O “Olympia” Kinema Teatro, foi inaugurado em 18 de Maio de 1912, na Rua Passos Manuel na cidade do Porto. Mandado construir por Henrique Ferreira Alegria, foi projectado pelo arquitecto João Queiroz.
Henrique Alegria, retornado do Rio de Janeiro, era dono da “Fundição Alegria & Cª”, e tinha-se interessado pela exibição cinematográfica, tendo sido a construção deste cinema, a sua primeira iniciativa nesta sua nova actividade. Acaba por ser integrado na empresa “Nunes de Matos & C.ª”- Invicta Film, fundada por Alfredo Nunes de Mattos no Porto em 1910, como director artístico, ou seja, como director de produção. Henrique Alegria tornar-se-á sócio de Alfredo de Mattos, na nova empresa “Invicta-Film, Limitada”, criada em 22 de Novembro de 1917. Em 1923, já em Lisboa, fundou a “Patria Film”, com Raul Lopes Freire.
Henrique Alegria Produtora portuense de filmes “Invicta-Film Limitada” fundada em 1910
A inauguração do então “Olympia” Kinema Teatro, causou burburinho entre as gentes do Porto, que se impressionaram com os jogos de água luminosos, o luxo dos acabamentos e a fachada da sala de espectáculos. O jornal “O Primeiro de Janeiro” de 21 de Maio desse ano, escrevia que estava-se perante uma “elegante” casa de espectáculos, elogiando a “harmonia dos detalhes”. O diário destacava, entre outros sinais de modernidade, o número impressionante de lâmpadas eléctricas do edifício, assinado pelo arquitecto João Queiroz, que tinha sido, igualmente, o autor do projecto do “Café Majestic”.
O cinema, com 600 lugares, ficava a dois passos do “Salão Jardim Passos Manuel”, o antepassado do “Coliseu” do Porto, e inaugurado em 19 de Dezembro de 1908. A Rua de Passos Manuel afirmava-se como uma zona de encontros e diversão, com vários cafés, botequins e salas de espectáculos. Foi no Olympia que se estreou, por exemplo, “Amor de Perdição”, de Georges Pallu, a 9 de Novembro de 1921, com uma pequena orquestra a tocar a partitura de Armando Leça.
Cartaz do filme mudo “Amor de Perdição” de 1921 e o realizador Georges Pallu
Mas não foi só de cinema que viveu o “Olympia”, onde também tiveram lugar alguns eventos musicais. Como aconteceu com o “Cinema Batalha”, este foi comprado, mais tarde, pela empresa “Neves & Pascaud”.
O “Olympia” ficou marcado por uma programação popular, do tipo de filmes de cowboys, pelo menos nos últimos anos da sua existência enquanto cinema, ao contrário dos cinemas “Trindade” e “Batalha”, que tinham mais cinema de autor. Nas décadas de 60 e 70 do século XX, o cinema já se encontrava em fase de decadência. Passava uma programação secundária, marcada pelos filmes de Karaté. Houve um altura em que passou cinema pornográfico, em paralelo com o “Teatro Sá da Bandeira".
1921
Interior do Salão “Olympia” depois das profundas obras de transformação em 1921
Programa e anúncio na revista portuense “Cinema” em 1932
Até á inauguração do “Olympia” Kinema Teatro, inaugurado em 18 de Maio de 1912, a actividade cinematográfica, mais relevante, e a abertura de animatographos e salas de cinema na cidade do Porto tinha sido a seguinte:
26 de Agosto de 1896 - No Teatro do Príncipe Real (Porto), é apresentado à Imprensa o “Animatographo Portuguez Pinto Moreira”; sessões públicas a partir do dia seguinte, com doze quadros, «todos de completa novidade e alguns de esplêndido efeito» (“Jornal de Notícias”).
10 de Novembro de 1896 – “Teatro do Príncipe Real” (Porto) apresenta no “Kinetographo Portuguez Paz dos Reis”, também operador com Francisco Magalhães de Bastos Júnior; “quadros de assuntos locais” (“O Comércio do Porto”).
