Nas características peculiares da cidade de Lisboa, ao longo dos séculos, em que sobressaíam : a densidade das construções, com recurso a materiais muito combustíveis; a falta de água e o seu insuficiente circuito de distribuição pela cidade (através de poços, fontes e chafarizes); a topografia das suas 7 colinas; a magreza do erário municipal; a rede precária de comunicações e logo a difícil localização do lugar do sinistro e os deficientes meios de combate e de organização, levam a que em 25 de Agosto de 1395, por decreto de D. João I a pedido da Câmara Municipal de Lisboa seja criado o primeiro corpo de bombeiros do país. O “Serviço de Incêndios”.
Ao longo dos séculos os Bombeiros Municipais de Lisboa foram sofrendo várias reformas e reorganizações até 1852.
Cronologia histórica:
25 Agosto 1395 - Carta de D. João I que confirma, a pedido da Câmara, medidas concretas para a prevenção e combate dos fogos em Lisboa. É o primeiro documento que se conhece referente à génese de um serviço de incêndios em Portugal.
1646 - A Câmara lisboeta contrata para o serviço de incêndios, pela primeira vez, um conjunto de trinta oficiais assalariados, entre carpinteiros, pedreiros e trabalhadores, e compra ferramenta para o mesmo efeito.
1681 - O Senado adquire na Holanda as duas primeiras bombas, para além de outras ferramentas como: dois arpéus, baldes de couro, machados, picaretas, enxadas, alavancas.
1683 - É publicado o primeiro regulamento do serviço de incêndios, com preceitos organizacionais e disciplinares rígidos.
1766 - É criado o lugar de capitão das bombas, atribuído ao mestre calafate Domingos da Costa. Terá sido o primeiro cargo de liderança do serviço de incêndios oficialmente instituído.
1794 - O Senado da Câmara cria o lugar de inspector-geral dos incêndios, que passa a ter também jurisdição sobre a inspecção dos chafarizes, nomeando para o cargo Mateus António da Costa, até então capitão das bombas. Determina ainda a Câmara que as matérias sobre o serviço de incêndios passem a ser da competência de um único vereador.
1834 - Institui-se a Companhia de Bombeiros de Lisboa, vulgarmente chamada do Caldo e Nabo.
1836 - Publicação da tabela dos sinais de incêndio, com o número de badaladas tocadas nos sinos das igrejas e a freguesia a que correspondiam, essencial para se localizar com maior precisão o local do sinistro.
1840 - Criação do pelouro dos incêndios na estrutura da Câmara Municipal de Lisboa.
Ao longo dos séculos os Bombeiros Municipais de Lisboa foram sofrendo várias reformas e reorganizações até 1852. Nesse ano foi promulgado um regulamento mais abrangente e minucioso sobre a prevenção e o combate a incêndios na cidade de Lisboa. No ano em que são adquiridas as primeiras bombas do sistema “Flaud”, e no âmbito desse regulamento o serviço de incêndios municipal passa a designar-se oficialmente “Corpo de Bombeiros Municipais de Lisboa”. Em 1901 dá-se a militarização do “Corpo de Bombeiros”, que passa da tutela do Município para a do Estado.
Em 1925, o Corpo, já novamente sob tutela do município, passa a denominar-se ““Corpo Municipal de Salvação Pública”. Em 1930 passa a denominar-se “Batalhão de Sapadores Bombeiros”, e em 1988 sobe de escalão para “Regimento de Sapadores Bombeiros”.
Quartel dos Bombeiros Municipais de Lisboa, no Largo da Graça
Quartel na Avenida dos Defensores de Chaves, em 1935
Quartel do “BSB -Batalhão se Sapadores Bombeiros” na Avenida D. Carlos I
Centrais telefónicas e de operações em duas épocas diferentes
Gabinete do comandante Museu
Quartel no Bairro da Encarnação
De seguida fotos de alguns tipos de viaturas utilizados por este corpo de Bombeiros ao longos dos tempos
Como já referi anteriormente, foi em ano de 1930, que o “Corpo Municipal de Salvação Pública” passou a “Batalhão de Sapadores de Bombeiros” - BSB. Em 1928, existiam no CBML 46 veículos de tracção mecânica, 40 de tracção animal e 7 de tracção braçal.
