A “Casa Africana”, propriedade da firma “Raymundo Seixas & Fonseca”, abriu as suas portas em 1872, nos nos. 33 a 37 da rua da Victoria, em Lisboa, nas lojas do prédio onde viria a ser inaugurado, em 23 de Fevereiro de 1879, o “Grande Hotel Duas Nações”, que fazia gaveto com a Rua Augusta.
A primitiva “Casa Africana”
14 de Dezembro de 1875 5 de Julho de 1877
Anúncio de 12 de Janeiro de 1896, depois de ampliada à Rua Augusta e já propriedade da firma “Loureiro & Paes”
Em 1904, era já propriedade da nova firma “Loureiro, Rumina & Azevedo, Lda.”, da qual era sócio-gerente Antonio Gonçalves d’Azevedo, que tinha adquirido a Manuel Ferreira da Cruz, administrador da massa falida da primitiva sociedade, que entretanto tinha falido. A "Casa Africana" muda de instalações para a Rua Augusta, 154-156, onde se viria a instalar, mais tarde , a "Alfaiataria Rosado & Pires, Lda."
Dois anúncios de 1905 antes da mudança de instalações
Crescendo sempre a afluência de clientela e tornando-se necessária satisfaze-la tanto quanto possível, os proprietários da “Casa Africana” mudaram o estabelecimento, então, para as lojas do prédio do outro lado (poente) da Rua Augusta 157-171, igualmente esquina com a Rua da Victoria, 66-80.
Em 1901 a "Casa Africana" é trespassada à firma "Manuel Freire da Cruz & C.ta", que deu início a um notável desenvolvimento. Desta sociedade faziam parte Manuel Freire da Cruz e seu amigo José Freire Cogumbreiros, comerciante e capitalista de Ponta Delgada, Açores. Sucessivamente a "Casa Africana" foi ocupando todoso os andares do prédio, e após grandes obras de transformação e adaptação, inaugurou, as renovadas instalações, no dia 14 De Dezembro de 1905.
Manuel Freire da Cruz
A propósito da inauguração das novas instalações, em 14 de Dezembro de 1905, o jornal “Diario Illustrado” noticiava:
«Os novos armazens da Casa Africana, fundada ha 33 annos, na rua Augusta, d'onde passou para o actual edificio, que tambem tem para alli uma fachada, tendo outra para a da Victoria e uma terceira para a do Arco Bandeira, ficaram hontem concluidas e serão hoje abertos ao publico.
O novo estabelecimento occupa todos os baixos da testa do quarteirão, anteriormente occupados pelas casas Gato Preto, Roda, Santos & Cardoso e Verol»
25 de Dezembro de 1905
As obras foram projectadas pelo engenheiro Hermenegildo Augusto Blanc. «Todas as installações dos novos armazens são de uma singeleza elegante, estylo inglez, plancados pelo fino gosto do sr. Blanc e executados com esmero pela Marcenaria Portugueza.».
No "Século Ilustrado" em 1938
Nos painéis das fachadas a famosa imagem de marca deste estabelecimento: o “Preto da Casa Africana” que transportava os embrulhos e embalagens dos clientes.
O famoso “Preto da Casa Africana”
«(...) por todos aquelles mostruarios e prateleiras se veem avalanches de sedas, lãs, velludos e outros tecidos caros.
Nas grandes vitrines destacam-se as mais lindas e finas rendas, os chapéos e confecções modelos, as pelles mais ricas, applicações, passemaneries, fitas , plumas, botões, etc. (…)
O sr. Azevedo estava deveras satisfeito, determinando serviços a uma legião de empregados, verificando que cousa alguma faltasse nos seus respectivos logares e captivando, com a sua comprovada gentileza, os representantes da imprensa, que convidou para visitar a importante Casa Africana, que, sem duvida, fica sendo uma das primeiras do genero no nosso paiz.»