2 de Novembro de 1896 - Primeira sessão do “Kinetographo Portuguez”, no Teatro do Príncipe Real (Porto), com a projecção de “Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança” (Rua de Santa Catarina, Porto) de Aurélio da Paz dos Reis e Francisco de Magalhães Bastos Júnior.
11 de Fevereiro de 1899 - É inaugurado o (cinema) “Teatro de São João”, na Rua de S. João da Praça; apresentando o “Audiographo e Visiographo Combinados”.
23 de Novembro de 1900 - O teatro “Águia d'Ouro” estreia “Cortejo Fúnebre do Saudoso Maestro Cyriaco Cardozo”, ocorrido em 16 de Novembro, com passagem na Praça da Batalha; reportagem por Baillac & Pigassou, do Royal Kosmograph.
8 de Setembro de 1906 - O teatro “Águia d'Ouro” estreia a actualidade “El-Rei de Portugal em Paris”, “em apresentação do Cinenematographo Pathé”.
23 de Dezembro de 1906 - No Largo da Cordoaria/Campo dos Mártires da Pátria, é inaugurado o “Salão High-Life”, pela empresa “Neves & Pascaud”; «elegante pavilhão, aos Clérigos», com Cinematographo Pathé, sendo proprietários Manuel Neves e Eduardo C. Pascaud.
30 de Março de 1907 - É inaugurado o «grandioso pavilhão» “Salão Cinematographico Portuense”, no Pátio Paraíso (ao Bonjardim) ou dos Bombeiros Voluntários - cuja banda toca no intervalo das sessões, quatro «a partir das 8 horas»; em Julho, passaria a chamar-se “Animatographo do Paraíso” e em Outubro, “Salão d'Elite”.
27 de Abril de 1907 - Na Rua Alexandre Herculano, é inaugurado o “Cine-Palais”, propriedade de Don Antonio Manresa.
8 de Julho de 1907 - É inaugurado o ”Salão Marquez de Pombal”, no Largo Marquês de Pombal/Rua da Constituição sendo empresário Armindo José Fernandes.
9 de Agosto de 1907 - Na Rua D. Carlos\José Falcão/Rua da Conceição, é inaugurado o “Salão Pathé”, com «uma série de portas inteligentemente combinadas».
Cinema “Olympia” nos anos 70 do século XX
No final da década de 80 do século XX, transformou-se em Bingo, «porque o cinema deixou de dar resultados e foi vendido». Depois dos problemas que os Bingos portuenses tiveram, fechou as portas sem perspectivas de futuro.
Juntamente com o “Trindade”, o “Passos Manuel” e o “Batalha”, o cinema “Olympia” retinha muita da magia cinematográfica que parecia demorada a ser recuperada. Sérgio Costa Andrade considerava que, para a abertura destas e outras salas de cinema históricas, seria necessária uma «alteração dos padrões de consumo e da própria vivência do centro da cidade». Contudo, não deixava de considerar que o “Olympia” seria dos últimos a entrar na equação. «Antes disso está o Batalha e o Teatro Sá da Bandeira», referia. E assim aconteceu.
Os novos inquilinos do “Olympia”, desactivado desde 2010, três sócios que pedem anonimato investiram 500 mil euros, e as obras começaram no início do Outono de 2013, tendo sido inaugurado a 22 de Janeiro de 2014.
O edifício ganhou novo élan e abriu como club premium com um conjunto de serviços que passam pela fidelização de clientes, tais como estacionamento privativo, porta exclusiva e camarotes individuais para clientes VIP. O must deste espaço é o “Olympia Privé”, uma área para clientes de cartão e de garrafa com bar restrito. O edifício manteve a fachada centenária como imagem da marca e lá dentro existe alta tecnologia do som e das imagens multimédia a passar. A localização também é de luxo, ao lado do “Coliseu” do Porto e no eixo noturno dos Clérigos.
Fotos in: Opsis, Hemeroteca Digital, Cinemas do Porto, Cinema aos Copos
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