Restos de Colecção: Sociedade Nacional de Sabões

16 de outubro de 2016

Sociedade Nacional de Sabões

Foi numa parte da Quinta do Marquês de Marialva (D. António Luis de Menezes), confinada ao convento de S. Bento de Xabregas, à Rua Direita de Marvila e ao rio Tejo, que se instalou a “Sociedade Nacional de Sabões” (SNS), fundada em 1919 que resultou da união de várias indústrias que aqui laboravam, como a “Saboaria Nacional do Beato” da firma “Costa & Cruz” que ali se tinha instalado em 1912, apesar de já existir desde os finais dos anos 90 dos século XIX.

 

 

Anúncio no jornal “O Defensor do Povo”, em Dezembro de 1894

A criação da SNS foi consequência de em 1919, a empresa “Sousa & Companhia” e João Rocha, um importante industrial também ligado à saboaria , terem-se associado e formado uma poderosa indústria, criando a “Sociedade Nacional de Sabões, Lda” . As instalações iniciais foram aproveitadas das originais da extinta “Saboaria Nacional do Beato”.

     

 

 

Em 1945 leva a cabo uma profunda remodelação e aumento do seu parque industrial, o que a leva a construir uma série de novos edifícios :

Refeitório, biblioteca e serviços sociais
Parque para recreio do pessoal
Laboratório e serviços técnicos
Silos para oleaginosas
Fábrica de adubos
Caldeira de vapor e central eléctrica
Oficina de tanoaria
Fábrica de óleos
Parque para vasilhame
Armazém para reserva geral de óleos

A produção atingiu o seu auge nos anos 40 e 50 do século XX, tendo a ‘Sociedade Nacional de Sabões’ então adquirido este terreno sob a designação de “Quinta do Brito”.Foram demolidas todas as estruturas do antigo solar, para dar lugar a esta enorme unidade fabril que laborou durante várias décadas.

 

 

 

 

 

 

 

O detergente para lavar louça "Sonasol", criado em 1951, foi o produto mais famoso desta fábrica, e de Portugal. Era desta fábrica que saiam as marcas, “Margarina Chefe”, “Sabonete Beato”, “ Sabonete Mélior”, “Sabão Azul e Branco” e outros produtos igualmente famosos. Depois de 1951 fabricou também detergentes, óleos industriais e alimentares, rações e fertilizantes.

 

    

 

     

Em 1956 a ‘Sociedade Nacional de Sabões, Lda.’ entra numa parceria com a ‘CUF’ e a ‘Macedo & Coelho’ e criam a ‘Sovena’, em 1956, para comercialização de óleos vegetais e sabões.

Em 1961, a Sociedade Nacional de Sabões, ainda se apresentava próspera e chegou a estabelecer um contrato com a Colgate-Palmolive para a produção dos sabonetes Palmolive em Portugal. O dentífrico Colgate e os produtos para a barba Palmolive foram produzidos pela Colgate-Palmolive em linhas de produção instaladas na antiga fábrica em Marvila.

 

 

 

 

 

 

 

Em seguida e lançando praticamente um produto novo por ano vêm: Sabonete “Cadum” (1962), pó de limpeza “Ajax” (1963), escova de dentes “Colgate” (1964), dentífrico “Colgate Flúor” e esfregão “Bravo” (1965), shampoo “Palmolive” (1967), after-shave “Palmolive” (1968), limpa-vidros “Ajax” (1970) e limpa-tudo “Ajax” (1971).

                                                1960                                                                                       1968

 

Em 1974 chegou a ser o maior grupo privado português. A capacidade empreendedora e visão estratégica transformaram um negócio familiar num conglomerado industrial, pela mão de três gerações. Os grandes concorrentes eram outros gigantes como  a “Macedo & Coelho” e a “CUF - Companhia União Fabril” .

Área ocupada pela “Sociedade Nacional de Sabões”, em 1970

Em 1975 a fábrica produzia, para além do “Sonasol”, outros detergentes líquidos das marcas “Lavax”, “Lavax Lãs” e “Soflan”

A SNS no final dos anos 70 do século XX empregava cerca de 500 trabalhadores, sendo 15% mulheres e 85% homens.

Aos poucos a “Sociedade Nacional de Sabões” adaptou-se aos novos tempos, pelo que o mesmo espaço de laboração da fábrica de sabão, viria a transformar-se num parque industrial integrando variadíssimas empresas, associando-se a outras tantas, também ligadas ao mesmo «core-business». Em 1981, a SNS compreendia fábricas de óleos para fins alimentares (girassol, amendoim, soja, milho, etc. e industriais, indústria para fabrico de sabões e sabonetes, mistura de detergentes, ceras para soalhos, móveis, preparação de insecticidas, etc.

Empresas associadas no início da década de oitenta:

Sociedade Comercial Ultramarina - Óleos alimentares e lubrificantes
Previnil - Compostos Vinílicos
Sovena - Glicerina e óleos vegetais
Induve - Óleos vegetais para a indústria
Sonadel - Detergentes
Marintar - Fretes marítimos e aéreos
Psicofarma - Testes psicotécnicos
Sojornal - Jornais "Expresso" e "Tempo Económico"

Empresas integradas no Parque Industrial:

Vitamealo Portuguesa, SARL - Rações para animais
Fábrica Nacional de Margarina - Margarinas de uso doméstico e industrial
Sovendal - Produtos de alimentação e higiene
Mensor - Estudos económicos
Intermarca - Produtos de higiene e beleza
Ciesa - Publicidade
Synres Portugal - Resinas sintéticas
D' Oro Vonder - Batatas fritas
Penta - Publicidade

Em 1989 a multinacional alemã “Henkel”, comprou a área de negócio dos detergentes e lexívias “Sonasol” à “Sociedade Nacional de Sabões”. Nesta altura, o grupo integrava 25 empresas, empregava 1.500 pessoas e tinha vendas superiores a 20 milhões de contos (cerca de 100 milhões de euros), o que representava 0,2 por cento do produto interno bruto (PIB) português. Encerrada esta de Marvila, a “Henkel” ainda manteve uma fábrica em Alverca até 2004, acabando por transferi-la para Espanha.         