Stand na “Exposição Industrial” de 1932 1944
“Casa Africana” por altura do concurso de montras da “Semana dos Inválidos do Comércio” em Junho de 1933
1907 1908
Cartão de descontos de 1956
Com a necessidade de expansão das suas instalações a “Casa Africana” inaugura em 1 de Outubro de 1932, as novas secções que vieram a ocupar os restantes três andares do edifício.
1963
1941 1954
1977
Em 1925 já tinha uma sucursal na cidade do Porto, na Rua 31 de Janeiro e em 1956 abre uma filial no “Centro Comercial do Cruzeiro” (primeiro Centro Comercial do país) no Monte Estoril.
1925 1959
A “Casa Africana” viria a encerrar definitivamente nos finais dos anos 90 do século XX. Hoje as lojas do mesmo edifício estão ocupadas pela “Zara”. Foto seguinte obtida a partir do “Google Earth”
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Hemeroteca Digital da CML, Delcampe.net
13 comentários:
Só ganhei coragem para entrar na Casa Africana já as portas estavam quase a fechar em plenos saldos para fecho. Lá por casa o nível económico não permitia compras por aqui e por isso sempre nos barrámos mentalmente de lá entrar, digo eu. Mas foi muito bom recordar uma loja que associao à meninice/adolescência (os Porfírios faziam mais sucesso a partir de determinada altura, mas aí eram os tamanhos xs que me faziam desistir)
D. Paula Lima
Grato pelo seu comentário.
A "Porfírios" era uma loja completamente diferente, mais virada para gente jovem e bem mais pequena.
Os meus cumprimentos
Trabalhei durante pouco mais de um ano nos escritórios da Casa Africana. Foi o meu primeiro emprego mas nem me lembro bem do ano. Talvez 1952, nem vinte anos tinha. Conheci então o principal sócio-gerente, Racine Freire da Cruz, de quem tenho as mais gratas recordações e a quem,infelizmente, nunca soube agradecer, em vida sua, todas as atenções que lhe fiquei a dever. é um remorso que me acompan hará até ao fim. Mário Matos e Lemos
Que descoberta engraçada que eu fiz: o meu antigo emprego.
Um dia li no jornal que precisavam de empregada, eu tinha alguma experiência tanto em sapatos como em roupa. Arrisquei e fui à entrevista. Éramos muitas e, uma a uma, eu viã-as a sair desoladas. Chegou a minha vez. Tremia e estava recatada com a minha timidez. Lembro-me de me perguntarem, se estava disponível no momento e à minha resposta afirmativa, mandarem-me descer e dirigir-me à secção de sapatos. Fiquei logo a trabalhar. O movimento era muito e acabei por vender imensos pares de sapatos. Depois disso, corri as várias secções, sempre com muito êxito nas vendas, o que deixava as mais velhas de sobrolho arreganhado.
Um dia eu, a Teresa e a Valéria, fomos chamadas ao 3º andar (?) ao escritório dos patrões. Pouco conhecia as minhas colegas e pouco conhecia os meus patrões, que eram tão temídos por todos os funcionários. Olhavamos as 3 umas para as outras pensando que era o nosso fim. Mas apenas nos foi informado que no dia seguinte iríamos fazer mudar para a loja do cruzeiro n o Monte do Estoril.
E lá fomos, onde nos aguardavam colegas antigos na casa: o Sr. Morais, o chefe; a Florinda e a Gina, que mais tarde foi minha madrinha de casamento e ainda hoje somos muito amigas, assim como da Valéria.
Passamos bons momentos e alguns muitos engraçados.
Tive conhecimento hoje desta página, pela Isabel Santos, minha grande Amiga e ex colega na Casa Africana do Estoril. Fomos selecionadas para inaugurar a Casa Africana no Cruzeiro, depois de ter sido submetida a um rebranding e dividida em três loja - cujo nome não me ocorre - mas que essencialmente serviam o segmento pronto a vestir de homem, de senhora e uma só para sapatos, malas e acessórios. Foi uma época muito engraçada daquelas lojas, entre 1984 e 89 (período em que lá trabalhei). Tivemos como Mestre a Virginia Coutinho (uma amiga inestimável), um elemento emblemático da Casa Africana, quer de Lisboa quer do Estoril, onde passou a última parte da sua vida profissional.
