A “Papelaria Fernandes” foi fundada em 1891, quando Joaquim Lourenço e o seu sobrinho Artur Lourenço fazem uma sociedade tomando de trespasse uma loja na então Rua do Rato, hoje Largo do Rato, em Lisboa.
O nome “Fernandes” foi herdado do anterior proprietário da loja, pelo facto dos clientes assim tratarem Artur Lourenço, o que levou levou os dois sócios a adoptar oficialmente a designação de "Fernandes & Companhia, Lda", em 1919.
1921
“Papelaria Fernandes”, no Largo do Rato
A designação manteve-se até 1957, data em que a empresa foi transformada em sociedade anónima e se passou a chamar "Papelaria Fernandes, SARL", designação até 1986.
A actividade industrial do grupo data de 1917, com o arranque da tipografia e do fabrico de sobrescritos e, mais tarde, com encardernação, litografia, gravura e cartonagem. Já a expansão da rede de lojas acontece a partir de 1928, com a abertura de um primeiro espaço na rua do Ouro.
“Papelaria Fernandes”, na Rua do Ouro, a partir de 1928, mesmo ao lado da “Papelaria Progresso”
Para consultar a história acerca da “Papelaria Progresso”, fundada por António Vieira” na Rua Áurea em 1908, consultar neste blog o seguinte link: “Papelaria Progresso”
1931 1947
Factura de 1955
O funcionário mais antigo da “Papelaria Fernandes”, José Pinto - funcionário há mais de 45 anos - recorda: «o cliente não mexia nos produtos. Ia ao balcão e pedia o que queria, nem que fosse apenas uma borracha. Até havia uma área dedicada apenas aos militares. Relembra como as filas na loja Largo do Rato, onde trabalhou a maior parte do tempo, estendiam-se a perder de vista à hora de almoço, à espera da abertura das portas às 15 horas»
Montras da loja no Largo do Rato
Loja da Rua do Ouro em 1968 1965
Os anos 70 do século XX, marcaram também a chegada das primeiras máquinas, começando a substituir o trabalho até então 100% manual. Mais tarde houve mesmo uma formação em computadores.
Em 1986, a empresa volta a mudar de designação, desta feita para "Papelaria Fernandes - Indústria e Comércio, SA", e a admissão à cotação na “Bolsa de Valores de Lisboa” dá-se um ano mais tarde. Em 1988, dá-se a entrada da “Inapa” no capital, accionista que passa a controlar a gestão da empresa. Assegura a sua reorganização orgânica, criando várias empresas, entre as quais a “Transfer” (transportes), a “Papelaria Fernandes - Lojas” e a “Fernandes Técnica - Desenho e Reprodução”.
A partir de 2000, a Inapa aliena a sua participação e é substituída pela “Fundação Ernesto Lourenço Estrada” e por Joe Berardo.
Loja do Largo do Rato
Loja da Rua do Ouro
Loja do Chiado, na Rua da Vitória
De referir que a empresa do universo “Papelaria Fernandes - Indústria e Comércio, S.A.” a “Fernandes Técnica - Desenho e Reprodução, S.A. “ manteve uma loja de cariz mais técnico na Rua Silva Carvalho, em Lisboa.
Nove anos mais tarde, a “Papelaria Fernandes” declarou insolvência em Abril de 2009. Em 25 de Agosto de 2010 encerra 12 das 14 lojas, tendo encerrado todas as lojas que detinha em Centros Comerciais. Restaram a loja no Largo do Rato e da Rua do Ouro. Em Outubro do mesmo ano arrancou um novo projeto, pelas mãos de um ex-acionista da Papelaria Fernandes, que não quis deixar morrer este negócio.
Em 13 de Dezembro de 2013, foi inaugurada a loja “Papelaria Fernandes/Moda”, nas antigas instalações da “Papelaria da Moda”, na Rua do Ouro, que se veio juntar às outras três já existentes.
Fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca Digital, Papelaria Fernandes
6 comentários:
A Papelaria Fernandes chegou quase a ter o monopólio da produção de artigos de papelaria em Portugal.
Os tempos mudaram e assim acabou uma grande empresa familiar.
Uma referência da minha adolescência, juventude e vida de estudante... «Na vida tudo passa»...
Caro José Leite,
Tenho andado arredado destas coisas dos blogues mas hoje aqui estou, de novo com o meu comentário.
Efectivamente isto é um país onde parece que tudo muda para ir ficando na mesma se não … pior. Até parece ter algumas semelhanças com o tão badalado (des)Acordo Hortugráficu!
Assim, alguém achou que a Rua do Rato (em 1931) não seria grande coisa e vai de transformá-la (1947) na Praça do Brasil (o Pedro Álvares Cabral lá mais acima, deve ter ajudado). Porém, outro alguém, em 1955 já tinha transformado aquilo num mero Largo.
Também vemos, em 1908, a Rua Áurea que decerto por ser de difícil pronúncia (embora lá tenha a placa toponímica) passou a Rua do Ouro!
Por último, parece-me faltar aqui uma referência à loja da Rua Silva Carvalho, mais dedicada à parte técnica.
Cumprimentos,
João Celorico
Caro João Celorico
Bem vindo a estas "lides" ...
Tanto nos anúncios publicitários como nas minhas modestas investigações, não tive conhecimento dessa loja que refere na Rua Silva Carvalho.
Fica aqui a sua preciosa informação.
Os meus cumprimentos
José Leite
Eu lembro-me bem dessa referida loja na Rua Silva Carvalho (situava-se em Campo de Ourique-Lisboa). Loja especializada em artigos para desenho; tais como: estiradores, canetas estilográficas, etc.
Bom dia, eu tive a oportunidade de trabalhar na loja do Largo do Rato, com o "chefe" Pinto o sr. Gustavo e o responsável pela loja o dr. Jorge Leal.
O que a maior parte das pessoas não sabe e não vê, são as traseiras da loja, que se estendem até ao Largo Hintze Ribeiro, onde funcionava num edifício de 2 andares e rés-do-chão a fábrica de envelopes, encadernação, corte, tipografia e litografia.No tempo em que lá estive pude "explorar" esse edifício desactivado, porque toda a fábrica tinha-se mudado para o Cacém, e era bastante triste percorrer o espaço e ver o abandono de máquinas e utensílios antigos de tipografia que deveriam estar em museu. Apesar de lá só ter estado 8 meses, foram tempos bem passados. Obrigado por não deixar morrer a memória do que já foi um império e desmoronou.
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