamente português, com textos de Ramada Curto (“O Stygma”), Carrasco Guerra e Eloy do Amaral (“Mau Caminho” ), Bento Mântua (“Novo Altar”), Mário Gollen (“Degenerados”), Afonso Gayo (“Quinto Mandamento”), Amadeu de Freitas e Luís Barreto da Cruz (“A Lei Mais Forte”).

Quanto ao “Theatro Moderno”, pode-se ler na revista “Construção Moderna”, nº 21 de 10 de Fevereiro de 1908, a propósito do motivo do seu aparecimento e projecto da autoria de Ernesto H. Vieira Dias :

«No largo do Rato, á direita, ao entrar na rua da mesma denominação ha um corredor que vae dar a uns terrenos, onde ha proximamente dois annos existia um elegante theatrinho de madeira, que um fogo destruiu em poucos momentos, reduzindo á miseria um modesto, bem conhecido e estimado artista, o actor Santos Junior, que ali tinha o resultado de todas as suas economias, pois que, nem edificios, nem scenario, mem as outras diversas alfaias de theatro tinha no seguro.
Achou-se de repente, pois, o desditoso artista, collocado n'uma precaria situação, a que procurou valer-lhe alguns amigos, o que ainda assim não era senão paliativo que não remedeiavo por completo, tão grande infortunio, quando sua madrinha, a Sra. D. Antonia Barbosa da Cunha, com grande abnegação e desinteresse procurou valer ao infortunio de seu afilhado, mandando construir-lhe á sua custa, um outro theatro em muito melhores condições technicas e de esthetica, sendo convidado para elaborar o projecto e dirigir todos os trabalhos da construção, o já nosso citado amigo, sr. Ernesto H. Vieira Dias, cuja competencia por todos é reconhecida.
Entretanto na apreciação do projecto, diremos que este será executado no bairro da Avenida D. Amélia, no terreno com frentes sobre a rua da Senhora do Resgate e Regueirão dos Anjos, medindo a area 655 m2.»

Projecto do arquitecto Ernesto H. Vieira Dias

 

A revista “Construção Moderna”, rematava a descrição pormenorizada desta casa de especáculos … «Possuirá, enfim, o edifício projectado, todas as modernas condições de hygiene e conforto exigidas em casa de espectaculo d'esta ordem, dando assim razão ao seu titulo de Theatro Moderno.»

A construção do "Theatro Moderno" teve início em 13 de Março de 1908, toda feita em alvenaria e vigamento de ferro. Mas em 13 de Janeiro de 1909, e já em fase adiantada das obras o edifício, o grande paredão que servia de empena sofre uma derrocada. «Os prejuizos estão avaliados, ao todo, n'uns 3 contos.»

     

A propósito do incidente o jornal “Diario Illustrado” relatava:

«Os caboucos teem, na maior profundidade, 10 metros, e na menor 6; a sala para espectaculos é essencialmente firmada por 10 columnas em toda a altura, columnas que estão ligadas pelo forte vigamente ferreo, encontrando-se a construcção adiantada, com as tres ordens de camarotes assentes, bancadas de geral em esqueleto, tudo com estructura, que se mostra bem cuidada e solida. (…)
As obras estão orçadas em 50 ou 60 contos, isto é, comprehendendo todo o theatro, prompto a funcionar.
O actor Santos Junior esperava fazer a inauguração, nos proximos mezes de verão, com um espectaculo de caridade, em 'matinée', offerecendo os bilhetes d'esse espectaculo á imprensa da capital.
Assim agora tem que retardar, essa inauguração, porque é aquelle tempo que se calcula levará a reconstrucção do que se desmoronou.»

Finalmente inaugurado em 15 de Dezembro de 1910, oferecia: Tribuna real, 4 frizas de 5 lugares cada, 20 camarotes de 1ª ordem, 22 de 2ª ordem, 137 fauteuils, 177 cadeiras, 48 lugares de superior, 340 de geral, 54 galerias de primeira e 144 de segunda e terceira.

No livro “O Teatro em Lisboa no tempo da Primeira República” pode ler-se: «Pouco se conhecendo hoje deste teatro, sabemos, contudo, que a designação de "moderno" lhe causou, mesmo antes de abrir, amargos de boca. Utilizando, como nome de baptismo, uma palavra com uma conotação tão forte na época, logo se levantaram vozes questionando a presunção com que a empresa, ou melhor, o seu gerente, o actor Santos Júnior, o designou.»

16 de Junho de 1911

Publicidade na revista “O Palco” de 20 de Janeiro de 1912

Fotos da peça “000:20 Milhafres”

 

 

                               6 de Dezembro de 1913                                                             13 de Dezembro de 1913

                               

Alguns espectáculos apresentados no “Teatro Moderno” :

1911         Arre Que é Burro! [teatro de revista]    
11/1911    Perdeu a Fala [teatro de revista]    
1912         A Lanterna [teatro de revista]    
1912        Vinte Milhafres    
1913        Ai Pá! [teatro de revista]    
1913        Confusão de Narizes [teatro de revista]    
1913        Loucuras de Amor    
1913        Pobreza, Miséria e Companhia    
1913        Os Dragões de Chaves [opereta]    
1/1913     Na aldeia [teatro de revista]   
3/1913     O diabo no convento    
 
12 /1913  Os Grotescos [teatro de revista] 
12/1913   Marquez de Contrabando [opereta]  
11/1915   Cura de Aldeia [opereta]
12/1915   Proezas d’um cabula
  
12/1916   Hora Fatal

14 de Dezembro de 1915

O “Theatro Moderno”, teve uma história e existência curtas, já que viria a ser demolido em 1918.

Entre 1961 e 1965 o nome de “Teatro Moderno”, seria de novo utilizado por uma Companhia teatral: “Teatro Moderno de Lisboa, Sociedade de Actores”

A Companhia do “Teatro Moderno de Lisboa”, que, entre 1961 e 1965, actuou no Cinema Império, em sessões às 18 horas, era composta por actores como: Cármen Dolores, Rogério Paulo, Ruy de Carvalho, Armando Caldas, Fernando Gusmão, Clara Joana, Fernanda Alves, Rui Mendes, Armando Cortez, Morais e Castro, entre tantos outros.

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa, The Berardo Collection

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