A Casa Africana era uma instituição, quer para os seus fincionários quer para a Sociedade em geral. Há gerações marcadas pela importância daquela loja no seu quotidiano.
Obrigada pela partilha deste acervo histórico tão valioso para nós.
Descobri hoje alguns comentários de algumas colegas da Casa Africana e fiquei muito contente porque me fez lembrar momentos felizes que lá vivi. Tenho saudades de todas as colegas, desde o empregado de escritório às de limpeza. Trabalhei lá desde 1981 a 1999. Primeiro trabalhei na caixa com a Rosália e com a Lena que ainda hoje continuam a ser minhardgdfgdgsds amigas. Depois trabalhei no escritório com a Isabel Maria e com a Mariza e ainda a Amélia. Por fim trabalhei na perfumaria e sou amiga da Rosa, e trabalhei também na perfumaria com a Lola e com a Alda. Ainda hoje sou amiga da Paula Cunha, da Conceição Pimenta, Conceição Freitas. Sinto muitas saudades de todas as colegas com quem trabalhei. Peço desculpa se me esqueci de alguém.
Eu sou a Conceiçao Freitas trabalhei na casa africana 24 anos até fechar Tenho muitas saudades de tempos muito bem passados ainda hoje me comovo quando la passo à porta ainda Tenho contacto com a Rosalia,Paula cunha,Ana Maria,Paula Silva, o costa,Leocadia, Isaura, bons tempos de amizade e de trabalho
Estou a pesquisar informações sobre a minha família e é bom ver que todos se recordam com carinho da Casa Africana e dos seus funcionários. (O Racine era o meu bisavô, infelizmente eu já não o conheci).
Gostaria que a Senhora D. Marta Freire da Cruz me dissesse quando faleceu o seu bisavô e onde está sepultado pois gostaria de lhe prestar a minha homenagem. Recordo-me também do irmão. o eng. Milton Freire da Cruz, com quem tive pouco contacto. Se a Senhora D. Marta Freire da Cruz estiver interessa, posso ofereceer-lhe um número, de 1956, do Boletim da Casa Africana
Boa tarde, o meu bisavó Racine está no cemitério do alto de São João num jazigo. É uma questão de perguntar à entrada qual o jazigo da família Freire da Cruz que eles saberão responder. Obrigada.
Boa tarde, o meu bisavô e a restante família estão no cemitério do alto de São João, num jazigo. Perguntando qual o jazigo dos Freire da Cruz à entrada eles saberão responder. Obrigada.
Conheci o Sr. Racine pois era amigo do meu pai e tive o privilégio de contactar com ele na Casa de Repouso da Casa Africana bas Azenhas do Mar, aí passei várias férias quandodeixou de ser para os empregados.Finais dos anos 50, na altura quem utilizava a Mansão era a família, os dois filhos a companheira do Sr. Racine e filha alguns filhos de empregados, tudo orientado pela D. Maria Luisa a sua companheira.Eu e o meu irmão tivemos o privilégio de aí passar férias que recordo com gratidão, criei ⁷amizade com o José Luis e o José Carlos Freire da Cruz, perdi o contacto quando o José Luis foi para o Porto estudar. Gostava imenso de saber algo sobre os dois se for possivel contactar Filipe Caetano Ramos nas redes sociais.
D.Marta Freire da Cruz provávelmente é neta do José Carlos ou do José Luis Freire da Cruz, eu virei regularmente ao blog mas de qualquer maneira e se fosse possível mandar-me um e-mail para luiscaetanoramos@hotmail.com agradecia.
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