Instalações da “Quinta da Malvásia” em Alverca do Ribatejo

 

A “Sociedade Nacional de Sabões, Lda.” entrou em processo de falência no início dos anos 90 e de toda esta aventura sobrou apenas o mirante da Quinta do Marquês de Marialva. Seria decretada a sua insolvência em 1995 e o proceso finalizado em 1999.

A decisão tomada pela família Rocha dos Santos, na última década do século passado, de desinvestir no grupo “Sociedade Nacional de Sabões” e de diversificar as suas aplicações através do mercado de capitais, culminou com a criação, em 2004, da “Ongoing Strategy Investments”, presidida por Nuno Vasconcellos.

Apenas  o terreno antes ocupada pela S.N.S. foi adquirida,provisoriamente, pela empresa de construção “Obriverca, S.A.”. Contrato de compra que ficou sem efeito porque o projecto de urbanização previsto para o local foi suspenso.

fotos in: Hemeroteca Digital, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Instituto Camões

8 comentários:

Ricardo Santos disse...

Era miúdo quando entrei aqui pela primeira vez. Os "Sabões" como era conhecida a SNS, onde o meu Pai trabalhou, nos escritórios !

É um prazer fazer visitas e pesquisas neste Blogue !

josecaetano disse...

Foi aqui, onde o meu pai trabalhava como motorista, que iniciei a minha vida profissional como aprendiz de electricista, em meados de 1963 (ainda antes de completar os 14 anos). E por ali fiquei até 1970, quando fui para a tropa...

Reconheço muita gente que está nestas fotos e lembro-me das instalações como se fosse hoje !

Muito obrigado pela publicação deste inestimável e valioso registo histórico !

Vera Torres disse...

Gostaria muito de reencontrar os filhos dum operário da SNS-srCarvalho,que residia na Azinhaga dos Alfinetes.A sua filha Elizabete Carvalho terá agora cerca de 45 anos, trabalhou em nossa casa enquanto jovem no final dos anos 80 e recordamo-la com muita saudade.Seriam tv 5 ou 6 filhos.Gostaríamos muito de reencontrar a Elizabete Carvalho.Vera Torres e Vasco Rocha

Anónimo disse...

Desde que me conheço como pessoa, que o meu Pai sempre trabalhou nesta unidade fabril exactamente na, VITAMEALO.
Fui contemporânea da greve feita (há material informativo na, Ephemera - Biblioteca Arquivo) já por má administração.
Infelizmente acabou como acabou, e quando passo junto daquele espaço, correm-me as lágrimas de saudade das minhas recordações de infância e de mágoa, de como tudo é agora.

Victor Mendes disse...

Nasci em Marvila em 1961. O meu pai sempre trabalhou lá até ao final. José Maria chefe das caldeiras de vapor. Lembro-me do Armindo dos isolamentos do Muchanga das caldeiras. Os meus padrinhos também lá trabalharam. A Rosário e o Daniel. Andei na Afonso Domingues e costumava lá passar à porta. Às vezes deixavam-me ir até perto do meu pai. Outras vezes chamavam-no á portaria só para me ver.
Durante a greve cheguei a distribuir folhetos no combóio quando saia da Afonso.
Em 1979 estagiei na oficina de electricidade. Lembro-me do César. Não me lembro do nome dos outros. Cheguei a perder-me lá dentro tal era a dimensão das instalações. Também andava pela Vetamealo. Velhos tempos. Também conheci a quinta da Malvasia, moramos perto, desde 1965. Conheci pessoalmete o Senhor Beirão da Veiga, no palacete na zona da Apelação antes de se mudar para perto das Amoreiras. É triste ver tudo ao abandono, fábrica a Afonso....

josecaetano disse...

Caro amigo Vitos Mendes,
Como já referi antes, entrei para a SNS como aprendiz de eletricista em 1963 onde fiz a minha carreira profissional até 1970 quando fui para a tropa... Também estudei à noite na Afonso Domingues.
Lembro do Cézar Augusto Pombo da Cruz, assim como outros do meu tempo, o Zé Maria "Zé Dança", o Narciso, o Zé Carlos, o António Gonçalves, o Rogério, o encarregado "o gordo", etc.
Foi ali que me fiz homem e recordo esses tempo e todos com quem convivi com saudades.
Gostava de saber o que é feito deles, mas não é fácil...
Abraço a todos.

Unknown disse...

Caros contemporánios e potenciais colegas, reconheço as referências que expuseram, meu nome José Ferreira, 01/12/1971 aprendiz de serralheiro empregado nº 13 até 1989 que fui colocado na FNM em Unhos como eng. Técnico de máquinas até 11/07/1991, frequentei a Afonso domingues, ISEL e IST, posteriormente em multinacional franco/americana, atualmente reformado.
contacto: jrferreira_pt@yahho.com

Pedro disse...

Bom dia,
Na entrada da fábrica havia um grande painel de granito, uma escultura, alguém me sabe dar alguma informação e pormenores sobre este assunto?
Obg
Abraço,

Pedro