O restaurante típico e casa de fados “A Toca”, propriedade do fadista e guitarrista Carlos Ramos (1907-1969), e projectado pelo arquitecto Carlos Chambers Ramos (1897-1969), abriu na Travessa dos Fiéis de Deus, 34, no Bairro Alto, em 2 de Junho de 1959. Na sua inauguração, contou com com a presença de Maria Teresa de Noronha, José António Sabrosa e Alfredo Marceneiro, naquele que viria a ser um dos restaurantes típicos mais afamados do Bairro Alto.
Faziam, parte do elenco de “A Toca” : o guitarrista Jaime Santos, os violistas Alberto Correia e Alfredo Costa e as cantadeiras Maria Rosa Rodrigues, Natércia da Conceição e Noémia Cristina; como director artístico, Filipe Pinto.
Carlos Ramos (1907-1969)
Anúncio à sua inauguração em 2 de Junho de 1959
A propósito da inauguração o jornal “Diario de Lisbôa” noticiava:
«Abriu hoje, na Travessa dos Fiéis de Deus, 34, no Bairro Alto, mais um excelente restaurante típico: "A Toca" de Carlos Ramos, fadista cem por cento, que canta e se acompanha á guitarra, no seu excelente reportório. Sobre um interessante projecto de mestre Carlos Chambers Ramos, Carlos Eduardo Rodrigues construiu um estabelecimento agradável e cheio de conforto, com todas as condições para o fim em vista.
Para comemorar o acontecimento, Carlos Ramos ofereceu um "Porto de Honra" a numerosos convidados, entre os quais compareceram: sir Charles Stirling, embaixador da Grã-Bretanha, e sua esposa; o dr. César Moreira Baptista, secretário nacional da Informação; o dr. Jorge Felner da Costa, chefe da Repartição de Turismo do S.N.I.; muitas figuras do teatro, jornalistas, etc.»
Carlos Ramos com Francisco José e Alfredo Marceneiro
Por sua vez a revista "Plateia" escrevia, também, a propósito da inauguração:
«No dia da inauguração da sua "Toca" viu em seu redor imensas pessoas amigas, que lhe quiseram levar uma palavra de esperança e um abraço pelo empreendimento a que meteu ombros, em tão boa hora.
O cantador-guitarrista que tantas ovações tem recebido ficou vivamente impressionado com os votos das duzentas e tantas pessoas cujos abraços de amizade o comoveram e sensibilizaram.
(...) O popular poeta Frederico de Brito, a quem se deve já um sem número de felizes inspirações, em determinada altura, e num dos seus habituais improvisos, recitou uma quadra, que (e aqui vai um alvitre) deveria ficar para sempre gravada na pedra:
A «Toca» onde nós estamos
É p'ra dizer aos «ateus»
Que o fadista Carlos Ramos
Pertence aos «Fiéis de Deus».
(...) O guitarrista que um dia resolveu também cantar, saberá, como prometeu, não fazer do fado uma indústria.»
Carlos Ramos tornou-se proprietário de “A Toca” sete anos depois de se ter tornado artista exclusivo do restaurante típico "A Tipóia", ao lado de Adelina Ramos. Apesar de ser nesse seu espaço que regularmente, se escutavam as interpretações de Carlos Ramos, o fadista continuou a a participar em inúmeros espectáculos, em palcos, na rádio e na televisão e mesmo a colaborar com as Marchas Populares, como padrinho, em 1963, ao lado de Celeste Rodrigues na Marcha de Alcântara e, em 1966, com Maria do Espírito Santo, na Marcha do Bairro Alto.
Carlos Ramos, guitarrista
1960
Uma trombose ocorrida em 1964, faria terminar abruptamente com a carreira artística de Carlos Ramos. Morreria cinco anos mais tarde, a 9 de Novembro de 1969.
Última referência publicitária a Carlos Ramos actuando na “A Toca”, em 29 de Dezembro de 1964
28 de Outubro de 1967
Como a partir de 29 de Outubro de 1967, não tive conhecimento de mais publicidade de “A Toca”, presumo que terá encerrado definitivamente após esta data.
fotos in: Museu do Fado, Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa
1 comentário:
um grandissimo fadista, com uma voz especial. pena é que não existam em cd muitos dos seus fados do passado e quando aparecem em vinil estão em mau estado.
eu era pequeno e minha mãe ouvia muito em casa discos dele.
se alguém tiver por ai gravações antigas dele gostaria de efectuar intercâmbio das mesmas pois possuo muita coisa gravada deste fadista. mariosantosf54@gmail.com
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