O Cine-Teatro “Luísa Todi” foi inaugurado, na cidade de Setúbal, em 24 de Julho de 1960, pelo Presidente da República Almirante Américo Thomaz.
A história deste cine-teatro remonta a 1 de Agosto de 1897, altura em que foi inaugurado o seu antecessor o “Theatro Rainha D. Amelia”, com um vasto programa, do qual faziam parte a cançoneta “Ventura, o Bom Velhote” e as encenações “O Livro de Mesmer” e “A Barcarola”, esta última do autor setubalense Arronches Junqueiro.
Este teatro, considerado por Sousa Bastos, no “Diccionario do Theatro Português”, publicado em 1908, como sendo «talvez a mais bonita e elegante casa de espetáculos de Portugal», a rivalizar, na época, com a sala homónima de Lisboa, foi construído pela “Empresa de Recreios Setubalense” e as obras de construção tiveram início a 4 de Outubro de 1894, sob direção do arquiteto italiano Nicola Bagaglia. O edifício era iluminado a gás (“Bico Bauer”) tendo a sala 222 lugares na plateia, oito frisas, 17 camarotes de primeira ordem, outros dez de segunda ordem, dois balcões e galeria de fundo.
Interior do “Theatro Rainha D. Amelia” / ”Teatro Luiza Todi”
Os cenários eram da autoria dos artistas Eduardo Machado, João Vaz, Francisco Augusto Flamengo e Augusto Pina. Dos elementos decorativos que recheavam aquele teatro, sobressaem, entre outros exemplos ornamentais, o artístico pano de boca, concebido pelo pintor setubalense João Vaz e que hoje integra o acervo do Museu de Setúbal/Convento de Jesus.
Após a implantação da República em 1910, o “Theatro Rainha D. Amelia” mudou de nome, passando desde Janeiro de 1911 a denominar-se “Teatro Avenida”. O edifício atravessou um período de degradação das instalações recebendo, em 1915, a “Academia Sinfónica de Setúbal”, que rebatizou esta sala de espectáculos de “Luíza Todi”.
“Teatro Luiza Todi”
Recordo que Luíza Todi (1753-1883) foi uma cantora lírica nascida em Setúbal. Luíza Rosa Aguiar Todi, que tinha a capacidade invulgar de cantar com a maior perfeição e expressão em francês, inglês, italiano e alemão, é considerada a meio-soprano portuguesa mais célebre de todos os tempos. No seu “Tratado da Melodia”, Anton Reicha, considera Luíza Todi como «a cantora de todas as centúrias», ou seja, «uma cantora para a eternidade».
Consagração de Luiza Todi, em Veneza em 1791
Monumento a Luiza Todi, em Setúbal
Em Maio de 1918, depois de ter encerrado ao público, o “Luíza Todi” reabriu modernizado, no formato de cine-teatro, e já com instalação da rede elétrica no edifício. No entanto, a fase era de decadência e o teatro chegou a ser alvo de vandalismos tendo, posteriormente, sido adquirido por Raul Perfeito dos Santos que reparou, remodelou e entregou o edifício à “Empresa Rosa Albino”. Depois da morte do empresário José Maria da Rosa Albino, o cine-teatro deixou de ter atividade artística e o edifício começou a apresentar sinais de ruína. Durante algum tempo ainda serviu de sede da “Sociedade Musical e Recreativa União Setubalense”.
Outro grande polo de cultura popular em Setúbal no início do século XX
Adquirido, em 1958, pela “CUF - Companhia União Fabril”, o Cine-Teatro “Luíza Todi” foi demolido para, em seu lugar, se construir o actual edifício, igualmente um cine-teatro. À total demolição de uma sala de inspiração italiana, sucedeu o Cine-teatro “Luísa Todi”, de traça modernista, desenhada pelo arquiteto Fernando Silva, responsável por outros projectos como o Cinema “São Jorge” (1950) e Hotel “Sheraton” (1972), ambos em Lisboa.
Demolição em 1958
Após 2 anos de construção, no dia 24 de Julho de 1960, seria oficialmente inaugurado pelo Presidente da República Almirante Américo Tomás, ministros do Interior, da Economia e da Educação Nacional, além do Presidente da Câmara e Governador Civil de Setúbal. Abriria ao público a 25 de Julho de 1960, exibição do filme “Os Dez Mandamentos”, de Cecil B. DeMille, mo ano em que Setúbal comemorava o primeiro centenário de elevação a cidade.
A propósito da sua inauguração o "Diario de Lisbôa" noticiava:
«A inauguração do novo Teatro Luísa Todi, em Setúbal, com a presença do Chefe de Estado, de ministros e do sr. cardeal-patriarca, constituiu um notável acontecimento. Receberam as entidades oficiais em nome da empresa proprietária, o sr. dr. Jorge de melo e sua esposa, e o programa do espectáculo foi brilhante.
O cantor Armando Guerreiro, de Setúbal, cantou acompanhado pela Orquestra da Emissora Nacional. João Villaret recitou versos de Bocage e, de Paris, veio expressamente Jaqueline Charrat, que dançou a "Morte do Cisne", todos entre grandes aplausos.»
O Cine-Teatro “Luísa Todi” antes das obras de requalificação que dariam lugar ao “Luísa Todi - Fórum Municipal”
O actual “Luísa Todi - Fórum Municipal” abriu as suas portas em 15 de Setembro de 2012, completamente modernizada e dotada de uma panóplia de valências necessárias para tornar possível o acolhimento de eventos de diferentes estilos artísticos, assim como iniciativas com outras características, tais como congressos e seminários.
Ao longo dos anos, o actual “Luísa Todi - Fórum Municipal” beneficiou de vários investimentos no sentido de se modernizar a sala e a qualidade do serviço cultural prestado. O mais significativo realizou-se com as profundas e complexas obras de remodelação iniciadas em 2009, segundo um projecto de Paulo Ramos e Cidália Worm, do gabinete “ETU - Espaço, Tempo e Utopia”, a partir de um plano desenvolvido pelo arquiteto municipal Sérgio Dias, que culminaram com a reabertura da sala, a 15 de Setembro de 2012, com capacidade para 634 espectadores, completamente renovada e modernizada, mantendo, contudo, as linhas arquitectónicas que se tornaram um ícone na cidade de Setúbal.
“Luísa Todi - Fórum Municipal”
Bibliografia: “Luísa Todi - Fórum Municipal”
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Luísa Todi-Fórum Municipal, Crónicas do Professor Nuno Sottomayor Ferrão
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