Com a passagem do “Corpo Municipal de Salvação Pública” a “Batalhão de Sapadores Bombeiros”, e no ano em que completava 535 anos de existência, o serviço de incêndios sob a jurisdição da Câmara Municipal de Lisboa, sofreu novo incremento, verificando-se, por exemplo, a aquisição de 29 novas viaturas.
A renovação do equipamento dos bombeiros originou um concurso ao qual responderam 14 fabricantes, tendo ganho a “Mercedes-Benz”, juntamente com equipamento específico de combate a incêndio de “Carl Metz”.
Na foto anterior, temos na primeira linha, da direita para a esquerda, o carro do comandante, o de comandante de companhia e um dos carros de subalterno de serviço. Todos contêm material de combate a incêndio, na devida proporção. Na segunda fila, um pronto-socorro, uma escada “Magirus” e, provavelmente, um auto-tanque.
Os 29 carros tinham a seguinte tipologia:
Carros do primeiro e segundo comandante - 2
Carros dos comandantes de companhia - 5
Carros dos subalternos de serviço - 5
Prontos-socorros - 15
Auto-tanques – 2
Foi, também, neste ano a 18 de Agosto de 1930, que foi fundada a “Liga dos Bombeiros Portugueses”, passando a ser confederação das associações e corpos de bombeiros de qualquer natureza, voluntárias ou profissionais.
Estas viaturas estiveram expostas no Terreiro do Paço, antes do “Desfile de Sapadores Bombeiros em 1931”
Concentração das viaturas no Terreiro do Paço para o desfile de Sapadores Bombeiros de 1931
Homenagem da Revista Municipal (de 1940) aos Sapadores de Bombeiros
Inventário do Batalhão de Sapadores Bombeiros em 1940
Ataque a incêndio do Largo de Camões
Outras viaturas e equipamentos mais recentes
«Eis como o RSB é a mais antiga corporação de bombeiros em Portugal, que prossegue junto dos lisboetas desde esses tempos medievais o mesmo serviço público da segurança de pessoas e bens e se destaca como herdeiro de uma tradição consolidada por séculos de evolução, a par do pulsar da própria Lisboa nos seus ritmos de crescimento populacional e urbanístico.
Nesse sentido, «Serviço de Incêndios» (desde 1395), «Companhia da Bomba» (desde 1834), «Corpo de Bombeiros Municipais de Lisboa» (desde 1852), «Corpo Municipal de Salvação Pública» (desde 1925), «Batalhão de Sapadores Bombeiros» (desde 1930) e «Regimento de Sapadores Bombeiros» (desde 1988), tudo são designações de uma única e mesma estrutura, a que correspondem diferentes períodos de renovação e modernização institucional, formalizados por medidas legislativas concretas, sobretudo de carácter disciplinador (quase sempre regulamentos).»
Outras corporações de bombeiros, igualmente históricas da cidade, são os “Bombeiros Voluntários Lisbonenses”, fundados em 12 de Dezembro de 1910, e os “Bombeiros Voluntários da Ajuda”, fundados em 10 de Abril de 1880, cujos artigos publicados neste blog podem ser consultados nos seguintes links:
- “Bombeiros Voluntários da Ajuda”
- "Bombeiros Voluntários de Lisboa"
Fotos in: Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa
2 comentários:
Meu caro José Leite:
Com grande prazer li atentamente este seu trabalho sobre os sapadores bombeiros de Lisboa.
Desde muito miúdo passava muitas horas no quartel da D. Carlos I, onde oacientemente me explicavam todo aquele funcionamento.
Os meus cumprimentos
João Cotrim
Caro João Cotrim
Muito agradeço o seu amável comentário.
Os meus cumprimentos
José Leite
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